O culto na igreja fidigital
O que devemos pensar sobre como os cultos online em tempos quando as igrejas precisam atender as pessoas de forma online?
Em artigos anteriores abordamos o conceito de igreja fidigital ou híbrida. De forma resumida é uma extensão da igreja que se manifesta no ambiente digital, visando a conexão entre os membros e a continuidade da missão de compartilhar o evangelho. A pandemia do Covid-19 nos leva a imaginar que a igreja fidigital não é meramente mais uma fase da história da igreja, mas é o modelo de igreja que vai predominar na próxima década e mais além.
Leia também:
Por isso, nesse artigo vamos desenvolver o tema dos cultos na igreja fidigital. Analisaremos, de forma prática, a importância dos cultos online, as semelhanças e diferenças de um culto presencial, os pontos positivos e os negativos, e como torná-los efetivos.
O culto online continua sendo um culto
O culto online é um culto real, embora apresente diferenças. Por exemplo, uma festa de aniversário pode ser realizada em vários lugares. Num salão de festas, em um restaurante, dentro de uma casa, etc. Cada lugar exige que a dinâmica da festa seja diferente, mas a essência da celebração permanece inalterada. Com os cultos acontece o mesmo. A dinâmica muda de acordo com o ambiente, mas isso não significa que um formato de culto é mais importante e espiritual que o outro. A essência continua a mesma, ainda que a forma mude.
No culto online, é mais difícil manter a atenção
Um fator-chave nos cultos online é o ambiente em que o adorador se encontra. Algumas pessoas assistem na sala de estar, outras no quarto, na varanda e por aí vai. Mas, como os lares não são projetados como as igrejas (púlpito elevado, cadeiras voltadas na mesma direção, etc.), o ambiente pode contribuir para que a atenção seja interrompida com mais frequência. Imagine o desafio de uma família com crianças pequenas para assistir o culto em casa. Para os pais, manter a atenção dos filhos durante três horas de programa pode parecer uma tarefa impossível. Essas situações indicam que, para alcançar eficazmente o adorador online, são necessárias algumas adaptações.
Um outro fator que impacta bastante na experiência do adorador online é o dispositivo que ele usa. O celular é o mais usado atualmente, mas o tamanho da tela pode limitar bastante a experiência. Por isso, é importante que quem transmite se preocupe em mostrar mais planos fechados e closes de câmera.
Adaptando os cultos online
Esses fatores exemplificam que um culto online não se trata apenas de ligar a câmera e deixá-la gravando e transmitindo tudo que está acontecendo na igreja. É mais que isso. É necessário ter em mente que o adorador online está em um ambiente diferente e que isso limita algumas experiências do culto físico. Esta realidade nos leva a algumas questões mais complexas: precisamos adaptar nossos cultos físicos, para atendermos ao público digital? Qual dos dois públicos iremos privilegiar?
Não existe resposta fácil para essa pergunta. Líderes e membros de cada igreja precisam discutir o que é mais apropriado para sua realidade. As igrejas têm encontrado soluções diferentes. Em algumas, o programa do culto de sábado pela manhã teve o tempo reduzido e o sermão se tornou o principal elemento.
Outras congregações preferiram manter seus cultos na ordem e tempo tradicionais, porém depois criam um vídeo apenas com o sermão, para quem tem interesse apenas nele. Existem igrejas com mais de um culto estão agindo assim: em um dos cultos são privilegiados os adoradores no templo físico e, no outro, os adoradores digitais. Existem muitas opções e cada igreja pode analisar.
No culto online a música pode ser um problema
Nos cultos online, as músicas e o momento de louvor congregacional precisam ser bem significativos. Devem ser focados e intencionais, a fim de que não tomem tempo excessivo e os microfones e a afinação dos instrumentos precisam ser verificados antes da transmissão.
É, também, importante saber quais música serão usadas e testá-las antecipadamente. Os algoritmos do Youtube possuem regras que interrompem a transmissão quando detectam o uso de várias músicas que possuem direitos autorais. Então, se no culto serão utilizados playbacks ou trilhas de músicas presentes em outros canais, é essencial fazer uma transmissão de teste para saber se pode ocorrer o bloqueio. No Facebook, algumas músicas também podem ser bloqueadas, porém é mais raro.
No culto online o sermão precisa ser repensado
Para uma igreja que tem como principal objetivo o evangelismo ou atingir os não-membros, é importante que os sermões estejam no início do programa, e que procurem ser mais objetivos e curtos. É necessário que o foco principal das câmeras esteja nos pregadores e em planos fechados de câmera nos apelos e conclusões. O pregador precisa lembrar que existe uma audiência online que não vê e nem percebe sua reação, mas que, de certa forma, está presente e sendo influenciada por suas palavras.
Outras partes do culto como leituras, orações e momento das ofertas precisam ser bem pensadas para que tenham um efeito positivo tanto no ambiente físico, quanto no digital.
No culto online a escolha da plataforma impacta no resultado
O Facebook e o Youtube são as plataformas digitais mais utilizadas para a transmissão dos cultos, mas existem outras como o Instagram, Vimeo, Dailymotion, Livestream e outras. Todas possuem seus pontos positivos e negativos, porém se a igreja tem interesse em que seus cultos alcancem a outros que não pertencem a mesma comunidade da fé, então é importante considerar principalmente o Facebook devido ao seu número de usuários e o Youtube por ser uma das maiores fontes de conteúdo e busca na Internet.
O culto online ao vivo pode alcançar mais pessoas
Os cultos podem gravados e posteriormente transmitidos, ou ser transmitidos em tempo real. A vantagem da transmissão em tempo real é que ela permite maior interação com o adorador online. Os cultos gravados podem parecer fictícios para algumas pessoas, mas permitem oferecer melhor qualidade, já que podem ser editados.
Embora os cultos em tempo real apresentem vantagens, eles também oferecem mais riscos. Por exemplo, a queda do sinal de Internet ou o bloqueio devido ao uso de conteúdo com direitos autorais podem interromper a transmissão. Situações inesperadas e mensagens equivocadas também podem ser registradas, replicadas e se eternizar pela internet.
Essas duas modalidades de culto têm vantagens e desvantagens que devem ser consideradas de acordo com o contexto, o impacto que se deseja, os equipamentos disponíveis e o preparo da equipe.
No culto online o relacionamento é o mais importante
O culto online precisa gerar um senso de comunhão e comunidade. O adorador precisa perceber que não está sozinho, mas que faz parte de um grupo. Um grupo de pessoas que lê a Bíblia de maneira conjunta, ouve a mesma mensagem, louva em grupo e ora uns pelos outros. Para isso é importante ter uma equipe de recepção digital para interagir e acolher os membros e os interessados.
Quando encontramos um irmão ou visitante na igreja física o cumprimentamos (ou ao menos deveríamos). No digital é o mesmo. Por exemplo, podemos usar as ferramentas de bate-papo do Facebook e Youtube para dar uma “olá”. Além da equipe de recepcionistas digitais, cada membro online pode contribuir com a receptividade dando curtidas, comentando os pedidos de oração, entre outras ações.
Você viu alguém que não encontra a muito tempo? Faça uma saudação a essa pessoa. Percebeu que algum desconhecido ou visitante está presente? Procure o perfil dele na rede social e envie uma mensagem direta agradecendo a visita ou por participar do culto e se coloque a disposição para ajudar em algo.
O relacionamento é a parte central de um culto online. Este tipo de culto não é como um programa de TV. É muito mais que isso. Trata-se de um ambiente em que as pessoas juntas cultuam a Deus e se relacionam.
Atualmente várias igrejas têm preferido transmitir seus cultos pelo Zoom, Google Meeting e ferramentas similares para fortalecer o senso de comunidade e a conexão entre os irmãos. Esse aspecto abordaremos em outro artigo.
No culto online a análise de resultados é essencial
Depois da transmissão, é importante observar os resultados. O Facebook e o Youtube possuem ferramentas de análise que permitem saber quanto tempo as pessoas estiveram conectadas, qual parte do culto despertou maior interesse, de onde são essas pessoas que assistiram, como encontraram, qual é a faixa etária. Explore esses dados para conhecer mais a quem os cultos estão atraindo.
Conclusão
Os tempos em que estamos vivendo exigem uma grande capacidade de criatividade e adaptação. A igreja precisará criar métodos e adaptar antigos para continuar dialogando com a sociedade. Mas, infelizmente, nem todas as igrejas possuem recursos para transmitir os cultos ou se tornarem fidigital.
Os recursos tecnológicos podem ser caros, nem sempre existe gente qualificada na igreja e em algumas regiões o sinal de Internet é ruim. Por outro lado, se a igreja possui condições deve se esforçar para encontrar o melhor caminho possível. Quanto maior o esforço, maior será o resultado e com mais pessoas alcançadas pela mensagem.
Lembre se que para uma igreja ser fidigital ou híbrida é necessário:
-Levar a sério tanto o culto presencial quanto o virtual.
-Líderes e membros precisam da mente aberta para as adaptações necessárias.
-A melhor estratégia é aquela que se adapta a realidade da igreja.
-Nem todos da igreja terão a mesma visão. Diálogo é necessário para se chegar a um consenso. Prefira adiar a estratégia que criar conflitos por esse motivo.
Perguntas para reflexão:
Mateus 12 conta a história dos Reis Magos que saíram de seu país e chegaram a Jerusalém para conhecer e adorar o Messias presencialmente. Depois disso retornaram a seus lares por um “novo caminho” e, possivelmente, continuaram o adorando à distância.
- Com a pandemia muitas pessoas ficaram impedidas de ir as igrejas. Você acredita que elas podem ter a mesma qualidade de adoração em seus lares?
- Como tem sido a sua experiência com os cultos online? Tem sido positiva ou negativa? O que pode ser melhorado no formato do culto ou em sua casa?
- Que ajustes e adaptações sua igreja precisa fazer para tornar os cultos online mais atraentes e relevantes para a sociedade?
Referências:
BARNA. Six questions about the future of the Hybrid Church Experience. EUA,
Barna. 2020.
Crouch, Amy; Crouch, Andy (2020-11-16T22:58:59). My Tech-Wise Life . Baker Publishing Group. Edição do Kindle.
Daubert, Dave; Jorgensen, Richard. Becoming a Hybrid Church (p. 26). Day 8 Strategies. Edição do Kindle.