Transformação atrás das grades
Há 10 anos, a Igreja Adventista no Piauí promove ações de acolhimento espiritual e ressocialização entre os internos. Nos últimos dois anos, mais de 300 pessoas foram batizadas em 8 unidades prisionais do estado.

O estado do Piauí atualmente abriga cerca de 7 mil pessoas privadas de liberdade, distribuídas em 16 unidades penais - segundo dados da Secretaria de Justiça do Estado do Piauí. Desse total, aproximadamente 38% ainda aguardam julgamento, em regime de custódia provisória. Nesse cenário, cresce a importância de iniciativas que ofereçam apoio emocional, espiritual e caminhos para a ressocialização. Entre essas ações, destaca-se o trabalho da Igreja Adventista do Sétimo Dia, que há dez anos atua no sistema prisional piauiense.
Um dos focos mais recentes desse projeto está na Penitenciária Feminina Gardênia Gomes Lima Amorim, em Teresina, onde cerca de 200 mulheres cumprem pena — e onde, desde 2024, o Ministério Carcerário Adventista iniciou um trabalho permanente de assistência religiosa. A pioneira da iniciativa é Alana Sobrinho, que viu a oportunidade se abrir atrás das grades de forma inusitada. “Fui convidada para cantar em um batismo na penitenciária masculina José Ribamar Leite (Casa de Custódia), depois disso o pastor disse que estava montando uma equipe para atuar no Ministério dentro dos demais presídios do Piauí, e propôs me ter como líder da equipe feminina. Conseguimos a liberação para dar estudos bíblicos dentro da penitenciária feminina de Teresina, que até então, não tínhamos nenhum acesso”, lembra Alana, enfatizando como foi iniciar o desafio.

Preconceito e paciência
Assumir a liderança de um projeto inédito dentro da Penitenciária Feminina de Teresina exigiu coragem e disposição para romper barreiras. Alana Sobrinho aceitou o desafio de ser pioneira no Ministério Carcerário Adventista da unidade, enfrentando o olhar desconfiado de quem ainda acredita que pessoas privadas de liberdade não merecem ouvir sobre salvação. “O sacrifício de Jesus foi por todos os pecadores, tanto os que estão em liberdade quanto os encarcerados”, afirma.

O trabalho evangelístico ali é limitado: as visitas acontecem apenas uma vez por mês, com duração de uma hora, o que exige paciência e dedicação contínua. Mesmo assim, os frutos já começaram a surgir. “Começamos os trabalhos lá no início de 2024, e em março de 2025, realizamos nosso primeiro batismo, onde nove mulheres aceitaram entregar suas vidas a Deus”, relembra.

A celebração, realizada em alusão ao Dia da Mulher, também incluiu a entrega de kits de higiene para todas as internas. Para Alana, atuar no ministério carcerário tem sido uma experiência de transformação pessoal: “Mudou meu senso de missão e quebrou tabus e preconceitos que eu mesma carregava. Ajudar pessoas que, perante o mundo, não possuem mais salvação também ajuda na nossa própria salvação”.
Ressocialização no sistema penal
A gerente da penitenciária feminina, Lygia Brasil, reforça a relevância da presença religiosa, a exemplo da Igreja Adventista do Sétimo Dia, dentro dos presídios, sendo uma assistência especialmente necessária em um ambiente onde predomina solidão, culpa e desesperança entre as internas. “A assistência religiosa nos presídios femininos é de grande importância para redução do sofrimento emocional, nos auxilia na função ressocializadora da pena, pode abrir caminhos para o suporte após a saída do presídio e ajudar na diminuição da prática de novos crimes”, fomenta Lygia.

Para o coordenador do Ministério Carcerário Adventista no Piauí, pastor Lucas Rocha, o impacto vai além das fronteiras do presídio: “Uma história que me impactou muito ao longo desses anos acompanhando esse ministério foi a de um empresário que foi preso, e ao conhecer a igreja adventista dentro do presídio, passou a se envolver através de doações sistemáticas de cestas básicas. Após a soltura, essa pessoa tomou a decisão pelo batismo e até hoje segue firme na fé. Prova que a transformação é real e libertadora. Hoje, dentro dos presídios, temos 231 membros ativos, e só em 2025, 43 pessoas já foram batizadas nas unidades carcerárias do estado.”

A atuação da Igreja Adventista nos presídios do Piauí demonstra que fé, dignidade e solidariedade são ferramentas eficazes na reconstrução de vidas. Para conhecer como tem sido esse trabalho no Piauí, acesse a página oficial no instagram: @ministeriodasprisoes
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