ADRA auxilia comunidade indígena que abriga refugiados venezuelanos
Centenas de pessoas do país vizinho cruzaram a fronteira até o Brasil em busca de ajuda.
Recentemente, a fronteira da Venezuela com o Brasil foi fechada, barrando assim a ajuda humanitária que estava sendo enviada para o povo venezuelano, gerando revolta na população e, com isso, ocasionando inúmeros conflitos, principalmente nas cidades e comunidades fronteiriças. Em um desses confrontos, uma comunidade indígena do país vizinho foi atingida, gerando medo e terror.
Como um meio de sobrevivência, centenas desses indígenas atravessaram a fronteira com o Brasil e foram acolhidos por uma comunidade indígena brasileira, situado na região de São Marcos, que fica nas imediações da cidade de Pacaraima, em Roraima. De acordo com o líder da comunidade, o tuchaua Aldino Alves, eles mantém cerca de 260 pessoas, mas com a acolhida daqueles que migraram, o número triplicou, mantendo atualmente mais de mil pessoas e com a previsão de chegada de outros refugiados.
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“Assim que o conflito ocorreu na comunidade do outro lado, recebemos o pedido de ajuda e prontamente começamos a auxiliar na chegada das pessoas. Pelo fato de sermos da mesma etnia taurepang, com a maioria de adventistas das duas nacionalidades, a comunicação e adaptação não foi difícil por falarmos o mesmo dialeto e termos a mesma origem, independente do país”, explica Alves.
Em parceria com o Exército Brasileiro, a comunidade tem acolhido todos que estão conseguindo atravessar a fronteira e mantê-los em segurança. O comandante da base militar de apoio de Pacaraima, coronel Antônio Vamilton, esclarece que mesmo com toda a dificuldade na fronteira, eles têm auxiliado muitos venezuelanos, principalmente em casos de emergência. “Estamos conseguindo ajudar todos os imigrantes com instalação, segurança e cuidados básicos, e com a crescente imigração, estamos planejando meios de acolhê-los com o máximo cuidado e apoio que pudermos” afirma.
Ajuda providencial
Com o aumento significativo da população da comunidade em tão pouco tempo, as provisões de alimentos e acomodações se esgotaram rapidamente, levando toda a comunidade a passar por um momento de escassez. Diante disso, a Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos Assistenciais (ADRA Roraima), em parceria com o Exército e organizações humanitárias, arrecadou centenas de colchões, cobertores e uma tonelada de alimentos, além de organizar uma equipe de voluntários para levar até a comunidade indígena, que aconteceu no dia 2 de março.
De acordo com o responsável agência humanitária adventista no Estado, pastor Arlindo Kefler, com as ações contínuas para os refugiados realizadas pelo Estado, auxiliar essa população era um necessidade. “Trouxemos esses mantimentos para amenizar a fome e a dor que eles estão sentindo e para que possam ter o mínimo de dignidade para viverem com suas famílias”, ressalta.
Marturino Pérez, um dos refugiados, conta que não tinham outra alternativa a não ser cruzar a fronteira, por causa de toda tensão e sofrimento que estavam passando. “Nós não tínhamos nenhum apoio do governo, nem como venezuelanos ou como indígenas, por isso viemos ao Brasil. Agradeço imensamente por toda a ajuda que estamos recebendo, principalmente por essas doações, porque precisamos muito de ajuda, desde as crianças até os adultos e idosos”, pontua.
A moradora da comunidade, Luciana Gonçalves, explica que recebeu a todos os refugiados com muito carinho. “Está sendo um prazer ajudar nossos irmãos venezuelanos, pois eles estão passando necessidade e nós precisamos ajudar”, afirma.
“Nós temos muitas crianças, mulheres grávidas e idosos, tanto brasileiros quanto venezuelanos, e uma ajuda como esta é uma benção de Deus, pois vem nos fortalecer e nos dar meios para melhor ajudar os refugiados”, conta o tuchaua Aldino Alves.
Para o responsável pela Igreja Adventista do Sétimo Dia na região noroeste do Brasil, pastor Gilmar Zahn, essa primeira ajuda é fundamental, mas muito mais ainda precisa ser feito. "Estamos aqui com a ADRA e o Exército brasileiro para dar esse primeiro auxilio e também para fazer uma sondagem da atual situação, para assim angariar meios para ajudar mais efetivamente todos os moradores dessa comunidade, brasileiros e venezuelanos", ressalta.
Voluntariado
José Lopes é venezuelano e não adventista. Conheceu a ADRA através de uma voluntária que lhe convidou a ir à igreja. Recebeu o convite para participar da ajuda humanitária e viu nisso uma oportunidade de fazer mais pelas pessoas. “Isso é um chamado do coração e eu resolvi atender a esse chamado. Eu sou venezuelano, sei como as coisas estão difíceis lá, e poder ajudar meus compatriotas é a melhor coisa do mundo pra mim”, afirma emocionado.
Cerca de 20 voluntários saíram de Boa Vista, capital roraimense, até Pacaraima pra realizar a distribuição de suprimentos na comunidade indígena. Muitos não são membros da Igreja Adventista, mas aceitaram a missão de ajudar outras pessoas.
Segundo Gizele Marques, uma das coordenadoras da equipe de voluntários, saber que algo pode ser feito pra amenizar a dor e o sofrimento dos refugiados motiva os voluntários a se doarem de coração para realizarem as ações solidárias. “Ao passar esse tempo com eles, percebemos que precisam de toda ajuda que existe, não apenas material. E isso tem feito a diferença, não só pra eles como pra gente também, pois assim podemos doar mais do que suprimentos, mas carinho e amor”, ressalta.
"É lindo de ver como a comunidade brasileira abraçou seus companheiros venezuelanos, compartilhando com eles sua comida, suas moradias, com intuito apenas de acolhê-los. Por isso, agora entra a ADRA, a Igreja Adventista de forma geral nessa região, com meios para ajudar ainda mais essas pessoas que sofrem tanto, não apenas materialmente, mas espiritualmente também, para que consigam no Senhor o conforto necessário para suas vidas", sublinha o pastor Wiglife Saraiva, responsável pela Igreja Adventista para parte do Amazonas e o Estado de Roraima.