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Missão

Eu vou com minha família

Realizar missão em família é uma grande oportunidade de fortalecimento dos relacionamentos familiares.


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O ambiente familiar é o melhor lugar para imprimir na mente dos filhos a cultura missionária. (Imagem: Pexels).

No dia 13 de novembro de 2021, um sábado, fui com a minha família e um casal de médicos a uma comunidade ribeirinha próxima a Manaus. Tínhamos o propósito de realizar o programa da Escola Sabatina e culto de manhã e, na parte da tarde, fazer atendimento médico. A experiência foi incrível. Não esquecerei a expressão de felicidade estampada no rosto de cada um dos meus familiares.

Meus filhos, que são estudantes de medicina, relataram que se sentiram úteis, e minha esposa falou da alegria de ter passado o dia inteiro em nossa companhia. O casal que foi conosco havia passado pela conversão há pouco tempo e agora estava trabalhando em favor do próximo. Eles tiveram, então, com esse trabalho, a oportunidade de conhecer um pouco mais sobre a atuação da Igreja Adventista em prol da comunidade.

O resultado dessa nossa empreitada foi muito bom, pois estivemos juntos em família para realizar um programa missionário que estreitou nossos laços de união. Houve parceria desde o planejamento até a execução! Essa é a experiência que desejamos para todas as famílias da União Noroeste Brasileira com o projeto Eu Vou Com Minha Família.

O professor Werlei Mello Gomide, da Faculdade Adventista da Amazônia (FAAMA), em um sermão de formatura de uma turma de teologia1, falou sobre família e missão, destacando alguns pontos que valem ser citados aqui para refletirmos sobre a situação da família em relação à missão na atualidade.

• Religião self-service. A igreja em nossos dias vive um verdadeiro drama em relação à experiência religiosa dos jovens, principalmente na faixa etária dos 13 aos 17 anos, e isso tem ocorrido no cristianismo como um todo, não apenas na Igreja Adventista do Sétimo Dia. 

Para que ninguém pense que o problema começa quando eles vão à universidade, vale a pena ler o que a professora Kenda Creasy Dean, do Seminário Teológico de Princeton, publicou em seu livro Almost Christian: What the Faith of Our Teenagers Is Telling the American Church (Quase cristão: o que a fé de nossos adolescentes está dizendo à igreja americana), com base em um estudo que ela fez envolvendo 3.300 adolescentes entre 13 e 17 anos de idade.

O estudo constatou que os adolescentes ativos na igreja têm muito a dizer sobre dinheiro, sexo e relacionamentos familiares, mas quando o assunto é fé são indiferentes. A razão estaria no fato de que os adolescentes estão adotando o chamado “deísmo terapêutico moralista”. A religião é só uma coisa boa para ajudar a superar os dramas da vida. Deus deixa de ser um Ser pessoal e presente, e eles adotam a religião self-service. O resultado esperado é: cedo deixam igreja.

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• Cristãos e discípulos. Existe diferença entre cristãos e discípulos? Alguns poderiam dizer que discípulos são cristãos ativos. Contudo, esse conceito não é bíblico e está completamente equivocado. De acordo com a Bíblia, não existe diferença entre cristão e discípulo, os dois são a mesma coisa. O discípulo também é cristão. Ele é comprometido com Cristo. Caso não haja esse comprometimento, não será nem discípulo nem cristão.

As exigências do cristianismo e do discipulado são as mesmas: “Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me” (Mt 16:24, NVI3). Por sua vez, Cristo afirmou que “aquele que não carrega sua cruz e não me segue não pode ser meu discípulo” (Lc 14:27, NVI3). O conceito equivocado de cristianismo, segundo o professor Gomide2, tem levado “muitos jovens e adolescentes a uma experiência vazia e que se acomoda muito fácil ao mundo ao nosso redor”. O professor também aponta que uma das maiores causas desse problema está em nossa falha em fazer discípulos.

Temos observado que as famílias que envolvem seus filhos na missão cujos pais dão verdadeiro testemunho cristão têm maior probabilidade de manterem seus adolescentes e jovens na visão correta de discipulado.

Quando os pais envolvem seus filhos em algum tipo de atividade missionária, naturalmente terão que conversar, realizar tarefas juntos, farão oração em família e, consequentemente, passarão tempo em família realizando atividades que ajudam no fortalecimento da unidade familiar.

