Tenho câncer. E agora?
O diagnóstico não é uma sentença de morte. Conheça as possibilidades de tratamento e dicas para enfrentá-lo
O câncer é o principal problema de saúde pública no mundo e está entre as quatro maiores causas de mortes prematuras (antes dos 70 anos de idade) na maioria dos países. A incidência e a mortalidade pela doença vêm aumentando, em parte pelo crescimento e envelhecimento populacional, assim como pela mudança na distribuição e na prevalência de fatores de risco, especialmente os associados ao desenvolvimento socioeconômico.
Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), a previsão de novos casos da doença no Brasil para o triênio 2020-2022 gira em torno de 625 mil a cada ano. Verifica-se, também, uma transição dos principais tipos de câncer observados nos países em desenvolvimento, com a diminuição daqueles associados a infecções e o aumento dos tipos relacionados à melhoria das condições socioeconômicas e a consequente incorporação de hábitos urbanos (sedentarismo, alimentação inadequada, etc.). Por outro lado, os últimos anos foram marcados por avanços importantes no desenvolvimento de novas terapias oncológicas, cada vez mais efetivas e com menores efeitos colaterais.
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Apesar disto, receber um diagnóstico de câncer ainda pesa. Muitos pacientes saem do consultório em pânico e com muitas incertezas, imaginando desdobramentos que não, necessariamente, são verdadeiros ou prováveis de acontecer. Esta ansiedade é fruto de mitos ou relatos de pessoas com contextos clínicos diferentes, não refletindo a realidade individual, visto que cada paciente tem uma doença única e nunca deve se comparar à história de outro. As principais dúvidas giram em torno das chances de cura, efeitos colaterais do tratamento e como este diagnóstico impactará na sua rotina. Tudo isso pode e deve ser respondido pelos médicos e demais profissionais da saúde envolvidos no atendimento, evitando, assim, informações não confiáveis, mesmo que de pessoas bem intencionadas.
Após o diagnóstico, é necessário entender o perfil do câncer para, assim, recorrer às melhores armas para combatê-lo. Hoje isso é possível com o mapeamento genético e o avanço de técnicas laboratoriais. Outra etapa fundamental é o estadiamento, que são exames que investigam onde o câncer pode estar além daquele órgão primário que o gerou. Nesta fase, também será identificado o seu estágio (inicial ou avançado), que define se o tratamento terá intenção curativa ou paliativa.
Há diversas terapias disponíveis atualmente, desde as mais antigas e consagradas, como cirurgia e quimioterapia, até as mais modernas e tecnológicas, como a imunoterapia, terapia alvo, radiocirurgia, cirurgia robótica e procedimentos por radiointervenção. Cada uma delas tem suas indicações, benefícios e riscos. Mesmo as terapias paliativas podem ser efetivas para controlar os sintomas, inibir o avanço da doença e melhorar a qualidade de vida do paciente, e até mesmo alguns casos de metástase podem se tornar crônicos, graças a elas. Em resumo, o diagnóstico do câncer, independentemente do estágio, não deve ser entendido como uma sentença de morte, pois sempre é possível algum tratamento e/ou ajuda ao paciente.
Dicas de ouro para quem teve o diagnóstico de câncer
Entenda sua doença. É muito importante compreender seu diagnóstico, prognóstico, fases do tratamento e seus efeitos colaterais. Para isto, construa uma relação de confiança com seu médico. Mesmo que tenha sido identificado um estágio avançado de câncer, busque saber as opções de terapia para ter o controle da situação.
Mantenha um estilo de vida saudável. Alimente-se bem todos os dias, investindo em frutas, legumes, vegetais e grãos. Se possível, diminua o consumo de açúcares, carne vermelha, gorduras e produtos industrializados. Beba mais água. Seja ativo, praticando exercícios físicos moderados como caminhada, natação e hidroginástica (converse com seu médico antes de iniciar qualquer atividade).
Integre-se com a equipe. Os tratamentos para o câncer são cada vez mais complexos e, portanto, mais completos. Oncologistas, radioterapeutas, enfermeiros, nutricionistas, fisioterapeutas e assistentes sociais trabalham juntos para individualizar a terapia, aumentando as chances de sucesso. Converse abertamente com a equipe que te acompanha sobre suas dúvidas e anseios; leve suas anotações para não esquecer de algo importante.
Aceite ajuda e tenha uma rede de apoio. O afeto traz uma força extra que lhe ajudará a transpor as dificuldades. Esse suporte pode vir da família, dos amigos, dos colegas de trabalho e de comunidades, como a igreja.
Seja otimista e tenha fé em Deus. Um estudo elaborado pela Universidade de São Paulo (USP) mostrou que a religiosidade fortalece os pacientes que lutam contra o câncer. Já outra pesquisa, desenvolvida pela Universidade de Duke, nos Estados Unidos, constatou que pacientes que se valem de práticas religiosas apresentaram 40% menos chances de sofrerem depressão durante o tratamento, indicando que a fé representa um reforço ao sistema imunológico.
Dia Mundial de Combate ao Câncer
No ano 2000, a União Internacional para o Combate ao Câncer (UICC), com o apoio da Organização Mundial da Saúde (OMS), estabeleceu o dia 4 de fevereiro como uma data para mobilizar a comunidade internacional nessa luta. O objetivo é conscientizar a sociedade sobre o tema para reduzir os estigmas e as injustiças causadas pela doença.
Em se tratando de prevenção, vale ressaltar que o desenvolvimento de bons hábitos, como uma alimentação saudável, a prática de atividades físicas regulares e a abstenção de bebidas alcoólicas e de tabaco, é capaz de reduzir significativamente o risco de diversas neoplasias e doenças cardiovasculares, sendo, portanto, uma importante medida de prevenção do câncer. Tais atitudes devem ser estimuladas desde a infância, a partir do exemplo dos próprios pais, familiares e da comunidade ao redor. Nesta faixa etária, além de serem construídos os hábitos de vida, a exposição a fatores ambientais pode afetar a estrutura ou a função de órgãos, tecidos ou sistemas corporais, interferindo fortemente no futuro da saúde do indivíduo.
Tatiana Barros, Gustavo Buscacio e Rafael Ruback são médicos do Serviço de Oncologia do Hospital Adventista Silvestre.