Eles começaram, nós terminaremos!
A literatura ainda é um vasto caminho que conduz pessoas a Cristo.
“E vi outro anjo voando pelo meio do céu, e tinha um evangelho eterno para proclamar aos que habitam sobre a terra e a toda nação, e tribo, e língua, e povo, dizendo com grande voz: Temei a Deus, e dai-lhe glória; porque é chegada a hora do seu juízo; e adorai aquele que fez o céu, e a terra, e o mar, e as fontes das águas” (Apocalipse 14:6-7).
Certamente, estas solenes e imortais palavras ecoaram no coração dos primeiros colportores missionários que no século XIX vieram proclamar o evangelho eterno aos brasileiros. Em 1888, um periódico adventista norte-americano registrou algumas palavras de Frederich Dressler solicitando literatura adventista. “Em outro dia, quando estávamos lendo o Arauto ao longo da estrada, um brasileiro queria que lesse para sua família; porque eles também acreditam que o Senhor virá em breve. Dissemos a ele que o artigo foi impresso em alemão e não na língua portuguesa. Então ele desejou um em português e nós prometemos escrever para vocês”.[1]
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Paradoxalmente, Dressler era alcoólatra, e pedia literatura adventista gratuita “com a intenção de vendê-las para alimentar o vício que o destruía”.[2] Este triste fato, porém, não anula a realidade do interesse na mensagem adventista, no Brasil. Em 1891, a Associação Geral da Igreja Adventista do Sétimo Dia votou uma equipe de colportores, entre eles Albert Stauffer, para vir colportar e iniciar o trabalho evangelístico na América do Sul.[3]
A vinda de colportores supriria especialmente a necessidade de literatura em alemão, pois já havia um clamor nesta direção. “Os irmãos do Brasil pedem jornais alemães e um ministro alemão. Há muitas pessoas interessadas ansiosas por ajuda”.[4] “Albert Stauffer foi o primeiro colportor adventista do sétimo dia a entrar no Brasil em maio de 1893, depois de haver trabalhado no Uruguai junto a colonos alemães e suíços”.[5]
A necessidade de obreiros alemães para o Brasil era assunto de oração, e a conversão do jovem marinheiro alemão Albert Bachmeyer à mensagem adventista foi uma significativa resposta àquelas súplicas: “E tendo orado por mais trabalhadores alemães para este grande campo, não perdemos tempo em colocar publicações em suas mãos e falar com ele sobre a verdade presente. Por um bom tempo, ele estava indeciso, mas há cerca de uma semana ele cedeu e declarou sua intenção de guardar o sábado, e entrou em nosso trabalho”.[6]
Uma mensagem além-mar
W. Snyder “pode ser considerado também o primeiro diretor de colportagem da América do Sul”.[7] Ele veio ao Brasil logo depois de Stauffer, fez amizade com Bachmeyer e o treinou.[8] Por sua vez, Bachmeyer empenhou-se na colportagem antes mesmo do seu batismo.[9] Segundo Borges, Bachmeyer e Stauffer venderam a literatura adventista em Indaiatuba, Rio Claro, Piracicaba e outros lugares, o que resultou nos primeiros interessados na mensagem adventista.
Entre eles estava o professor Guilherme Stein Jr., que residia em Piracicaba.[10] Na época, Nowlen descreveu os desafios para colportar no Brasil. “Aqui é um país quase tão grande quanto os Estados Unidos, o censo de 1888 mostrava apenas 14.000.000 de habitantes. Há cerca de um milhão de ex-escravos e o mesmo número de índios. Em uma estimativa baixa, oitenta por cento da população inteira não pode ler ou escrever”.[11]
A seguir, “no início de 1894, chegou ao Brasil o segundo missionário adventista, chamado W. H. Thurston, vindo dos Estados Unidos e estabelecendo no Rio de Janeiro um depósito de livros para atender as necessidades da colportagem local”.[12] Thurston também não falava português, de modo que se sustentou vendendo livros em inglês e em alemão.[13] Stauffer e Thurston trabalharam juntos na obra de publicações inicial no País.[14]
A literatura era enviada pelo país através de barcos, animais e do próprio colportor. Por sua vez, “em 1895, dois colportores irmãos, Alberto e Frederico Berger, chegaram ao Brasil, vindos dos Estados Unidos, iniciando no Rio Grande do Sul um trabalho sistemático de vendas de publicações adventistas nas colônias alemãs; posteriormente, colportaram entre as comunidades alemãs de Santa Catarina, Paraná e Espírito Santo”.[15]
Já em 1896, Lionel Brooking, um inglês convertido, colportava entre os alemães do sul do Brasil.[16] E, pouco mais tarde, em 1898, Augusto Black veio da Alemanha e trabalhou na região do Vale do Itajaí, em Santa Catarina.[17] Na década de 1890, em grande parte devido ao trabalho dos colportores pioneiros, surgiram grupos de adventistas do sétimo dia em vários lugares, como Indaiatuba, Piracicaba e Rio Claro, no Estado de São Paulo; em Curitiba, no Paraná; em Santa Maria, no Espírito Santo; em Teófilo Otoni, Minas Gerais; em Gaspar Alto e Joinville, Santa Catarina; e nas cidades de Não Me Toque, Taquari, Ijuí, Santa Maria, Campo dos Quevedos, Rolante e Fazenda Passos, no Rio Grande do Sul.[18]
Esses missionários mencionados foram os primeiros, e “nas pegadas desses pioneiros seguiram Henrique Tonges, Germano Conrado, Emílio Froeming, Hans Mayr[19], Saturnino Mendes de Oliveira, Antonio L. Penha, José Negrão, André Gedrath e muitos outros que propagaram a nossa literatura de norte a sul e de leste a oeste no vasto Brasil”.[20]
Expansão em solo brasileiro
Devido à limitação de espaço, não é possível contar a história e realizações de cada um desses heróis que trabalharam em nossa pátria. Entretanto, a seguir entenda como a mensagem adventista entrou em Curitiba, no Paraná. Segundo Gross, a cidade tinha apenas 45 mil habitantes, e em 12 de janeiro de 1896, às 11h30 da manhã, inaugurava-se um templo evangélico na rua Comendador Araújo.
