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Inteligência artificial a serviço da pregação do evangelho

Caminhos para tornar sistemas de inteligência artificial em aliados ao cumprimento da missão da Igreja Adventista foram discutidos em evento.


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O especialista e professor universitário Erick fala aos participantes do Gain sobre a realidade da IA. (Foto: Felipe Lemos)
Caminhos para tornar sistemas de inteligência artificial em aliados ao cumprimento da missão da Igreja Adventista foram discutidos em evento.

Uma verdade atual é que o uso de recursos associados à inteligência artificial (IA) cresce e se populariza no planeta. O que antes era restrito a pesquisas acadêmicas e produção de conteúdo cinematográfico com viés futurista se tornou definitivamente próximo do cotidiano. Segundo a Search Logistics, “prevê-se que o mercado mundial da tecnologia de IA exploda nos próximos anos, atingindo um valor total de mercado de 190,61 bilhões de dólares até 2025”.[1] De acordo com pesquisa divulgada pela Forbes Advisor, as utilizações mais populares atualmente da IA incluem hoje: resposta a mensagens, consultas sobre questões financeiras, planejamento de itinerários de viagem e elaboração de publicações nas redes sociais.[2]

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Mas outras análises de tendências futuras ampliam tal visão. E apontam os sistemas sustentados pelo conceito de IA como responsáveis por mudanças significativas em várias áreas da vida humana, incluindo saúde, educação, geração de renda, desenvolvimento humano e social, entre outros aspectos. Nesse contexto, as religiões obviamente fazem parte do grupo impactado por chatbots, IA generativa e automatizações potencializadas por processos cada vez mais sofisticados.

Líderes da área de comunicação da Igreja Adventista do Sétimo Dia das três grandes regiões das Américas (América do Norte, América Central e América do Sul) se reuniram durante alguns dias para discutir sobre IA e a missão adventista de pregar o evangelho ao mundo. Palestras, debates e painéis, inclusive com apresentação de iniciativas adventistas, fomentaram pensamentos sobre um caminho inevitável: a IA é uma realidade da qual não se pode fugir; é preciso aprender como torná-la aliada.

Missão integrada e colaborativa

Esta grande reunião, com mais de 100 participantes, conhecida como Global Adventist Internet Network (GAiN), sempre foi realizada com o objetivo de compartilhar pensamentos acerca de tecnologia e comunicação e aplicá-los à missão da Igreja, que hoje conta com mais de 21 milhões de membros em mais de 200 países. Neste ano, o encontro de cinco dias ocorreu em Washington, nos Estados Unidos. E o ponto de partida das apresentações tratou da consolidação de conceitos fundamentais para os adventistas: sua identidade e objetivo de apresentar o evangelho bíblico a distintas realidades.

O pastor Williams Costa Jr., diretor mundial do departamento de Comunicação da Igreja Adventista, fez uma introdução do evento expondo uma contundente mensagem: os comunicadores adventistas precisam estar, de forma individual, conscientes de seu papel na missão. Ele usou como exemplo o trabalho meritório realizado por um grupo de pessoas no Paraguai, que possibilitam ensino de música em comunidades carentes. Para isso, utilizam produtos descartados em grandes lixões que se transformam em instrumentos musicais e, assim, oferecem uma perspectiva diferente a crianças, adolescentes e jovens. “Da mesma forma como o líder deste grupo se sentiu chamado para uma missão, nós precisamos compreender isso também”, comentou.

Ainda falando sobre fundamentos missionários da comunicação, o diretor associado de Comunicação da sede mundial adventista, pastor Samuel Neves, liderou um painel a respeito de integração, colaboração e sinergia de diferentes plataformas tecnológicas e comunicacionais da própria organização (portais de internet, emissoras de TV, rádio, editoras) para se chegar a objetivos comuns. Neves foi enfático ao declarar que a estratégia comunicacional adventista envolve compartilhar, com efetividade, os conceitos bíblicos a pessoas não adventistas e, ao mesmo tempo, manter um atendimento digital a quem se torna membro e precisa crescer e se desenvolver espiritualmente.

Inteligência para evangelizar

Os sólidos fundamentos bíblicos que norteiam a mensagem pregada pela Igreja Adventista do Sétimo Dia podem ser potencializados com uso de IA. Foi o que sugeriu Emmanuel Arriaga, um profissional que trabalha no Google. Ele entende que a inteligência artificial é útil, no contexto da Igreja Adventista, na elaboração de propostas, documentos e pesquisas. Ele lembrou, no entanto, que o desenvolvimento das plataformas e modelos implica discussões de natureza ética e de confiabilidade dos dados apresentados.

Já Erick Sperandio Nascimento, professor e pesquisador de uma universidade inglesa, ressaltou que as ferramentas de IA são oportunidades de estabelecer modelos de criação de conteúdos, sem precedentes, para evangelizar. Ele cita a importância, por exemplo, de utilização de ferramentas para aconselhamento teológico e soluções para estudos bíblicos. “É possível estruturar sistemas a fim de prover estudos personalizados baseados nas preferências das pessoas”, detalhou o especialista.

Inteligência aplicada

A Igreja Adventista do Sétimo Dia já tem aplicações práticas do uso da inteligência artificial. Um exemplo disso, vindo da América do Sul, é o chatbot ou assistente bíblica virtual chamada Esperança, construída e gerida há seis anos. O sistema proporciona a experiência de as pessoas receberem, em português e espanhol, em tempo real, um apoio para seus estudos. Essa inteligência artificial generativa possui um banco de dados com quase seis mil artigos de web produzidos oficialmente pela Igreja, além de 89 guias de lições da Escola Sabatina e 63 livros de Ellen White.

O pastor William Timm, coordenador da Escola Bíblica Digital da Rede Novo Tempo, explicou que o trabalho ajudou 278.422 estudantes entre os anos de 2019 e 2023 e, somente neste ano, são mais de 40 mil pessoas tendo contato com a Palavra de Deus e sendo auxiliadas pelo sistema inteligente. “É possível, de forma prática, trabalhar a humanização e a automatização, ou seja, conseguimos conectar a tecnologia de maneira que seja útil para o desenvolvimento espiritual das pessoas”, ressalta Timm. Entre os anos de 2019 e 2023, foram registradas 1.905 decisões de pessoas pelo batismo, que estudaram com apoio de Esperança. Os nomes destas pessoas foram enviados para as congregações locais a fim de serem atendidos por pastores e membros.

O engenheiro de IA para evangelismo digital, Natanael Castro, detalha que os estudantes da Bíblia podem fazer suas perguntas abertas ao sistema por meio do endereço www.novotempo.com/perguntaresperanca, que são respondidas por meio de uma inteligência artificial generativa que foi implementada­ recentemente na Esperança.

Ele ainda acrescenta que “além disso, nossos conselheiros bíblicos também contam com recursos de IA que, baseado em atendimentos feitos anteriores, os ajudam a apoiar as pessoas que nos procuram, otimizando o tempo e permitindo que eles possam atender cada vez mais pessoas diariamente”. O especialista pontua, também, que os processos de aperfeiçoamento do uso de IA generativa para finalidades missionárias cresce. Numa próxima etapa, a ideia é acrescentar mais de duas mil horas de programas de TV produzidos pela Rede Novo Tempo de Comunicação a fim de tornar o atendimento ainda mais robusto.

Em âmbito mundial, o diretor assistente de Comunicação da sede mundial adventista, Daniel Bogdanov, explicou que existem intenções e estudos com a finalidade de estruturar modelos de IA, por parte da Igreja Adventista do Sétimo Dia, para oferecer conteúdo bíblico em vários idiomas.

Percepções

Para o pastor Jorge Rampogna, diretor do departamento de Comunicação da sede sul-americana adventista, “eventos como este nos fazem refletir na necessidade de usar todas as oportunidades possíveis para compartir o evangelho e acelerar a missão”. Abel Marques, que lidera o mesmo departamento na América Central (Divisão Interamericana da Igreja Adventista do Sétimo Dia), afirma que “o GAiN é um evento que fomenta a interação e a criatividade que nos mantém atualizados com ideais e ferramentas para o evangelismo digital”.

Chrystelle Agboka, responsável pela área de produção de notícias da Igreja Adventista na América do Norte (Divisão Norte-Americana), falou de suas impressões sobre o evento, o primeiro dessa natureza em que participa. Na sua avaliação, usados corretamente, os avanços tecnol­ógicos como a IA podem tornar o trabalho ainda mais eficaz. “Como comunicadores, temos muito poder para moldar a marca da Igreja, alcançar pessoas dentro e fora dela e ajudar a fazer discípulos”, salienta.

A jornalista Betina Pinto, diretora de Comunicação do escritório da denominação para o Sul do Brasil, também participou pela primeira vez. Na sua avaliação, “quando entramos em contato com iniciativas que estão dando certo em outras regiões do mundo, podemos adaptá-las à nossa realidade. Com isso, a Igreja cresce e o evangelho avança com o suporte de estratégias comunicacionais que já foram testadas e validadas”.

O produtor Jonathan Lopez, da sede adventista de Porto Rico, contou que sua experiência no GAiN foi enriquecedora e inspiradora. “O trabalho em rede que se pode fazer em eventos como este é único e nos dá a oportunidade de colaborar com outros países para cumprir a missão na fronteira digital”, assinalou.


Referências:

[1] https://www.searchlogistics.com/learn/statistics/

[2] https://www.forbes.com/advisor/business/ai-statistics/#:~:text=AI%20is%20expected%20to%20see,technologies%20in%20the%20coming%20years.