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Igreja e autoridades auxiliam na repatriação de estudantes brasileiros

Com fronteiras fechadas devido ao novo coronavírus, grupo ficou sem opções para voltar para casa.


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Alunos comemoram retorno ao Brasil horas antes do embarque (Foto: Arquivo pessoal)

Desde que a quarentena foi anunciada no Peru, no início de março, Mateus Pereira viu sua rotina mudar de forma drástica. Acostumado com intensa jornada acadêmica, de uma hora para outra precisou permanecer isolado devido a uma ameaça invisível: o novo coronavírus.  

O estudante de medicina é brasileiro, mas vive em Lima, a capital do país vizinho, que aos poucos viu o número de infectados aumentar cada vez mais, mesmo diante das primeiras medidas adotadas pelo governo local para conter a propagação da doença. “A princípio, não pensamos em ir para casa”, explica o jovem de 24 anos ao referir-se aos demais alunos originários de várias regiões do Brasil.  

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Todos eles – 50 no total – estão matriculados na Universidade Peruana Unión (UPeU)uma instituição de ensino superior mantida pela Igreja Adventista do Sétimo Dia, que passou a oferecer aulas on-line para que o ano letivo não fosse prejudicado. Pouco tempo depois de anunciar a quarentena, o governo peruano declarou que ela seria estendida até o fim do mês.  

Já no início de abril, a preocupação aumentou e os brasileiros começaram a fazer contato com a embaixada para encontrar formas de deixar o Peru. Nas primeiras tentativas, a resposta foi de que no momento não havia nenhum tipo de voo de repatriação disponível. 

Descobrimos que alguns voos estavam saindo com 150 pessoas, mas nosso grupo era de apenas 50. Nos disseram que só daria para voltar por via terrestre”, amplia Pereira, que ressalta que com as fronteiras de vários países fechadasessa não seria uma alternativa simples.  

Raiar da esperança 

Ao longo do mês de abril, a ansiedade, preocupação e a saudade foram determinantes quanto ao desejo dos estudantes de voltar para casa. Mateus descreve que o governo aumentou a rigidez das medidas para que as pessoas não fossem para as ruas. Os casos de contaminação também começaram a aparecer na região onde ele mora, o que aumentou a preocupação para sair quando a comida acabava.  

Durante esse período, eles descobriram que haveria um possível voo no dia 6 de maio. Após confirmarem sua existênciaos pais começaram a fazer contato com autoridades no Brasil que pudessem ajudá-los. O escritório jurídico da sede sul-americana adventista, que já havia auxiliado em outros processos de repatriação, também foi envolvido 

O avião pousou em Lima com missionários da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. O retorno, já pago por eles, não tinha passageiros previstos, por isso foi oferecido ao governo brasileiro. E o grupo conseguiu ser incluído no voo. No entanto, a decolagem foi cancelada um dia antes devido a problemas operacionais, segundo foram informados 

“Foi bem frustrante. Todo mundo estava com as malas prontas. Aqui não temos o apoio da família, temos aula on-line, ficamos dentro de casa, no internato. A vontade de voltar estava explodindo na gente”, relembra o estudante. 

O voo também trouxe turistas e profissionais que estavam no Peru  (Foto: Arquivo pessoal)

O grupo, que já orava por uma solução desde o início, intensificou a rotina religiosa. Fizeram uma lista para que a cada meia hora uma pessoa diferente orasse por aquele objetivo específico. Na sexta passada, dia 8, receberam a confirmação de que o voo ocorreria nesta terça-feira, dia 12. 

E foi no caminho para o aeroporto, dentro de um ônibus disponibilizado pela universidade, que Mateus contou, com um misto de euforia e ansiedade, esta história. Isso é uma dádiva de Deus. Ele moveu todos os meios e estamos conseguindo voltar”, comemora.  

Grupo deixou a cidade de Lima por volta das 17h (horário de Brasília) desta terça-feira (Foto: Reprodução)

Além do apoio de autoridades, como da deputada estadual Damaris Moura (PSDB-SP)do Ministério das Relações Exteriores, do consulado peruano e da embaixada brasileira no Peru, a Igreja Adventista assinou termo de responsabilidade para que a viagem se tornasse possível e custeou o seguro para cada um dos estudantes.  

Viabilidade para o retorno 

Essa não é a primeira vez que a sede sul-americana adventista atua para ajudar a repatriar cidadãos brasileiros. Ao longo do mês de abril e na primeira semana de maio, o escritório jurídico da denominação possibilitou o retorno de mais de 40 estudantes da Universidade Adventista del Platalocalizada em Libertador San Martín, na Argentina.  

O país também está em uma rígida quarentena, o que dificultou tanto permanência quanto a saída de láDevido às normas de segurança, aqueles que viviam em regime de internato, por exemplo, não poderiam retornar ao campus uma vez que fosse preciso deixá-lo. O processo para que chegassem ao Brasil foi feito em etapas, por via terrestre.    

Já durante o mês de março, quando o novo coronavírus recebeu status de pandemia, a Igreja também auxiliou 44 pessoas que estavam em Guiné-Bissau, na África, para desenvolver um projeto missionário. As medidas adotadas pelo Estado incluíram o fechamento do aeroporto local, o que prejudicou o retorno ao Brasil. 

Com isso, eles precisaram viajar até Dakar, capital do Senegal, e a partir dali separaram-se em três grupos menores. Com intervalos de semanas entre um voo e outro, chegaram ao território brasileiro vindos do SenegalEspanha e Turquia.  

“A Igreja Adventista existe para servir pessoas. Da assistência social à liberdade religiosa, procura cumprir seu papel da forma mais efetiva possível. Para isso, usa seus próprios meios, apoio do Estado e das autoridades nas matérias de interesse público e a graça de Deus para cumprir sua missão social e religiosa”, sublinha Luigi Braga, advogado-geral do escritório jurídico da sede sul-americana adventista.  

Mateus registrou em um cartão sua gratidão ao suporte da denominação (Foto: Arquivo pessoal)

“A Igreja foi essencial nesse processo. Ofereceu um apoio extremamente importante”, avalia Mateus, que chegou na noite de hoje no Aeroporto Internacional de Viracopos, em Campinas, e amanhã segue para Recife. De lá, vai de carro até a casa de seus pais, que o aguardam. “A saudade é grande. Estou ansioso.”