Dois visitantes desconhecidos entraram no edifício e assentaram-se. Estava na congregação a senhora Ana Dietrich Otto, parteira de famílias ricas da cidade. Ela sentiu que devia olhar para trás e viu os dois visitantes.[21] “Na segunda-feira pela manhã, estava a senhora Otto à janela de sua residência à rua Barão de Antonina, próximo ao passeio público, quando observou, subindo a rua e batendo em todas as casas, os mesmos dois senhores. Quem eram eles? Sim! Colportores, os primeiros a trabalhar em Curitiba. – Alberto B. Stauffer e um companheiro cujo nome não foi possível precisar. E naquela manhã, Ana Otto comprou o livro ‘Vida de Jesus’ (edição em alemão), de autoria de Ellen G. White”.[22] A senhora Ana e seu esposo, Oscar Emílio Otto, aceitaram a fé adventista, tornando-se os primeiros adventistas conversos no Paraná.
Afinal, o que levou aqueles fieis e intrépidos missionários estrangeiros a deixar seu país de origem para trabalhar nesta terra distante, enfrentando limitações de idioma, transportes e recursos financeiros para compartilhar o evangelho eterno e a tríplice mensagem angélica através da literatura?
Um estudo mais detido revelará que aqueles pioneiros eram verdadeiros discípulos de Jesus, pois, além de manter um compromisso com Cristo, revelaram seu comprometimento com a mensagem e a missão dada pelo Senhor à Sua Igreja. Neles se cumpriram as palavras: “Todo verdadeiro discípulo nasce no reino de Deus como missionário”.[23]
A história dos pioneiros da obra adventista no Brasil é realmente inspiradora. Pesa sobre nós, adventistas do sétimo dia brasileiros, a responsabilidade de continuar o trabalho dos pioneiros em nossa pátria, e de também enviar consagrados missionários ao estrangeiro.
Considerando que o desafio da grande comissão dada por Cristo ainda é a nossa tarefa, a única resposta aceitável que podemos dar é: “Pela graça de Cristo, eles começaram e nós terminaremos! Até que Ele venha, nós também testemunharemos, e espalharemos às mãos cheias a sagrada literatura da verdade presente em nossa pátria e nos campos missionários estrangeiros”.
[1]Friedrich Dressell (Frederich Dressler), Advent Review and Sabbath Herald, 6 de março de 1888, 157.
[2]Michelson Borges, A chegada do adventismo ao Brasil, 1ª ed. (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2000), 57.
[3]Nicolás Chaij. O colportor do êxito (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1992), 43.
[4]“The German Work in South America”, Advent Review and Sabbath Herald, 5 de janeiro de 1892, 6.
[5]Ruy Carlos de Camargo Vieira, Vida e Obra de Guilherme Stein Jr., (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1995), 132; Ver também: Gideón de Oliveira, História de nossa igreja (Santo André, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1965), 308.
[6]E. W. Snyder, “Experiences and Progress in Brazil”, Advent Review and Sabbath Herald, Rio de Janeiro, 24 de outubro de 1893, 5.
[7]E. H. Meyers, Revista Mensal, janeiro de 1929, 4.
[8]Borges, 74-75. Rute Vieira Streithorst. Pelos caminhos e valados (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1997), 49.
[9]O batismo de Albert Bachmeyer ocorreu em junho de 1895 em Gaspar Alto, Santa Catarina. Borges, 89; Streithorst, 49.
[10]Borges, 75.
[11]C. A. Nowlen, “Brazil: Who Will Go?”, Advent Review and Sabbath Herald, 14 de novembro de 1893, 5.
[12]Wilson Sarli. Colportagem: o que é? Objetivos e algumas dicas (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, l993), 18.
[13]Richard W. Schwarz e Floyd Greenleaf, Portadores de luz (Buenos Aires: Asociación Casa Editora Sudamericana, 2002), 222.
[14]Floyd Greenleaf, Tierra de esperanza, 1ª ed. (Buenos Aires: Asociación Casa Editora Sudamericana, 2011), 33.
[15]Sarli, 18. Ver também: David Moróz, Revista Adventista, “Origem e História dos adventistas no Rio Grande do Sul”, Casa Publicadora Brasileira, Tatuí, São Paulo. dezembro de l993, 7.
[16]Heriberto Peter, “Desarrollo histórico de la Iglesia Adventista en la Argentina hasta 1908” (Tesis de Maestría em Teología, Colégio Adventista del Plata, Villa Libertador San Martin, Entre Ríos, 1984), 50.
[17]Vieira,151.
[18]Moróz, 7.
[19]Hans Mayr, El abuelito Hans, 1ª ed. (Buenos Aires: Asociación Casa Editora, 2004).
[20]Streithorst, 50-51.
[21]Renato Gross, Colégio Internacional de Curitiba (Curitiba: Collins Editora, l996), 21-22.
[22]Ibídem.
[23]Ellen G. White. Serviço cristão, 9ª ed. (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2012), 9.
Para compreender mais sobre a chegada da mensagem adventista ao Brasil, assista ao documentário abaixo: