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Coluna | Helio Carnassale

A página impressa e o anúncio das verdades bíblicas

Entenda como o dom profético foi fundamental para que os pioneiros da Igreja Adventista fizessem uso de conteúdos impressos para compartilhar aquilo que encontraram na Bíblia.


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Tiago White imprime uma das edições da Adventist Review (Foto: Reprodução)

Mesmo antes de adotar um nome oficial em 1860 ou antes de ser formalmente organizada em 1863, a Igreja Adventista do Sétimo Dia já possuía uma editora e imprimia seus livros, revistas e folhetos em gráfica própria. A história dos adventistas se mistura com a determinação de seus pioneiros em publicar e distribuir suas produções, o que nos leva a afirmar que essa Igreja nasceu num berço forrado de papel e tinta.

Numa série de artigos a serem publicados nesta coluna, vamos considerar como surgiu o ministério adventista de publicações e verificar quais foram seus propósitos ao ser estabelecido, e como a presença do dom de profecia contribuiu para o seu crescente êxito. Veremos, também, como a produção e distribuição de literatura se tornou peça fundamental na trajetória dos adventistas, primeiramente para a solidificação da Igreja nascente, e posteriormente para sua expansão.

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Para compreender com clareza a origem e propósito das atividades com publicações, é necessário rever os acontecimentos que ocorridos a partir de “22 de outubro de 1844, que entrou para a história adventista como o dia do desapontamento”[1].

Reação ao desapontamento

Acerca desse tempo, David Bosch escreveu: “Um tema comum nos círculos pré-milenaristas era o retorno de Cristo. Essa ideia, é obvio, também estava presente entre pós-milenaristas, mas eles tendiam a colocar uma ênfase maior naquilo que ainda restava fazer antes da vinda de Cristo. Desde a década de 1830, porém, mais e mais pessoas falavam sobre a iminência da parousia. William [Guilherme] Miller (1782-1849) predisse convicto, o retorno de Cristo e o começo do milênio para 1843 ou 1844. Em pouco tempo, até́ 100 mil pessoas aderiram a Miller”[2].

Essa declaração de Bosch, além de reconhecer a existência de um movimento religioso adventista (pessoas que aguardavam o advento ou retorno de Cristo. Não confundir com adventistas do sétimo dia) no século 19, fornece-nos uma ideia de sua dimensão. Com o não cumprimento da profecia da volta de Jesus, essas “até 100 mil pessoas” se dividiram e criaram suas próprias explicações, justificativas e interpretações para a decepção do não retorno de Cristo. Muitos regressaram para suas antigas igrejas; outros abandonaram qualquer prática religiosa, enquanto os grupos que insistiam nas ideias adventistas se fragmentavam cada vez mais.

Com o passar dos anos, especialmente após a morte de Miller, em 1849, dois principais grupos ainda podiam ser identificados como fiéis à mensagem do advento, com muitas subdivisões, conforme estudo realizado por George R. Knight, publicado pela Casa Publicadora Brasileira com o título “Adventismo”. De um lado estavam os que criam que a volta de Cristo havia ocorrido de forma espiritual, e do outro aqueles que acreditavam na literalidade do evento e esperavam ver Jesus retornar a qualquer momento. Esse segundo grupo ficou conhecido como adventistas de Albany, e entre eles estavam os adventistas sabatistas, que se tornariam o núcleo pioneiro e formador da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Interessa-nos, de forma especial, acompanhar seus passos e verificar seu envolvimento com as publicações.

Mensagem de conforto e esperança

Pensar no contexto que os adventistas tiveram que enfrentar para permanecer fiéis às suas convicções permite-nos imaginar os desafios que estavam à sua frente, seja para propagar suas ideias ou simplesmente defendê-las. Continuar crendo no adventismo nesses primeiros dias após o desapontamento deve ter sido uma verdadeira prova de fogo. Sobre esse cenário, Schwarz e Greenleaf escreveram:

“Era natural que os adventistas sabatistas se inspirassem em sua experiência millerita enquanto se esforçavam para difundir seus conceitos de verdade religiosa em contínua expansão. Contudo, tanto a época quanto seus recursos eram fatores limitantes. A zombaria que acompanhou o Grande Desapontamento impedia a atração de vastas assistências para as conferências públicas; nem eles tinham os recursos financeiros para alugar salões e procurar as multidões por meio de anúncios. Os White vinham de famílias pobres, Bates e Edson tinham usado a maior parte de suas modestas posses para promulgar o ‘clamor da meia-noite’. Os periódicos milleritas que reapareceram depois do desapontamento eram um meio natural de alcançar outros adventistas”[3].

Diante das circunstâncias que impediam a utilização de uma diversidade de métodos para divulgação de suas ideias, os adventistas sabatistas, de acordo com o modelo milerita, passaram a usar o bem-sucedido recurso de escrever e publicar. O objetivo da circulação desses impressos era alcançar os adventistas que se achavam dispersos, confusos e divididos. No próximo artigo veremos como Deus usou o dom de profecia manifestado em Ellen G. White para instruir e orientar seu esposo sobre o dever de escrever e publicar.


Referências

[1] Spalding, Arthur W. Origin and history of seventh-day Adventists, R&H, 1961, v.1, p. 95.

[2] Bosch, David J. Missão transformadora: mudanças de paradigma na teologia da missão. Sinodal, 2002, p.382.

[3] Schwarz, Richard W. e Greenleaf, Floyd. Portadores de Luz. Casa Publicadora Brasileira, 2009, p. 69.

Helio Carnassale

Helio Carnassale

Mantendo a visão

A importância da manifestação moderna do dom profético

Teólogo, é mestre em Ciência das Religião pela Universidade Metodista de São Paulo. Foi pastor de igrejas e foi Orador da Voz da Profecia. Trabalhou na Casa Publicadora Brasileira, Superbom, Unasp e na sede sul-americana adventista como diretor de Liberdade Religiosa e Espírito de Profecia.