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Coluna | Carlos Magalhães

O futuro das igrejas no digital

Embora existam desafios, também há oportunidades para a igreja no mundo digital pós-pandemia


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O envolvimento pessoal e preocupação com as necessidades do próximo deve ir além das fronteiras do digital (Foto: Shutterstock)

Recentemente, um amigo me procurou muito preocupado. Ele percebeu que vários membros haviam deixado sua igreja durante a pandemia. Eles não só não retornaram ao templo físico, mas também não aceitaram ser visitados ou receber qualquer outro tipo de contato.

É possível que a preocupação com o novo coronavírus ainda mantenha muitas pessoas isoladas em suas casas por mais algum tempo, porém é fato que muitos abandonaram a fé no último ano. David Kinnaman, do Instituto Barna, sugere que 20% das igrejas norte-americanas terão fechado definitivamente suas portas até o início de 2022. Estudos estimam que 30% dos cristãos abandonaram as igrejas entre 2020 e 2021.

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A verdade é que a frequência à igreja já vem diminuindo há mais de uma década. As coisas realmente mudaram, mas a Covid-19 não foi a única responsável por elas. A pandemia foi apenas a gasolina jogada em algo que já estava queimando. Isso significa que o coronavírus não criou o fenômeno dos “desigrejados”; apenas o acelerou.

Adaptar-se à nova realidade

Mas, retornemos à preocupação do meu amigo. A nova realidade exige que entendamos algumas coisas. Queiramos nós ou não, muitas pessoas estão buscando o modelo de igreja mais conveniente para elas. Algumas não querem fazer o esforço de sair de casa, enfrentar trânsito ou ter que buscar uma vaga para estacionar o carro. Também estão buscando uma religião mais individualista e que evita o contato, às vezes conflituoso, com outras pessoas.

Não restam dúvidas de que as igrejas da atualidade terão um desafio enorme para trazer as pessoas de volta para a comunhão nos templos. Mas acredito que assim como organizações seculares aprenderam a sobreviver na realidade física e digital, as igrejas também o farão, principalmente por sua nobre missão e pela ajuda do Espírito Santo. Em parte, isso já tem sido visto, principalmente com o surgimento de novos modelos de igrejas.

Novos modelos de igreja

Em artigos anteriores, exploramos o conceito de igreja fidigital ou híbrida. Vimos como uma igreja que possui um templo físico pode também atuar no mundo digital, e como através dos cultos online, recepção e discipulado digital, pode manter a conexão entre os membros e o cumprimento da missão. Porém, além desse modelo ainda existem outras possibilidades que estão surgindo e sendo experimentadas por várias denominações cristãs.

Igrejas primeiro digitais (digital hoje, física amanhã)

Há igrejas que nasceram sem templos. Elas são resultado de uma estratégia de crescimento e plantio de igrejas, que inicia no ambiente digital e com o tempo se torna também presencial. Inicialmente, elas criam conteúdos e experiências no mundo online, e são direcionadas a uma determinada região ou grupo específico de pessoas. Depois da fase digital inicial, alugam espaços físicos para que os membros digitais também possam se envolver e interagir fisicamente.

Igrejas somente digitais

Algumas igrejas norte-americanas e europeias viram suas receitas de ofertas e dízimos caírem durante a pandemia. No entanto, os custos com o aluguel e manutenção se mantiveram ou cresceram. Por isso, algumas encontraram no modelo apenas digital a solução para se manterem vivas. Mesmo quando a pandemia estiver controlada, elas pretendem continuar 100% digitais.

Pontos positivos em comum

Esses dois modelos de igreja, primeiro digital e somente digital, utilizam fortemente as ferramentas e recursos da Internet. Possuem o alvo de multiplicação em mente, sempre centradas em torno de técnicas de criação de discípulos e na mobilização de pessoas para compartilhar sua fé no mundo digital. Algumas delas tem como objetivo alcançar grupos específicos, que não poderiam ser alcançados de outra maneira.

Incertezas

Ainda existem muitas dúvidas sobre esses novos modelos de igreja. As 100% digitais possuem embasamento bíblico? É algo culturalmente aceito? Como seriam realizados as cerimônias do batismo, casamento e Santa Ceia?  Essas questões estão sendo discutidas por teólogos e líderes de denominações ao redor do mundo. Embora ainda que não exista um consenso sobre todas essas questões, alguns pontos serão esclarecidos a partir da experiência prática ao longo dos anos.

Reimaginando as igrejas

Fato é que reimaginar o futuro das igrejas é uma tarefa bem difícil, porém essencial. Ainda não sabemos se as igrejas fidigitais - ou as que migrarem para um modelo parcial ou totalmente digital - serão bem-sucedidas em atrair e reter seus membros. Mas podemos ter certeza de que as igrejas que mantiverem seu foco na missão dada por Cristo em Mateus 28: 19-20 terão Sua companhia e liderança.

Nem físico, nem digital, mas pessoal

A pandemia deixou claro que o termo igreja e templo não são sinônimos. Embora o objetivo final da igreja não seja o de construir edifícios, também não é o de ser uma celebridade digital. Nossos edifícios e a nossa estratégia digital são meios para o fim, não o fim. O sucesso das nossas igrejas e o retorno dos que se afastaram durante a pandemia dependerá de quão centrados estaremos em entender e atender as necessidades das pessoas.

Por isso, deixo algumas sugestões que enviei para aquele meu amigo que mencionei no início deste artigo.  Espero que elas possam ser úteis e ajudar na sua estratégia de trazer de volta e ao convívio da igreja aqueles que se afastaram:

  1. Respeite. Pode ser que alguns ainda evitem a proximidade física, então respeite e ofereça outras formas para que os afastados se conectem com a igreja de forma digital;
  2. Convite pessoal e individual. Peça aos membros regulares que enviem convites personalizados e mensagens diretas aos afastados. Um amigo convidando outro amigo para retornar dará mais resultado do que se a igreja ou o pastor fizer isso;
  3. Foque nas pessoas, não em programas. Desenvolva programas presenciais ou eventos digitais que promovam a interação entre as pessoas. Palestras e cultos online são importantes, mas podem ser muito frios e passar a ideia de discurso, não de diálogo;
  4. Atenda as necessidades. Pesquise quais são as necessidades daqueles que se afastaram. Estão doentes, preocupados, depressivos, estressados, desempregados, em alguma crise familiar? Se interesse por eles e encontre maneiras de ajudá-los;
  5. Ore. Crie grupos de oração para interceder por essas pessoas.

Referências

https://www.barna.com/research/changing-state-of-the-church/

https://thechurch.digital/digital-only-churches

https://stadiachurchplanting.org/phygital/

Spiritually remote: How the pandemic is affecting already declining church attendance: https://www.centredaily.com/news/local/article247989585.html

Carlos Magalhães

Carlos Magalhães

Igreja Conectada

Como levar a mensagem de Cristo ao maior número possível de pessoas usando a tecnologia digital

Graduado em Publicidade e Propaganda, é mestre em Administração pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e por anos atuou no segmento de e-Health. Tem se dedicado ao desenvolvimento de estratégias de evangelismo na internet há mais de 10 anos, e atualmente é o gerente de Marketing Digital da sede sul-americana da Igreja Adventista.