Desserviço à missão
Apontar os problemas da igreja pode ser fácil. Mas e quanto a se reconhecer como parte deles?
“Pastor, vamos trazer o pregador itinerante ‘fulano de tal’ para fazer um fim de semana com Deus na nossa igreja?” “Veja, pastor, esse escritor de livros aqui é nosso irmão em Cristo e fala umas verdades que a Igreja não tem coragem de falar.” “Pastor, o que você acha dessa youtuber? Assista aqui no meu celular.”
Esses atuais desafios ministeriais nos mostram que pessoas tentando reformar ou reavivar a Igreja têm sido vistas como nunca antes. É claro que o atual dinamismo da comunicação pode, em muito, beneficiar a pregação do evangelho e o fortalecimento eclesiástico. Entretanto, a sociedade da informação tem, também, dado a oportunidade para que pseudoreformadores e reavivamentistas não somente se autoproclamarem, como também influenciarem outros às prestações de desserviços ao corpo de Cristo.
Essa multiplicação de falsas tentativas de reavivamentos e reformas termina enfraquecendo a comunidade dos crentes e dando mal testemunho. Um olhar atento a algumas referências bíblicas pode ajudar o cristão a identificar e saber como portar-se diante de reavivamentos falsos e verdadeiros nos dias atuais.[1]
Quando Deus escreveu os Dez Mandamentos em tábuas de pedra e entregou para Moisés, os dois tipos de reavivamentos aconteceram (Êxodo 32). Uma parte do povo, sob a liderança de Arão, extasiou-se numa adoração, apenas prazerosa para eles, que se mostrou apóstata e desastrosa; e a outra juntou-se a Moisés para consagração e reforma restauradora, que exigiram-lhes sacrifícios.
Note o contraste das posturas desses dois spiritual infulencers (influenciadores espirituais). Arão joga a culpa na congregação, como se ele não fizesse parte da mesma (versos 22-24). Moisés inclui-se ao povo numa identificação tão grande ao ponto de considerar que seu próprio nome seja riscado do livro da vida, uma vez que, como povo, encontravam-se em pecado (verso 32). “Pela fé Moisés, já adulto, recusou ser chamado filho da filha do faraó, preferindo ser maltratado com o povo de Deus a desfrutar os prazeres do pecado durante algum tempo. Por amor de Cristo, considerou a desonra riqueza maior do que os tesouros do Egito, porque contemplava a sua recompensa (Hebreus 11:24-26).
Sinais de alerta
Uma tendência do falso reformador é dizer que a Igreja tem problema, deixando subentendido que esse problema não lhe pertence. Isso você vê no templo local, nas conversas entre os irmãos, nas redes sociais e por toda parte, inclusive, até nos púlpitos. São pessoas que procuram influenciar os outros usando o nome de Deus, o rito religioso, a palavra e a confiança em sua própria justiça (Lucas 18:9-12), desprezando os que, talvez por não serem tão hipócritas, terminam sendo mais expostos em sua autenticidade (Provérbios 28:13).
Os reformadores que não provêm de Deus costumam sempre parecer donos da verdade e mais entendidos e dignos que os demais irmãos. Você não precisa apontar o dedo para eles, mas em seu entendimento você pode identificá-los. Afinal, quando Jesus comentou que nem todos esses pregadores religiosos fazem parte do reino dos Céus, deixou a dica: “pelos seus frutos, vocês os reconhecerão” (Mateus 7:20).
Nessa mesma aula, Cristo dá três dicas claras para identificarmos o reformador autêntico:
1) Limita-se e fundamenta-se nas Escrituras Sagradas;
2) Tem uma vida irrepreensível e compatível com tal fundamentação;
3) Seu ministério – aquilo que ele vive - tem uma duração benéfica muito longa (Mateus 7:20-27).
E o mais incrível é que o verdadeiro adorador, mesmo carregando consigo essas virtudes, não se estriba nelas (Provérbios 3:5). Pelo contrário! A reforma que Daniel buscou e provocou era tão autêntica que, em uma só oração, aquele santo assumiu os pecados dos outros irmãos em sua própria conta mais de vinte vezes, legando-nos a maior e mais vivificante profecia de todos os tempos (Daniel 9). Cristo deixou claro que o crente que ficou à distância nem ousava olhar para o céu, mas batendo no peito, dizia: ‘Deus, tem misericórdia de mim, que sou pecador.’ Era ele o que estava justificado diante de Deus (Lucas 18:13-14).
Foco na mensagem bíblica
Deus não precisa de justiceiros (Tiago 1:20), tampouco de supostos(as) ministros(as) que se autonomeiam (Hebreus 5:4). Num templo local, quando um membro me procura dizendo que a igreja está cheia de problemas, eu lhe pergunto imediatamente: “É mesmo, irmão? Qual é o seu problema?” E quando ele me olha, assustado, explico: “É que você disse que ‘a igreja está com problema’, e você é a igreja. Então, posso ajudá-lo?”
Geralmente, a pessoa vai dizer: “Não, pastor, não é comigo. É com outras pessoas que também são igreja.” Nesse ponto, a conversa entra na possibilidade de terminar de forma muito boa: “Ótimo, irmão. Se uma parte de nós tem problema, e você está sem nenhum problema, você é a solução. Não precisa nem me contar o que é. Conte-me já o que você vai fazer, ou já está fazendo, para ajudar a solucioná-lo.” De João 8:7 podemos correr para Mateus 18:15. A pessoa que tem uma preocupação realmente divina para com um problema na igreja não sai falando “do” problema; ela conversa “com” o problema. Cristo precisa de bálsamos (Lucas 10:25-37).
Mas ainda que alguém promova supostas news diferentes daquilo que os apóstolos já nos pregaram, que seja denunciado e reprovado! Vamos reprisar para ficar bem enfatizado: se algum caça-cliques está publicando ou compartilhando supostas novidades diferentes daquelas que você já tem na Bíblia, que seja ignorado e bloqueado! (Gálatas 1:8-9).
Sabe por quê? É porque, “de fato, muitos enganadores têm saído pelo mundo” É o Diabo mesmo! Então, vamos tomar cuidado para que a gente não destrua o fruto do trabalho da Igreja. “Todo aquele que não permanece no ensino de Cristo, mas vai além dele, não tem Deus, […] mas sim, apenas, sede de público. Logo, […] se alguém chega a vocês e não trouxer esse ensino, não o recebam em casa nem o saúdem. Pois quem o saúda torna-se participante das suas obras malignas” (2 João 7-11). Apenas estenda-lhe graça, pois é uma parte do corpo de Cristo que está tão ferida quanto aquela outra para a qual aponta.
Referências:
[1] Alberto Timm durante palestra realizada no dia 25/11/2018 aos delegados da IV Assembleia Quadrienal da Associação Central Sul Rio-grandense da Igreja Adventista do Sétimo Dia, em Porto Alegre.