Esforço colaborativo impulsiona solidariedade durante a pandemia
Conheça histórias de pessoas que fazem a diferença na vida do próximo em meio à crise econômica e sanitária desencadeada pela covid-19
Solidariedade. O que esta palavra significa para você? Uma das definições deste termo, do Michaelis Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa, é: “Sentimento de amor ou compaixão pelos necessitados ou injustiçados, que impele o indivíduo a prestar-lhes ajuda moral ou material. Um estudo recente aponta que quase 117 milhões de brasileiros não se alimentam como deveriam, com qualidade e em quantidade suficiente.
Destes, 19 milhões não tem nem o que comer. É nesse contexto, que não é novo, mas que foi agravado pela pandemia do novo coronavírus, com economias fragilizadas e o aumento das desigualdades sociais, que gestos solidários podem ser determinantes para mudar a realidade de quem está próximo a você e até de quem está do outro lado do mundo.
Leia também:
- Mobilizados em várias frentes, voluntários adventistas doam mais de 40 toneladas de alimentos
- Aposentada desce mantimentos por uma corda a fim de ajudar necessitados
É o caso do desenvolvedor de software Kaito Queiroz, 29, que mora em Amsterdam, na Holanda. Ele deixou o Brasil em 2019, quando recebeu uma proposta de trabalho de uma empresa holandesa. Ao ler as notícias sobre o desemprego e a crise econômica no território brasileiro, Queiroz decidiu ajudar. “Também me motivei por um discurso do Rochdi Darrazi, fundador da empresa Boldking, onde eu trabalho atualmente. Ele trouxe a ideia de que 'se está indo bem na vida, por que não dar algo em retorno para a sociedade?', então eu decidi que eu deveria agir de alguma forma”, relembra.
Logo em seguida, ele deu início a uma campanha de arrecadação de fundos via e-mail, WhatsApp, Instagram e Facebook. Os recursos seriam destinados à compra de cestas básicas para ser entregues a pessoas da sua região de origem. “Porém, como eu não moro no Brasil, eu precisava contar com a ajuda de alguma instituição séria que teria estrutura e voluntários que garantissem que os fundos arrecadados iriam para as pessoas que mais necessitam e não parasse nas mãos de instituições corruptas. Foi então que me veio o nome da Ação Solidária Adventista (ASA)”, esclarece.
Queiroz se refere a uma frente da Igreja Adventista do Sétimo Dia, responsável por diversas ações de apoio e serviços de assistência social que os templos realizam em favor do próximo.
Ele não é membro da denominação, mas conhecia o trabalho da ASA pelo irmão, André Marques, que frequenta as reuniões. Para a diretora do departamento, Terezinha Pimentel, a ajuda foi uma ótima surpresa. “A gente já conseguiu ajudar 26 pessoas até agora com o que foi enviado, e eu sei que já chegou mais recursos pra ajudar mais gente”, conta animada.
Pizza do bem
E quando o auxílio não chega, o jeito é improvisar. Na igreja do Iguape, distrito Alto Boqueirão, em Curitiba, uma parceria entre o Ministério Jovem e o Ministério Pessoal foi o caminho encontrado para conseguir recursos para a ASA.
De acordo com o diretor da ASA local, Fábio Costa, os voluntários apostaram na venda de pizzas. Para potencializar o lucro, os ingredientes foram arrecadados por meio de doações junto aos membros. “O objetivo era vender pelo menos 100 pizzas, mas, acabamos vendendo 190”, detalha. O sucesso foi tanto, que pessoas de lugares distantes compraram para ajudar e optaram por doar as encomendas que não conseguiriam retirar. As entregas foram realizadas em sistema drive-thru e o resultado foi a arrecadação de aproximadamente R$3.500, repassados para o departamento.
Bênção compartilhada
No início de novembro do ano passado, a situação da Ação Solidária Adventista da igreja adventista Central de Guaratuba era complicada. “A gente sempre fazia bazar para arrecadar dinheiro para as cestas básicas, mas com a pandemia não pudemos mais fazer”, explica a diretora da ASA, Dilce Castro. Enquanto estava preocupada em como faria para conseguir os donativos necessários para ajudar as pessoas mais carentes no Natal, ela recebeu uma ligação que animou toda a equipe.
O telefonema era de um membro da igreja, Edmilson Silva, que sensibilizado com a situação relatada por ela, sentiu o desejo de ajudar. “Na nossa vida nunca faltou comida, mas também não foi fácil. Porém, nos últimos dois anos tivemos muitas bênçãos, mesmo com a pandemia. E vendo a situação da igreja, resolvemos ajudar”, relembra.
Segundo ele, há muitas outras pessoas que podem fazer a diferença, bastaria renunciar à uma saída no final de semana. A pequena atitude já teria um grande impacto na vida de outras famílias. “A pessoa que doa é que é mais abençoada pela felicidade de ajudar os outros”, garante Silva, que continua compartilhando as bênçãos que tem recebido.
Seu gesto de solidariedade tem garantido o alimento na mesa de cerca de 60 famílias, há cinco meses. A maioria dos beneficiados trabalha como carrinheiro na coleta de recicláveis e foram seriamente afetados pela crise sanitária e econômica.