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Como um casal de missionários levou esperança pelos rios da Amazônia


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Casal ajudou no desenvolvimento da Igreja Adventista no Norte do Brasil (Foto: Divulgação)

Para milhares de pessoas em lugares “esquecidos” na América do Sul, a salvação – tanto física quanto espiritual – veio do rio na forma de um hospital móvel.

O evangelismo através de veículos móveis foi iniciado nos tempos modernos por Tiago Edson White, que evangelizou usando o barco missionário Morning Star no Rio Mississipi, nos Estados Unidos, para evangelismo, em 1895. Em 1927, Hans Mayr foi o primeiro missionário no Brasil a usar um barco, o Ulm am Donau, que significa “No Danúbio”, em homenagem a sua cidade natal. Essa lancha foi dedicada ao trabalho de colportagem.

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Na época de Mayr, o grande campo missionário brasileiro tinha poucos obreiros para alcançar a população que vivia nas áreas rurais. Não havia estradas ou trens no meio da selva. Então, em regiões como o Norte e o Nordeste, os moradores do interior tinham que navegar cerca de 65 mil quilômetros de rios em um labirinto verde para chegar a um hospital.

Doenças como a malária, a febre tifoide e a varíola eram agravadas pela desnutrição e falta de saneamento. As pessoas viviam rodeadas de onças, piranhas e cobras venenosas. Para elas, a doença significava contar com um milagre.

Desejo de servir

Essa situação na Missão Baixo Amazonas, uma região administrativa da Igreja Adventista, mudou em janeiro de 1929, quando o pastor Leo B. Halliwell foi transferido com sua família da Missão da Bahia para Belém, no Pará, para assumir a presidência da instituição.

Sua esposa, Jessie, era uma excelente enfermeira e famosa por fazer partos. Além da profissão, Jessie era especialista em hidroterapia e uma excelente nutricionista vegetariana.

Para visitar aqueles que necessitavam do trabalho de Jessie, os Halliwells empreenderam viagens perigosas, demoradas e desconfortáveis através da Amazônia. Os barcos disponíveis não eram capazes de ir diretamente aos locais que precisavam, e as tripulações tinham que continuar através dos estreitos afluentes de canoa. A Missão precisava de uma opção que atendesse melhor às suas necessidades, mas não havia recursos para isso.

Os Halliwells adquiriram o conhecimento e a inspiração necessários para construir a primeira lancha através das embarcações pioneiras no continente, Ulm am Donau e Messenger, comandadas por Enrique Marker no Rio Mamoré e seus afluentes. Por meio de um exaustivo estudo, Leo Halliwell desenhou uma lancha missionária. Durante as férias de 1930, os Halliwells voltaram aos Estados Unidos para arrecadar fundos para construí-la. Leo visitou igrejas e reuniões campais, emocionando as pessoas com histórias de suas experiências no novo campo missionário.

Uma luz para as comunidades ribeirinhas

A construção da lancha de 11 metros levou quatro meses. No dia 4 de julho de 1931, Jessie Halliwell batizou-a de Luzeiro. Depois de decidir que todas as embarcações teriam o mesmo nome, essa primeira ficou conhecida como Luzeiro I.

A missão do barco era oferecer educação em saúde, atendimento médico e odontológico para cerca de um milhão de pessoas. Cada viagem que a Luzeiro fazia de Belém à cidade de Manaus levava sete meses. Então, a lancha também era a segunda casa dos Halliwells.

Uma das clínicas flutuantes utilizadas por missionários para atender comunidades ribeirinhas (Foto: Divulgação)

Enquanto eles iam, visitavam as diferentes regiões, ficando em cada localidade por até três dias, pregando, confortando, orando e estudando a Bíblia com seus pacientes. Por mais de 25 anos, o casal serviu cerca de 250 mil pessoas, muitas das quais aceitaram a mensagem adventista.

O trabalho que eles faziam pelos ribeirinhos e indígenas foi bem recebido pelo governo, que possuía poucos recursos para atender os vulneráveis. Os governos estaduais começaram a fornecer medicamentos comprados com grandes descontos. Antes de deixar Belém, Leo e Jessie Halliwell receberam a Ordem Cruzeiro do Sul, pela qual a nação brasileira homenageia estrangeiros.

Missão permanente

Com o avanço da tecnologia, os serviços oferecidos pelas demais clínicas flutuantes melhorou. Desde cuidados com os doentes e extração de dentes, o trabalho da missão médica se expandiu para incluir raios-x, ultrassom e pequenas cirurgias. As lanchas levavam os casos mais graves para o Hospital Adventista de Belém.

Quando sucessivas crises econômicas limitaram o financiamento do projeto Luzeiro nas décadas de 1980 e 1990, médicos voluntários continuaram o trabalho. O infectologista Rogério de Paula mobilizou profissionais e estudantes de medicina e odontologia. Eles usavam recursos próprios para alugar lanchas e visitavam os ribeirinhos duas vezes por mês. Em 1999 e 2000, cerca de 5 mil pessoas foram atendidas.

Em 2019, o projeto Luzeiro operava com três barcos e conta com o apoio de duas bases de apoio permanente nas cidades de Barreirinha e Manacapuru. Essas bases possuem profissionais de saúde treinados, medicamentos e lanchas para transportar enfermos e feridos. A iniciativa continua em parceria com as prefeituras locais.