Descrença avança em alguns países
O que significa a crescente descrença em Deus, registrada em vários países do mundo?
Quando Jesus vier, encontrará fé na Terra? Essa pergunta é feita no evangelho de Lucas, capítulo 18, verso 8, e parece refletir cada dia mais a realidade em boa parte do nosso planeta. Um modelo matemático, publicado em um encontro da Sociedade Americana de Físicos, em Dallas, nos Estados Unidos, indicou que a religião pode simplesmente acabar em alguns países. Os pesquisadores examinaram dados do censo que em alguns casos incluíam informações coletadas por mais de cem anos. Os países estudados foram: Austrália, Áustria, Canadá, Finlândia, Holanda, Irlanda, Nova Zelândia, República Checa e Suíça. Para fazer a análise, eles usaram o sistema dinâmico não linear – um método matemático que pode explicar fenômenos complexos influenciados por vários fatores.
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Segundo Richard Weiner, da Universidade do Arizona, em democracias seculares modernas há maior tendência de as pessoas se identificarem como não pertencentes a qualquer religião. Na Holanda, esse número foi de 40%, enquanto na República Checa foi de 60%. A conclusão do estudo foi que as religiões podem ser extintas nesses locais.
Outra pesquisa, encomendada pela Associação Islandesa Humanista e Ética, revelou que nenhum jovem com 25 anos ou menos na Islândia acredita que foi Deus quem criou o Universo. Os resultados da pesquisa foram publicados em um artigo na The Iceland Magazine. Os islandeses cada vez menos se identificam como cristãos. Enquanto a pesquisa revelou que 61,1% dizem acreditar em Deus, a proporção é mais baixa nos grupos etários mais jovens, indicando uma tendência de secularização da sociedade islandesa.
Menos da metade dos islandeses afirmaram ser religiosos (46,4%) e mais de 40% dos jovens se identificaram como ateus. Os pesquisadores não conseguiram encontrar um jovem islandês sequer que aceite o relato da criação na Bíblia. Quase 94% dos islandeses com idade inferior a 25 anos acreditam que o mundo foi criado no Big Bang; 6,1% não têm opinião e 0,0% acreditam que o mundo foi criado por Deus.
As pessoas mais velhas são muito mais propensas a professar crenças religiosas e se identificar como cristãs do que as mais jovens. 80,6% das pessoas com idade superior a 55 se identificaram como cristãs e apenas 11,8% disseram ser ateias. Ao mesmo tempo, 40,5% das pessoas com 25 anos ou mais jovens disseram que eram ateias, e 42% disseram ser cristãs.
Crenças cristãs tradicionais também parecem mais comuns fora de Reykjavík, a capital do país. Longe da região, 77% a 90% das pessoas se identificaram como cristãs e 7,1% a 18% como ateias, em comparação com 56,2% da população de Reykjavík que se identificaram como cristãs, e 31,4% como ateias.
Muitos cristãos parecem estar abraçando a versão de que Deus teria criado o Universo por meio do Big Bang e da evolução, principalmente porque, em outubro de 2014, o papa Francisco disse que essas duas teorias são reais.
Alguns dados ficam claros: a descrença é maior em países desenvolvidos, nas capitais desses países e entre a população mais jovem. Ou seja, onde há conforto, segurança, vigor físico e entretenimentos à vontade. Quando a pessoa se afasta da loucura inebriante das grandes cidades, quando a maturidade chega ou se perde algum dos itens associados à qualidade de vida, geralmente as convicções são reavaliadas. Por que será que os mais velhos geralmente são mais religiosos? Por que será que os países em que as pessoas mais sofrem também são os mais religiosos? Por que os que têm mais contato com a natureza e menos com as selvas de pedra manifestam mais espiritualidade?
No livro O Ateísmo Moderno, o teólogo Georg Siegmund documenta o fim da vida de alguns filósofos famosos, como Nietzsche, Kant, Hegel e Heine. É interessante notar que, entre vários desses pensadores que defenderam o ateísmo na juventude, houve conversões ao cristianismo quando alcançaram a maturidade. Um caso bem interessante é o de Heinrich Heine, grande defensor do ateísmo que, antes de morrer, declarou a um amigo que havia se reconciliado com Deus.
É muito fácil proclamar a independência de Deus quando tudo vai bem na vida; quando se pensa que tudo de que necessitamos é conforto, saúde e dinheiro. Por outro lado, não deixa de chamar atenção o fato de que é justamente em países desenvolvidos que as taxas de suicídio têm crescido assustadoramente. Parece que tem algo errado aí.
Quando Jesus vier, encontrará fé na Terra? Infelizmente, esse é um artigo que tem feito muita falta neste mundo confuso.
Veja nesse vídeo um pouco mais do assunto com o nosso colunista: