Jesus glorificado, soberano e salvador em Apocalipse 1
Como o último livro da Bíblia amplia a compreensão da figura de Jesus, mostrando Sua vitória sobre a morte e o mal
O Antigo Testamento (AT) da Bíblia Sagrada está repleto de imagens e alusões ao Messias, o prometido Salvador da humanidade, que haveria de redimir o povo de Deus. Ao estudar o Pentateuco, os livros poéticos e proféticos, conseguimos enxergar claramente o desejo de Deus de oferecer esperança às pessoas quanto ao futuro.
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Os quatro evangelhos do Novo Testamento (NT) ampliam tal perspectiva ao retratarem a vida e o ministério de Jesus, apresentando-O como o Cristo, o Ungido, o Messias. Detalhes importantes sobre Sua atuação, na dupla condição de humano e divino, são narrados por quatro autores, em tempos e circunstâncias distintas, e para diferentes audiências.
O relato de Jesus Cristo no livro do Apocalipse, escrito por João no final do primeiro século da era cristã, é ainda mais abrangente. Os temas da morte, ressurreição e ascensão de Cristo ainda são recorrentes, mas Ele é retratado de uma forma glorificada; alguém vitorioso e que oferece real esperança aos que vencerem com Ele.
Revelação aberta
Os três primeiros versículos do capítulo 1 de Apocalipse elucidam que o livro é uma revelação de e sobre Jesus Cristo para todos. Não se trata, portanto, de uma obra cujo conteúdo deveria ser escondido, proibido ou mesmo temido. No versículo 3, João afirma: “Bem-aventurado aquele que lê, e bem-aventurados aqueles que ouvem as palavras da profecia e guardam as coisas nela escritas, pois o tempo está próximo”.
É, portanto, uma revelação que deve ser vivida e experimentada por aqueles a quem ela alcança. O comentarista Ranko Stefanovic afirma que “quando os ouvintes entendem esse livro de profecias como a revelação de Jesus Cristo, eles respondem por meio da aceitação e observância de suas mensagens como palavra de Deus”.1
A identidade do revelador
No versículo 4, tem início uma descrição da identidade do Revelador dessa mensagem que deve ser obedecida pelas pessoas. E o autor atesta a divindade deste Ser quando diz, nos versículos 4 e 5: “Que a graça e a paz estejam com vocês, da parte daquele que é, que era e que há de vir, da parte dos sete espíritos que estão diante do seu trono e da parte de Jesus Cristo, a Fiel Testemunha, o Primogênito dos mortos e o Soberano dos reis da terra”.
É maravilhoso saber que Aquele que é o centro da mensagem de Apocalipse é vitorioso até sobre a morte. Ele morreu, mas ressuscitou, e garantiu, assim, salvação a todos nós. Em Colossenses 1:15, é dito que Jesus é “o primogênito de toda a criação”, em paralelo ao texto de Apocalipse 1:5, que O apresenta como o Primogênito dos mortos. Jesus Cristo não foi o primeiro a nascer, nem a morrer, tampouco ressurgir, mas Sua condição de vitória sobre o mal e o pecado O torna referência aos seres humanos.
Ele é a Fiel Testemunha, e Seu testemunho é válido por conta da Sua origem divina (João 8:14) e Seu amor inigualável pelas pessoas. Ao mesmo tempo, o primeiro capítulo do livro conecta esse testemunho de Cristo à necessidade de testemunho dos que O seguem (versículo 9), como o de João, preso na Ilha de Patmos por conta da sua fé.
O primeiro capítulo de Apocalipse ainda retrata Jesus Cristo como o Soberano entre os reis da terra. Estes reis são sempre identificados, em outras partes da Bíblia, como inimigos de Deus, que não prevalecerão, apesar do poder que possuem (Apocalipse 10:11; 17:2 e 18; 18:3). Jesus Cristo, glorificado e salvador, está acima deles, e Seu reino espiritual e eterno não será superado pelas estruturas que o mal estabelece. O salmista, em Salmos 89:27 e 37, falava do poder superior de Deus acima de tudo o que existe, inclusive das forças malignas.
Grant Osborne observa que “o mesmo Cristo que reina sobre a vida e a morte naturalmente reinará ‘sobre os reis da terra’. O conflito entre Cristo exaltado e os soberanos deste mundo é predominante em Apocalipse”.2
Jesus presente e atuante
Mas, para mim, há uma outra parte do capítulo ainda mais motivadora e alentadora. Ainda no final do versículo 5 e início do versículo 6, é dito que Jesus Cristo “nos ama e, pelo seu sangue, nos libertou dos nossos pecados, e nos constituiu reino, sacerdotes para o seu Deus e Pai”.
Na visão dada a João, Jesus não é apenas glorificado; Ele é retratado, claramente, como Salvador, próximo das pessoas e que age em favor delas para libertá-las do pecado. A libertação de Cristo vai muito além de sistemas opressivos humanos; aqui, o texto trata da vitória sobre a pecaminosidade, que nos distancia do nosso Deus.
Segundo o texto, Jesus também eleva o nível do ser humano da condição de um pecador a um habitante das moradas eternas e participante ativo do reino que nunca se acabará. Ele transforma a perspectiva humana por meio da Sua morte, ressurreição e retorno a esse mundo para buscar os Seus (versículo 7). É um Deus que está perto e se interessa por Suas criaturas. É uma figura radicalmente diferente de grande parte das divindades históricas, sempre distantes e indiferentes às necessidades dos seres criados.
Do versículo 12 em diante, a descrição feita por João ecoa o relato do capítulo 10 de Daniel. O "semelhante a um filho de homem" - expressão também encontrada em Daniel 7 e que os próprios escritos dos Evangelhos atribuem a Jesus Cristo - está em meio aos candelabros de ouro. Estes representam as igrejas, ou seja, a comunidade dos fiéis. Em outras palavras, Jesus não está longe, mas caminha entre Seu povo e participa de suas dores e alegrias. “Quando João diz que viu Cristo no meio dos candelabros, ele quer nos dizer que Cristo não é um Senhor ausente. Pelo contrário, Ele está no meio de Suas igrejas, dando-lhes apoio durante as provações e perseguições”, comenta Osborne.3
Ali, a imagem de Jesus Cristo pendurado em uma cruz é substituída por um Ser poderoso, que irradia impressionante brilho, luz e pureza. Não há mais derrota na narrativa, mas esperança real por conta Daquele diante de quem o profeta chega a cair ao chão (versículo 17).
Jesus Cristo, aquele que é "o primeiro e o último e aquele que vive” (versículos 17 e 18), tem uma mensagem poderosa, que precisa ser disseminada a todos, em todos os tempos. Não se limita ao primeiro século da era cristã, quando João viveu, nem a poucos anos depois do ministério do profeta.
Ele há de vir
Finalmente, a promessa da volta de Jesus Cristo é contundente e vibrante no primeiro capítulo de Apocalipse. Jesus Glorificado, Soberano e Salvador vai voltar para dar a recompensa a cada um conforme suas obras. Comentando acerca deste capítulo, Jacques Doukhan afirma que “a promessa de Sua vinda está reservada para o futuro. O porvir nos oferece muito mais do que o passado e o presente. Mais do que o Deus da memória, da existência, da espiritualidade e da comunhão. Ele é o Deus ‘que há de vir’”.4
Jesus, o Salvador do mundo e Vitorioso sobre o pecado, há de vir para concretizar a implantação do reino prometido a todos os que O aguardam e aceitam Seu amor e graça. Richard Bauckham pontua que “não há dúvida de que ele tem em mente muitas passagens proféticas do AT que anunciam que Deus virá com o intuito de salvar e julgar”.5
Em resumo, o livro do Apocalipse começa com esperança, com certeza de vitória sobre o pecado e o mal, e um grande destaque do poder divino sobre tudo o que de mau existe. Apocalipse não é um livro de derrota, tristeza, medo ou códigos indecifráveis, mas um sopro de otimismo para a humanidade amedrontada, doente, cansada e que não enxerga um horizonte promissor.
O que me deixa bastante satisfeito ao estudar o primeiro capítulo do último livro da Bíblia Sagrada é a certeza de que um reino de paz, amor, igualdade e verdadeira solidariedade não será construído por seres humanos com suas habilidades e vontades; é um reino alicerçado Naquele que é “o alfa e o ômega, o princípio e o fim”.
Referências:
1 STEFANOVIC, Ranko. Revelação de Jesus Cristo: comentário sobre o livro do Apocalipse. 1ª edição. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2023, página 71.
2 OSBORNE, Grant. Apocalipse: comentário exegético. São Paulo: Vida Nova, 2014, página 69.
3 Idem, página 96.
4 DOUKHAN, Jacques. Segredos do Apocalipse: uma perspectiva hebraica do último livro da Bíblia. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2023, página 14.
5 BAUCKHAM, Richard. A teologia do livro do Apocalipse. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2022, página 43.
Felipe Lemos é jornalista e gerente da Assessoria de Comunicação da sede sul-americana adventista.
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