População brasileira ainda enfrenta dificuldades para se comunicar com surdos
Ao longo de 20 minutos de experimento social, apenas uma pessoa parou para dar atenção a um surdo.
Para alguns, o silêncio é opcional. Para outros, é rotineiro. No caso de Adilson de Jesus Paixão, são 34 anos sem ouvir a risada dos amigos ou o barulho do trânsito em horário de pico. Ele perdeu a audição na infância após sofrer um acidente. A partir daí, passou a integrar os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que até 2010 registram 10 milhões de surdos no Brasil. Ainda segundo o órgão, a maior parte deles está nos grandes centros urbanos.
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Adilson se comunica pela Língua Brasileira de Sinais, a Libras, que em 2002 foi reconhecida como a segunda língua brasileira. De lá para cá, a sociedade tem buscado meios de entender e melhorar a comunicação com os surdos.
Cursos, escolas e universidades, por exemplo, passaram a ofertar o ensino de Libras. A tecnologia criou aplicativos capazes de traduzir os sinais. Mas ainda assim, será que a sociedade está preparada para se comunicar com as mãos?
Tentativas de aproximação
Diante deste questionamento, a equipe que produz esta reportagem desafiou Adilson a ir em um local de grande movimentação e pedir por informação. A finalidade era verificar se alguém daria atenção, pararia ou tentaria se comunicar.
O local escolhido foi a Lagoa da Pampulha, em Belo Horizonte, onde há intenso fluxo de pessoas que passeiam, caminham, correm e praticam esportes.
Ele ficou em um ponto da Lagoa, cerca de 20 minutos, na tentativa de pedir informação, mas a maioria das pessoas não parava. Alguns olhavam. Outros passavam direito. Houve quem arriscasse se comunicar com sinais. Mas, foi um senhor chamado Jilmar Gonçalves de Souza, que parou, deu atenção e tentou entender o que ele queria dizer, mesmo não tendo estudado Libras.
Jilmar explica que parou por acreditar que todo ser humano precisa de atenção. “Tem gente que passa e não dá nem ideia. Nós, seres humanos, devemos ser uns pelos outros”, enfatizou.
Ao término da experiência, Adilson externou tristeza diante da reação das pessoas. “Para mim foi bastante difícil. Na verdade, essa experiência na Pampulha não foi legal. Me senti angustiado. Senti um certo desprezo com o surdo e a dificuldade de comunicação”, pontuou.
Igreja que prega com as mãos
Na semana do Dia Nacional do Surdo, a Igreja Adventista incluiu no calendário o Dia Nacional do Surdo Adventista, comemorado em 21 de setembro. Na data, a Igreja Adventista Central de Belo Horizonte realizou um culto inclusivo. A programação contou com louvores, peças teatrais e mensagens bíblicas feitas pelos surdos, tudo traduzido na linguagem de sinais.
Na ocasião, Adilson e a noiva, Jaqueline Rodrigues dos Santos, foram batizados. “Eu fiquei muito feliz porque estava tudo acessível. Meus amigos estavam juntos e Deus estava presente”, sinalizou ela.
A igreja também é um espaço público e, portanto, deve estar preparada para receber os surdos. Diante disso, a Igreja Central de Belo Horizonte desenvolveu o Ministério dos Surdos com a finalidade de traduzir os cultos para os surdos e auxiliar na formação de intérpretes em Libras, para estarem presentes nos templos religiosos de BH.
A responsável pelo Ministério é a professora Janielle Salomão, que conta com a parceria de Viviane Cristina Gomes, responsável pela secretaria. Segundo Janielle, a proposta é que em cada igreja tenha um intérprete e assim os surdos possam entender e estudar a Bíblia.
“Estamos em uma missão: alcançar a todos. Com os surdos não é diferente. Eles são parte da nossa comunidade e são nossos próximos também. Para alcançá-los, precisamos 'falar' na língua deles. Então, um dos objetivos de trazer acessibilidade para dentro da igreja é alcançar os surdos com a mensagem que nós temos sido alcançados”, ressaltou ela.
Curso para formação de intérpretes
O curso ocorre aos domingos, das 17h às 19h, na Igreja Adventista Central de BH, localizada na rua dos Timbiras, 683. Os interessados devem fazer a inscrição na secretaria ou pelo telefone 3226 6144, de segunda a quinta, das 19h às 21h.
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