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Coluna | Felipe Lemos

ChatGPT, inteligência artificial e a comunicação com os públicos

O que o sistema do ChatGPT tem a ver com a maneira como podemos pensar a comunicação com os públicos nos próximos anos?


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Sistemas de inteligência artificial criam novos desafios para a comunicação dos seres humanos. (Foto: Shutterstock)

O ano de 2023 tem assistido a uma popularização de interfaces que permitem o diálogo humano com as máquinas. Claro que o tema, em si, não é nenhuma novidade. Na verdade, já dialogamos com robozinhos ao fazer compras de produtos e serviços online. E tem mais: a própria Igreja Adventista do Sétimo Dia utiliza um sistema de chatbot para auxiliar as pessoas no estudo da Bíblia Sagrada.

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Ou seja, processos e ferramentas mediados por conceitos de inteligência artificial (IA) existem há alguns anos. Mas chama a atenção o fato de que as mudanças recentes são muito rápidas e rompem com estruturas com as quais nos acostumamos.

Mercado em crescimento

Segundo a Reuters, no começo de fevereiro, o chatbot da empresa OpenAI, o ChatGPT, atingiu 100 milhões de usuários ativos­[1]. O universo de inteligência artificial experimenta um crescimento impressionante. De acordo com a consultoria PWC, a tecnologia IA deve “contribuiu em quase 16 trilhões de dólares para a economia mundial até 2030”.[2]

O especialista em estratégias digitais, Carlos Magalhães, colunista do Portal Adventista, explica que a chamada inteligência artificial generativa produz ou gera textos, imagens, músicas, discursos, sermões, palestras, códigos e vídeos.[3] É o caso do famoso robô do momento, o ChatGPT, uma plataforma ainda com acesso gratuito a usuários, para elaboração de textos. Há vários dias tenho “conversado” com esse chat e testado diferentes tipos de abordagens.

Propus a ele que produzisse sermões e resumos de tópicos para palestras bíblicas. Em poucos minutos, com uma precisão muito interessante, o robô entregou um material passível de ser divulgado. E a forma de conversar com o “indivíduo” é razoavelmente coloquial; isto é, em palavras mais simples, a máquina me entende e responde de forma adequada na maioria das vezes, com pouquíssimos equívocos.

E a comunicação religiosa estratégica?

Há múltiplas reflexões a serem feitas. E certamente vários especialistas estudarão o assunto e todas as implicações inerentes ao desenvolvimento deste tipo de tecnologia. Antes, no entanto, de criar algum tipo de pânico ou medo quanto ao futuro, pensemos:

Entendendo as pessoas. Os bancos de dados estão cada vez mais completos e complexos. Mas vamos ver até onde as máquinas serão capazes de ler todo tipo de comportamento humano e, então, estabelecer uma comunicação eficiente. Por enquanto, os seres humanos ainda são os mais bem dotados de habilidade para compreender uns aos outros. E, com isso, estabelecer estratégia comunicacional precisa. Imagine uma igreja aprimorando sua comunicação com os fiéis e com a comunidade. O ChatGPT pode ser um aliado para reunir informações que precisamos a fim de preparar conteúdos e apresentá-los. E de uma forma rápida e adequada para a tomada das decisões. Mas as decisões finais ainda são humanas; no caso de uma igreja, guiadas por Deus.

Perguntas certas. Ao que parece, o futuro breve prevê a necessidade de profissionais que saibam fazer as perguntas corretas. Porque as respostas já são dadas com um invejável nível de excelência por chatbots. E isso é muito interessante. Jesus fazia perguntas extremamente apropriadas para extrair dos seus interlocutores respostas que os ajudavam a compreender o que mais necessitavam espiritualmente. A comunicação religiosa não deve abrir mão dos mais corretos questionamentos a fim de consolidar conexões reais com as pessoas.

Relacionamentos e sabedoria. Um desafio cada vez maior é o da inteligência emocional das pessoas. A articulação entre os seres vivos, em um contexto de relacionamentos saudáveis, ainda não é de domínio das máquinas. Como disse o especialista em neuromarketing Billy Nascimento, em recente artigo, “as empresas que desejam prosperar na era da IA devem colocar os relacionamentos e a sabedoria em primeiro lugar. Isso implica promover ativamente um ambiente de trabalho que enfatize a empatia, a inteligência emocional e a cooperação”.[4]

Inteligência superior. A promessa de inteligência artificial suficiente para substituir o ser humano é uma ambição antiga. E realmente há muitos benefícios dos robôs para compor elementos de uma comunicação estratégica. Só que comunicação vai além da mera elaboração de códigos, textos, vídeos, infográficos, imagens ou áudios. É uma área das ciências humanas que, como o nome diz, trabalha a partir do ser humano. Pressupõe, portanto, relacionamento e a avaliação subjetiva que nem sempre é tão binária. E, no caso da comunicação religiosa, tem um elemento a mais: a inteligência superior de Deus, especialmente na comunicação de religiões cuja referência é a Bíblia Sagrada.

Não me arrisco a fazer prognósticos sobre o futuro da inteligência artificial. Os cenários passam por modificações constantes, mas entendo que as novas interfaces e possibilidades de comunicação entre seres humanos e máquinas fazem-nos pensar. Até que ponto as ferramentas e plataformas são o bem mais importante em uma comunicação estratégica religiosa que precisa estabelecer fortíssimas impressões em seu público?

Talvez o ser humano, como elemento pensante e sensível ao outro, possa se tornar uma “ferramenta” mais eficiente. A habilidade de reagir à reação do outro, captando as sensibilidades, ainda é um desafio perseguido pelo tecnicismo digital, mas que está ao alcance das pessoas, especialmente as que se consideram religiosas e se dizem movidas por Deus.


Referências:

[1] ChatGPT atinge 100 milhões de usuários ativos mensais em janeiro e vira o app de crescimento mais rápido da história - https://www.infomoney.com.br/negocios/chatgpt-atinge-100-milhoes-de-usuarios-ativos-mensais-em-janeiro-e-vira-o-app-de-crescimento-mais-rapido-da-historia/.

[2] Por que 2023 será o ano da inteligência artificial? - https://forbes.com.br/forbes-tech/2023/01/por-que-2023-sera-o-ano-da-inteligencia-artificial/.

[3] Inteligência Artificial Generativa - https://sociedadetecnologica.com/2023/01/22/inteligencia-artificial-generativa/,.

[4] O Declínio da Economia do Conhecimento na Ascensão da Inteligência Artificial - https://www.linkedin.com/pulse/o-decl%25C3%25ADnio-da-economia-do-conhecimento-na-ascens%25C3%25A3o-billy-nascimento/

Felipe Lemos

Felipe Lemos

Comunicação estratégica

Ideias para uma melhor comunicação pessoal e organizacional.

Jornalista, especialista em marketing, comunicação corporativa e mestre na linha de Comunicação nas Organizações. Autor de crônicas e artigos diversos. Gerencia a Assessoria de Comunicação da sede sul-americana adventista, localizada em Brasília. @felipelemos29