Muitos confessarão que já lutaram contra a tentação de repetir a mesma oração dia após dia. Seja no momento da refeição ou antes de dormir, nossa mente tende a engrenar em uma sequência de frases que, se analisadas de mais perto, são uma repetição de orações passadas. Em alguns casos, essas orações chegam a se assemelhar a rezas e mantras que são repetidos continuamente, sem exigir do adorador muito esforço mental.

“Quando esteve na Terra, Jesus ensinou Seus discípulos a orar. Ele os instruiu a apresentar suas necessidades diárias perante Deus, e a lançar sobre Ele todas as suas preocupações” (Caminho a Cristo, p. 108). Dentre as orações que Cristo pronunciou e que ficaram registradas na Bíblia, a que recebeu mais destaque e interesse foi a oração do Pai Nosso. É uma oração muito valorizada por cristãos, especialmente quando podem pronunciá-la durante uma reunião ou um agrupamento.

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No entanto, conforme a repetição das palavras de Cristo vai se fossilizando em uma tradição, perde-se a riqueza de sentidos e da teologia que estão entrelaçados nesta oração. É muito comum pronunciarmos a oração do Pai Nosso sem sequer pensarmos em seu sentido mais profundo. Quando cedemos a essa tentação, desperdiçamos o privilégio de receber o refrigério que somente o Espírito Santo pode proporcionar.

A oração que o Mestre nos ensinou não se limita apenas a palavras que devem ser pronunciadas em certa ordem. É muito mais do que uma simples reza. É uma declaração do coração, uma profissão que está carregada de fé, teologia e esperança. Quando oramos o Pai Nosso sem refletir no que suas palavras significam, também perdemos a oportunidade de aprender algo sobre Deus, de adentrar nos átrios do Santo Pai e beber da Água da Vida.

O livro Pai Nosso: A Essência da Oração e da Espiritualidade (CPB, 2024, 144 p.) oferece esse outro olhar que muitos de nós perdemos ao longo dos anos como cristãos. Nele, Ricardo Bentancur reflete sobre a teologia e a essência do que essa oração verdadeiramente representa e significa. Dedicando um capítulo para cada seção da oração, ele reflete sobre sua vida e sua experiência com Cristo e conduz o leitor a uma espiritualidade mais viva e autêntica, ensinando não apenas a orar o Pai Nosso, mas a viver essa oração no dia a dia. O livro é preenchido de histórias de pessoas que caminharam com Deus e que passaram por experiências que moldaram sua espiritualidade e compreensão da pessoa de Deus. Além de teólogo e filósofo, Bentancur se apresenta como poeta, embelezando suas reflexões espirituais com poemas criados em torno dos diferentes temas tocados pela oração do Pai Nosso.

Recomendamos esse livro a todos aqueles que estão interessados em desenvolver uma espiritualidade mais autêntica, uma comunhão mais viva e uma experiência mais intensa com Deus.

“A fé que sustém o doente e se mantém em pé diante do sofrimento é uma decisão da alma, um ato de amor. É o gesto que traça um caminho quando caminhos não há. É a força pela qual a alma abre uma passagem entre montanhas de dor para poder alcançar e ver a luz. É o fruto de uma descoberta e uma vigília árdua e constante, da incansável fidelidade a uma visão. Essa fé não se improvisa, mesmo que surge, às vezes, no momento menos esperado” (p. 64, 65).

Glauber Araújo é editor na Casa Publicadora Brasileira