A oração não respondida de Jesus
O retrato do cristianismo nas redes sociais conspira contra o maior desejo do Mestre
Os evangelhos registram vários momentos de oração de Jesus, mas nenhum deles se iguala em profundidade e extensão a João 17. Essa oração singela com os discípulos é uma lição da obra intercessora de Cristo em favor da humanidade.
Supostamente chamada pela primeira vez de “a oração sacerdotal de Jesus” por David Chytraeus, no século 16, seu conteúdo se divide em três partes: o Mestre ora por si mesmo (versos 1-5), por seus discípulos (versos 6-19) e por todos aqueles que viriam a crer nele (versos 20-26). Cada ponto apresentado por Ele nos desafia a ser hoje a resposta de sua oração.
Leia também:
Em João 17:15, Jesus intercede pelos discípulos a fim de que eles sejam guardados do mal. Ele não pede ao Pai que seus seguidores sejam tirados do mundo, o que lhes garantiria segurança absoluta, mas que sejam protegidos do mal e, por inferência, do maligno.
Na sequência, em João 17:17, Cristo apresenta ao Pai a vontade de que seus discípulos sejam santificados na verdade. Eles devem ser transformados pelo conhecimento das Escrituras.
Por último, em João 17:21, Jesus expressa o desejo de que seus discípulos sejam um, assim como Ele e o Pai são um. Tal união em amor evidencia o poder de Deus e a glória de Cristo, resultando no crescimento da comunidade de fé. É digno de nota que o pedido por unidade é o único que se repete na oração (verso 11), o que demonstra a seriedade do tema na perspectiva do Mestre.
Em síntese, o Salvador intercede por proteção, santidade e união e, desse modo, esboça um quadro do que espera do povo, que se chama por seu nome, cumpre sua missão e aguarda sua vinda.
Distanciamento bíblico
Ao confrontar os pedidos da oração de Jesus com algumas posturas adotadas pelos cristãos, concluo que estamos longe de ser a resposta ideal. E, pior ainda, as pessoas que nos observam estão chegando à mesma conclusão. Se antes o mundo tinha acesso ao nosso contexto somente por intermédio da convivência próxima, atualmente basta acessar a internet para perceber nossas fragilidades e defeitos.
O ambiente virtual tem dado às pessoas a oportunidade de se expressarem de qualquer jeito sobre qualquer assunto. Assim, alguns irmãos na fé assimilaram essa característica e fizeram das redes sociais o púlpito para a divulgação de suas ideias. E o que se vê? Críticas mordazes a pessoas e instituições cristãs, polêmicas em relação a aspectos teológicos, julgamentos desrespeitosos, ofensas mútuas, enfim, uma série de atitudes que divergem do que se espera de uma comunidade guardada do mal, santificada na Palavra e unida pelos laços fraternos do amor cristão.
Thomas Brooks foi preciso ao afirmar que “não causa espanto os lobos importunarem as ovelhas, mas uma ovelha afligir outra é contrário à natureza”. Não sou favorável a uma postura passiva diante de pontos questionáveis de conduta ou doutrina. Porém, a Bíblia não endossa o julgamento público e virtual que se tornou a prática de alguns cristãos.
Os problemas que dizem respeito à comunidade de fé deveriam ser resolvidos em seu círculo. Essa foi a instrução de Cristo (Mateus 18:15-20) e de Paulo (1Coríntios 6:1).
Tendo condenado o julgamento de questões espirituais na esfera secular, o que Paulo diria sobre a prática de debater acerca dos diferentes pontos de vista da igreja na arena pública da internet? Não consigo imaginar sua provação!
A escritora Ellen White parece ter retratado o que se vê atualmente nas redes sociais quando disse: “Há os que são combativos por natureza. Pouco se lhes dá concordarem ou não com seus irmãos. Têm prazer em entrar em polêmicas, gostam de lutar em defesa de suas ideias singulares; devem, porém, pôr de lado isso, pois não contribui para promover as graças cristãs. Trabalhem com todas as forças para atender à oração de Cristo, isto é, que seus discípulos fossem um, assim como Ele é um com o Pai” (Mente, Caráter e Personalidade, v.1, p. 40).
Com coração de pastor, eu oro: “Senhor, ajuda esta geração a ser a resposta da tua oração.”