Ellen White orienta que não se deve fazer pouco caso do evangelismo e que nenhum empreendimento deve ser levado a efeito de maneira que faça com que o ministério da Palavra seja considerado como coisa inferior. Ela ressalta ainda que aqueles que menosprezam o ministério estão menosprezando Cristo e que “a mais elevada de todas as obras é a do ministério, em suas várias atividades, e deve ser mantido perante os jovens o fato de que não existe trabalho mais abençoado por Deus do que o do ministro evangélico”4. Os jovens precisam entender essa importância, e cabe à família, em primeira instância, essa responsabilidade.

Ellen White, testemunhando sobre a importância de preparar os mais jovens para a missão, conta que o casal Haskell alugou uma casa em um dos melhores distritos da cidade e chamou para perto de si uma família de auxiliares. Dia após dia, saíam dando estudos bíblicos, vendendo revistas e fazendo trabalho médico-missionário. Durante os momentos de culto, os obreiros relatavam suas experiências. Davam estudos bíblicos no lar com regularidade, e os jovens ligados à missão recebiam um preparo prático e completo no sentido de dar estudos bíblicos também, além de vender publicações. “Os jovens que vão trabalhar nestas cidades devem ficar sob a direção de líderes consagrados e de experiência. Os obreiros devem ter um bom lar, em que possam receber preparo cabal”5.

• Envolvimento da família. Os membros da igreja podem realizar missão em família. Os pais podem reunir seus filhos desde cedo para planejar a missão. Envolver os filhos a partir dos primeiros anos é uma oportunidade de praticar o discipulado em família. Os pais devem verificar a possibilidade de escolher um pequeno grupo, uma classe bíblica ou um evangelismo público para realizarem juntos. Podem adotar uma casa de apoio a pessoa com deficiência, uma escola ou mesmo uma comunidade próxima à sua residência para prestar apoio.

Outra possibilidade é realizar estudos bíblicos, visitas e encontros com grupos de apoio. A escolha ficará a critério de cada família. O que não se pode esquecer é que realizar missão em família é uma grande oportunidade de fortalecimento dos relacionamentos familiares e proporciona condições para os filhos crescerem com a missão no coração. Isso contribuirá para fortalecer a fé dos jovens.

Por fim, precisamos destacar mais uma vez que é necessário que as crianças e os jovens sejam educados em uma cultura missionária. E o ideal é que a missão aconteça por iniciativa da família. O ambiente familiar é o melhor lugar para imprimir na mente dos filhos a cultura missionária. Se começarmos desde cedo a envolver os filhos na missão, certamente será mais fácil fazê-los entender que cristianismo pressupõe amor pela salvação dos outros.

Essa visão moldará as prioridades dos jovens e tirará o foco das coisas materiais. O mundo será observado por meio das lentes de Cristo. A religião fará sentido na vida deles, será algo vital, não meramente social. Esse é o elemento que molda a vida do cristão como um todo, fazendo dele verdadeiro discípulo de Cristo.

Ellen White, ao destacar a importância de valorizar a educação cristã, reforça que, se os filhos forem ensinados no lar a amar a Deus e a temê-Lo, quando saírem para o mundo, estarão preparados para educar suas próprias famílias para Deus, e assim o princípio da verdade será́ implantado na sociedade e exercerá influência marcante no mundo. Certamente, “a religião não deve estar divorciada da educação do lar”6. Assim, teremos discípulos capazes de atender as exigências do evangelho.


Referências:

1. Werlei Mello Gomide, professor de teologia na FAAMA e PhD pela Andrews University (EUA), por ocasião da formatura da 9ª turma de Teologia da FAAMA, no dia 5 de dezembro de 2021.

2. Idem.

3. BÍBLIA. Português. Bíblia Sagrada. Nova Versão Internacional - NVI. São Paulo: Editora Vida, 1991.

4. WHITE, E. G. Evangelismo. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira. p. 23. Disponível em: <http://ellenwhite.cpb.com.br/livro/index/47>. Acesso em: 20 jan. 2022.

5. WHITE, E. G. Evangelismo. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira. p. 108, 109. Disponível em: <http://ellenwhite.cpb.com.br/livro/index/47/93/118/planejamento-das-reunioes-evangelisticas>. Acesso em: 20 jan. 2022.

6. WHITE, E. G. Fundamentos do lar cristão. p.130. Disponível em: <http://centrowhite.org.br/files/ebooks/egw/Fundamentos%20do%20Lar%20Crist%C3%A3o.pdf>. Acesso em: 20 jan. 2022.


Abdoval Cavalcanti é Secretário Ministerial da Igreja Adventista do Sétimo Dia para o Acre, Rondônia, Amazonas e Roraima.