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Coluna | Maura Brandão

A ciência tem todas as respostas?

O método científico é importante para ampliar o conhecimento, mas tem suas limitações


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O ser humano busca na ciência a resposta para seus questionamentos mais profundos, mas nem sempre a resposta vem (Imagem: Shutterstock)

Muitas pessoas buscam na ciência respostas para as perguntas da vida. “De onde vim? Para onde vou? O que estou fazendo aqui?” Mas será que a ciência tem respostas definitivas para essas questões? Ou, melhor, será que ela tem todas as respostas de que precisamos? Antes de falar sobre isso, precisamos entender o que é ciência e como ela funciona.

Frequentemente, em discursos ou discussões, a ciência é citada como uma entidade ou até uma pessoa, capaz de resolver todo e qualquer problema. Mas a realidade é que ela não possui vontades nem pensa por conta própria. Não é a ciência quem realiza pesquisas ou chega a conclusões irrefutáveis. Ela nada mais é do que o exercício de pesquisadores, profissionais e estudantes de diversas áreas do conhecimento em busca da compreensão de fenômenos. A ciência é, simplesmente, a ferramenta do cientista.

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O trabalho de um cientista é o mesmo de um investigador. Ele precisa ter um senso de observação muito aguçado para perceber o ambiente ao seu redor e tentar entender os fenômenos que o cercam. Ao fazer isso, perguntas surgem e hipóteses são formuladas, na tentativa de entender e resolver esses problemas. A busca por essas respostas pode ser feita por meio de leituras, análises e, especialmente, testes e experimentos. Os testes podem ser realizados na bancada de um laboratório, na forma de cálculos em um modelo matemático ou até mesmo comparando-se vários materiais sobre um mesmo tema, com o objetivo de entender o que todos eles dizem. Toda essa sequência e sistematização de ações é conhecida como método científico.

O método científico foi estabelecido na modernidade por um dos pioneiros da ciência, o britânico Sir Francis Bacon (1561-1626). A partir de então, vem sendo aperfeiçoado por cientistas e filósofos até os dias de hoje.

Importante, mas limitado

A comunidade científica defende o método científico (que pode ser adaptado às diversas áreas do conhecimento) como uma forma de manter a objetividade nas pesquisas, ou seja, eliminar interpretações tendenciosas e enviesadas. No entanto, sabemos que muitas coisas podem influenciar as interpretações das evidências pelo cientista, como a sua cosmovisão, por exemplo. A cosmovisão compreende as crenças pessoais, inclinações e pontos de vista que moldam a forma como o cientista vê o mundo e interpreta os fenômenos. Ela pode ser expressa em sua pesquisa, por maior que seja o esforço para ser o mais objetivo possível. Muitas vezes, cientistas fazem afirmações que não passam de ideias que refletem suas crenças pessoais. Esse é um dos motivos que nos levam a dizer que o método científico pode ser limitado em suas conclusões.

Além de ser limitado pela cosmovisão, o método científico é limitado apenas àquilo que pode ser observado. Não podemos dizer com certeza que TODOS os fenômenos são observáveis, por isso, o método fica restrito a apenas uma parte da realidade. Por exemplo, estudar a origem do universo não é algo fácil, pois não é possível replicar e observar como ele se originou, já que esse fenômeno não poderia acontecer duas vezes. O que astrônomos e astrofísicos fazem são predições a partir do que pode ser observado no presente. Essas predições podem mudar a qualquer momento, influenciadas por novas observações feitas com telescópios, por exemplo. Com base nesses dados podemos criar modelos, testar hipóteses e formular teorias, mas nunca comprovar como o universo se originou. 

O método científico também se limita a fenômenos observados no presente ou aos vestígios de fenômenos ocorridos no passado que podem ser estudados, como os fósseis. Nesse caso, as conclusões podem ser limitadas pela metodologia usada ao analisar o registro fóssil e pela interpretação do pesquisador, que, como já vimos, pode ser influenciada pela sua cosmovisão. O estudo de fenômenos ou acontecimentos ocorridos no passado é a causa das principais controvérsias entre ciência e religião, e dos modelos a respeito da origem da vida e do universo.

Finalmente, a comunidade científica entende, hoje, que determinadas afirmações são científicas apenas se elas puderem ser testadas empiricamente, ou seja, se puderem ser reproduzidas em experimentos. Temos aí uma grande limitação, que, de certa forma, está ligada com as outras apresentadas anteriormente.

O matemático John C. Lennox traz um exemplo bem interessante. Imagine que uma pessoa fez um bolo e o submeteu a testes em laboratório. Químicos poderão determinar a presença de carboidratos, gorduras e sais minerais. Os físicos analisarão o bolo pela perspectiva de suas partículas fundamentais. Já os nutricionistas farão cálculos para entender as proporções dos ingredientes que foram usados. Por meio dessas análises, podemos entender a composição do bolo e como ele foi feito, mas não conseguimos descobrir o porquê de ter sido feito. Podemos formular hipóteses a esse respeito, mas apenas a pessoa que fez o bolo tem essa resposta.[1]

A partir dessa ilustração, conseguimos entender que questões relacionadas aos “porquês”, ou seja, que tratam de propósitos, não podem ser respondidas pela ciência. Acreditar que o método científico pode ser usado para encontrar todas as respostas não é ciência, é cientificismo, e isso é falso.


Referências:

[1] John C. Lennox. A ciência pode explicar tudo? Editora Vida nova, 1ª edição. São Paulo, 2021

Maura Brandão

Maura Brandão

Ciência e Religião

As principais descobertas da ciência analisadas sob o ponto de vista bíblico

É bióloga formada pelo Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp) e doutora em Ciências pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), com ênfase em Patologia, trabalhando com poluição atmosférica e os efeitos na saúde. Atuou como coordenadora do Origins Museum of Nature, localizado no Arquipélago de Galápagos, onde realizou atividades de apoio à pesquisa, grupo de estudos com a comunidade local e atenção aos visitantes do museu. Também é membro da Sociedade Criacionista Brasileira (SCB), NULON-SCB. É co-criadora e co-produtora do Origens Podcast, podcast de divulgação de ciência, disponível nos principais agregadores de áudio. Atualmente é professora de Biologia na Educação Adventista no Norte de Santa Catarina.