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Coluna | Rodrigo Silva

Podemos ainda acreditar na Bíblia?

O que evidências históricas importantes apontam em termos de confiança na Bíblia. Entenda como certas críticas não se sustentam.


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Manuscritos antigos, um símbolo de achados antigos comprovando a veracidade do relato bíblico. (Foto: Shutterstock)

O famoso escritor russo Fiodor Dostoiévski, autor de clássicos como Crime e Castigo e Os irmãos Karamavov, escreveu algo muito interessante acerca de Deus. Enquanto muitos viam no sofrimento e nos problemas uma evidência a favor do ateísmo, Dostoiévski via aqui a própria tônica da existência divina. Ele dizia que “é lógico que Deus existe, veja que nem as maiores tragédias nos fizeram desistir dele” De fato, essa conclusão do escritor russo se torna muito atual quando vemos que, apesar do mundo virar as costas para o sagrado, Deus ainda ocupa um grande espaço nos meios de comunicação. Para tristeza dos descrentes, a humanidade não consegue se ver livre da idéia de Deus, estão sempre falando a respeito dele, nem que seja para nega-lo.

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Alguns, é claro, não pretendem negar diretamente a existência de Deus, mas acabam fazendo-o quando negam sua Palavra ou duvidam da história que ela apresenta. E é justamente isso que temos visto no movimento cada vez mais crescente de produções literárias escritas por cientistas e acadêmicos que simplesmente dizem não acreditar na historicidade da narrativa bíblica.

Ceticismo

Um exemplo marcante vem dos professores Israël Finkelstein diretor do instituto de arqueologia da universidade de Tel Aviv e Neil Asher Silberman, um jornalista filiado ao Centro de Arqueologia Pública da Bélgica.

Ambos escreveram um livro sobre arqueologia intitulado A Bíblia desenterrada que já foi publicado em vários idiomas, inclusive português. Aliás, é curioso notar que no Brasil, o mesmo livro teve seu título trocado por E a Bíblia não tinha razão – um nome bastante pretensioso, não acha?

Bem, conforme a sugestão do próprio título em português, o objetivo dos autores é mostrar que suas pesquisas arqueológicas não confirmam em praticamente nada a história contada na palavra de Deus. Veja o que eles dizem:

“O processo que temos descrito aqui é, de fato, o oposto do que encontramos na Bíblia. O surgimento do antigo povo de Israel foi o resultado de um colapso da cultura canaanita e não o que a causou. A maior parte dos israelitas não veio de fora de Canaã. Eles emergiram de dentro desta terra. Não houve nenhum êxodo em massa do Egito, nem uma conquista violenta de Canaã. A maior parte do povo que formou o antigo Israel eram moradores locais. Os israelitas primitivos eram – ironia das ironias – originariamente cananeus!”

Como você pode ver Finkelstein e Silberman negam que os principais eventos do Antigo Testamento tenham de fato ocorrido na história. Na opinião desses dois especialistas, o Êxodo jamais existiu, não houve nenhuma conquista de Canaã sob o comando de Josué e o reino unido administrado pelo rei Davi não passa de pura lenda. Será isso verdade? Afinal, os que chegaram a essa conclusão são dois respeitados pesquisadores. E, para agravar a situação, devemos admitir que não possuíamos ainda uma prova formal para muitas das histórias que a Bíblia apresenta. Não temos, com base no que se encontrou até hoje, nenhuma evidência histórica direta que confirme existência de Daniel em Babilônia ou de Salomão no palácio em Jerusalém.

Mas espere um pouco! Essa não é uma deficiência da Bíblia, mas de toda a história em geral. Afinal, grande parte do tesouro arqueológico das mais antigas civilizações do passado encontra-se perdido e todo historiador sabe disso.

Aliás, você sabia que até mesmo as mais conhecidas fontes históricas de Alexandre Magno são baseadas em documentos bastante tardios? Não há nenhum registro do IV século a.C. que confirme sua presença ou de seu exército na Índia ou, sequer, mencione sua existência e seus feitos. As mais antigas fontes da vida de Alexandre que conhecemos datam de 300 a 800 anos depois de sua morte. Além disso, muitas dessas fontes documentais são reconhecidamente mitológicas e não estão preservadas nos manuscritos originais, mas em cópias tardias posteriores ao II século depois de Cristo. Por que, então, dizer que Alexandre Magno é um personagem histórico e Abraão é um mero mito?

E tem mais! A despeito de não possuirmos em mãos artefatos suficientes para documentar cada episódio da Bíblia, nós, também, não temos, por outro lado, qualquer prova absoluta que negue ou desminta os eventos bíblicos. E isso é um elemento muito importante para ser ignorado. Assim, lembrando que a maioria esmagadora dos artefatos antigos ainda está por ser descoberta, entendemos que, teses como a de Finkelstein e Silberman se baseiam grandemente no argumento do silêncio.

Imagine, agora, que alguém anunciasse na recepção de um hotel cinco estrelas que perdeu nas proximidades da piscina uma caneta Mont Blanc importada no valor de 2 mil dólares. O fato de ninguém encontrar a caneta não autoriza determinado funcionário a afirmar categoricamente que aquele hóspede mentiu e que nunca houve uma caneta Mont Blanc nas proximidades da piscina. Um empregado mais simples e desacostumado com a cultura do mundo empresarial poderia até supor com um outro colega que tudo não passa de um mito pois, afinal, quem daria 2 mil dólares numa caneta?

Ora, o que parece impossível para a mente do funcionário simples seria algo perfeitamente comum para os executivos que estão acostumados a usar canetas muito mais caras do que essa, de modo que e que é perfeitamente normal que alguém perca uma caneta tão cara na piscina de um hotel cinco estrelas. Do mesmo modo, costumes “estranhos” do Oriente Médio talvez firam o consenso moderno-ocidental a que estamos acostumados e nos faz comportar equivocadamente como o empregado simples do hotel achando que aquilo seria algo impossível de acontecer. Uma coisa não deve ser considerada mito apenas porque não faz parte de nosso dia a dia.

Devemos, também, nos lembrar que é possível apresentar mil possibilidades para o sumiço e não achado da caneta antes de apontar o hóspede como um mentiroso. Ela poderia simplesmente ter caído no quarto e por isso não foi encontrada na piscina pois todos a buscavam no lugar errado. Ou alguém pode também tê-la encontrado e guardado para si ou vendido para outrem, e pode ainda acontecer que meses depois um funcionário esteja limpando as mediações da mesma piscina e encontre a caneta evidenciando aquele curioso provérbio que diz: “a melhor maneira de encontrar uma coisa, é procurando outra”.

Essa alegoria da “caneta perdida” ilustra o que se passa no mundo da arqueologia bíblica. Alguns, como os funcionários incrédulos do hotel, negam a versão do hóspede apenas porque não acharam o objeto que ele disse ter perdido. É justamente assim que agem escritores como Silberman e Filkelstein.

Comprovações arqueológicas

Eles se esquecem que o pouco que já se encontrou nas escavações do Oriente Médio confirma em muitos detalhes aquilo que a Bíblia apresenta. E isso já seria por demais suficiente. Por outro lado, também parecem desconhecer que já no passado houve outros autores céticos, como eles, que tiveram suas teses corrigidas com o tempo.

Um deles foi Charles C. Torrey, que em 1930 se destacava como um dos mais renomados professores da universidade de Yale, nos Estados Unidos. Eloquente em seu discurso e bastante dogmático em seus escritos, Torrey jogou um balde de água fria nos religiosos. Ele fez isso ao afirmar em um de seus livros que não acreditava absolutamente que houve um cativeiro dos judeus em babilônia e um retorno sob o governo de Ciro.

Ora, essa história está muito bem documentada nos livros de Jeremias, Daniel e outras partes da Bíblia, mas Torrey insistia em dizer que tudo não passava de um mito.  Pois não havia evidência alguma da estada dos judeus na corte de Babilônia ou até mesmo de um ataque dos babilônios ao reino de Judá.

Se fosse hoje, a foto de Torrey estaria estampando várias revistas de circulação nacional que trariam como matéria de capa uma chamada mais ou menos assim: “A Bíblia no banco dos réus! – Especialista em arqueologia desmente a história bíblica do cativeiro judeu”. Com certeza, venderiam muitos exemplares, mas teriam de desmentir sua manchete pois, oito anos após a publicação do livro de Torrey, o professor Ernst F. Weidner, especialista em paleografia da universidade de Berlim, terminou a tradução de vários tabletes cuneiformes encontrados no palácio real de Nabucodonosor. E, assim, confirmou não somente a presença de judeus cativos em Babilônia, mas a existência histórica do efêmero rei Jeoaquim que havia sido levado para lá juntamente com seus filhos por volta de 592 aC – o que está plenamente de acordo com o testemunho das escrituras.

Um dos tabletes cuneiformes decifrado por Weidner, em seu texto neo-babilônico, diz:

“... [um suprimento de comida deve ser dado a] Jeoaquim rei da terra de Judá e a seus cinco filhos também vindos de Judá, e também aos ... judeus que estão com eles.”

Outro conjunto de documentos cuneiformes chamado Crônicas de Babilônia também foi traduzido na mesma ocasião e publicado por especialistas do museu Britânico. Um deles mencionava claramente o avanço de Nabucodonosor sobre a Judeia, exatamente conforme o relato bíblico:

“No sétimo ano, ao mês de Kislimu, o rei de Babilônia reuniu suas tropas e marchou para a região da palestina. Ele acampou contra a capital de Judá, Jerusalém, e no segundo dia do mês de Addaru, a tomou, capturando o seu rei.”

Enquanto o público acadêmico recebia surpreso a tradução desses antigos textos, as escavações de Laquis, Debir e outras cidades da Judéia confirmavam o massivo ataque dos babilônios durante os dias de Nabucodonosor. E o modo abandonado como essas cidades ficaram até ao fim do cativeiro. Tudo exatamente conforme o texto bíblico e contrário às afirmações do renomado especialista de Yale.

É provável que, no futuro, como aconteceu com Torrey, as teorias de Filkelstein e Silberman tenham de ser revistas. Aliás, o próprio Finkelstein foi obrigado a admitir numa entrevista dada a Hershel Shanks, editor da Biblical Arqueology Review, que Davi e Salomão– ao contrário do que diziam os críticos anteriores – foram personagens real que realmente existiram na história. No caso de Davi, Finkelstein foi obrigado a admitir sua existência graças ao achado de uma pedra em 1993 nas escavações de Tel Dan, em Israel.

A insistência de alguns em negar o relato das Escrituras não deveria nos surpreender uma vez que a história passada sempre esteve repleta desse tipo reação crítica à Palavra de Deus. Mas nada melhor que a própria história para corrigi-los!

Rodrigo Silva

Rodrigo Silva

Evidências de Deus

Uma busca pela verdade nas páginas da história.

Teólogo pós-graduado em Filosofia, é mestre em Teologia Histórica e especialista em Arqueologia pela Universidade Hebraica de Jerusalém. Doutor em Arqueologia Clássica pela Universidade de São Paulo (USP), é professor do Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp), curador do museu arqueológico Paulo Bork, e apresentador do programa Evidências, da TV Novo Tempo.