Ter filhos desenvolve o caráter
Poucos se dão conta dos benefícios decorrentes do cuidado, da responsabilidade e da experiência que as crianças trazem para a família.
Eu conversava com uma cliente e ela comentou estar em um dilema. Formada e casada há alguns anos e com a idade perfeita para iniciar qualquer projeto, ela parou para pensar: “Não sei se me dedico a construir minha família ou a desenvolver minha carreia profissional”.
Fiz-lhe algumas perguntas para que ela pudesse enxergar a situação de vários ângulos e ampliar sua perspectiva para tomar a decisão. Ainda continuamos trabalhando no caso, mas sua primeira resposta me fez pensar bastante: “Acho que primeiro vou me dedicar à minha carreira. Sinto um vazio profissional que preciso preencher”.
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Recentemente, em meu momento de devoção pessoal, li uma citação que confirmou ainda mais meu pensamento a respeito desse dilema.
Ellen G. White, no livro Mente Caráter e Personalidade, v. 1, p. 62, diz o seguinte: “Muitos poucos reconhecem os benefícios do cuidado, da responsabilidade e experiência que as crianças trazem à família. Uma casa sem crianças é lugar desolado. O coração dos habitantes está em perigo de tornar-se egoísta, de cultivar um amor pela sua própria situação, e consultar seus próprios desejos e conveniências. Acumulam compaixão para si mesmos, mas pouco têm para conceder a outros. O cuidado e a afeição para com crianças dependentes remove a rusticidade de nossa natureza, faz-nos ternos e compassivos, e influi no desenvolvimento dos elementos nobres de nosso caráter”.
Em nossa sociedade atual, vemos cada vez mais jovens e adultos adiando o estabelecimento da família para satisfazer desejos e realizações pessoais. Não quero que me entendam mal. Não é errado querer ter sucesso profissional, laboral e pessoal, mas isso não deve ocorrer em detrimento de uma das instituições mais importantes da qual somos mordomos e responsáveis na sociedade.
O individualismo e o egocentrismo, ao nos colocarmos como o centro do universo, nos levam a ser vítimas da maioria das doenças mentais e emocionais que sofremos. Ansiedade, estresse, depressão e uma série de outros sintomas que somatizam nosso desequilíbrio mental.
O tempo passa enquanto nos concentramos em satisfazer nossos desejos existenciais e, quando olhamos para trás, já não temos tempo para os outros; não temos paciência, não nos resta amor, não temos idade para a vida familiar.
Egoísmo evidente
Pesquisando na internet sobre os motivos pelos quais as pessoas decidem deixar de lado a bênção de ter filhos, encontrei alguns que me deixaram desconfortável:
- Você pode tirar sonecas sem se preocupar que uma criança esteja incendiando a casa enquanto você dorme.
- Você pode amaldiçoar livremente em sua casa sem se preocupar com uns pequenos duendes travessos ouvindo o que você disse.
- Como resultado, adultos sem filhos são menos propensos a sofrer de depressão.
- Você não terá a preocupação de ser um pai ruim e, acidentalmente, criar um monstro.
- É muito caro criar um filho. Pense em tudo o que você poderia comprar com esse dinheiro.
- Como sobra mais dinheiro, você pode tirar férias espontâneas sem ter que procurar uma acomodação especial para seu filho.
- Se você quiser, pode até se mudar para uma nova cidade só por um capricho.
- Pode comprar seus próprios móveis que não ficarão manchados com pequenas e sujas impressões digitais.
- Falando de sexo, você poderá tê-lo onde quiser sem medo de que seus filhos entrem.
- Não ter filhos torna a vida adulta muito mais divertida!
Vou parar por aqui porque não encontro palavras para descrever tamanha demonstração de egoísmo.
É verdade que um filho exige nosso tempo, dinheiro, dedicação, sabedoria, bom exemplo, carinho e amor, mas... Será que somos incapazes de deixar de olhar para nosso próprio umbigo para ver, aprender, crescer, amadurecer, experimentar e desfrutar transcendendo na vida de outra pessoa?
Com transcender na vida de outra pessoa, estou me referindo a se sentir satisfeito não apenas com suas realizações pessoais, mas também com os êxitos e conquistas de seus filhos, a quem você ama e respeita por quem eles são.
Em minha experiência pessoal, posso dizer que minhas filhas são uma bênção. Ninguém ensina o que os filhos lhe ensinam; ninguém desafia você a se superar como eles; ninguém posiciona você socialmente como eles; ninguém realiza você humanamente como eles... e se você é pai ou mãe responsável, ninguém lhe dá tanto orgulho quanto eles.
Apenas um empréstimo
Nessa busca de material, eu também encontrei uma definição atribuída ao poeta espanhol José Saramago que adorei:
“Filho é um ser que Deus nos emprestou para fazer um curso intensivo de como amar alguém mais do que nós mesmos; de como mudar nossos piores defeitos para lhe dar os melhores exemplos e, de nossa parte, aprender a ter coragem.”
Sim, é isso!
Ser mãe ou pai é o maior ato de coragem que alguém pode ter, porque é expor-se a todo tipo de dor, principalmente da incerteza de estar agindo corretamente e do medo de perder algo tão amado.
Perder? Como? Não é nosso?
Foi apenas um empréstimo.
O empréstimo mais precioso e maravilhoso, visto que eles são nossos apenas enquanto não podem se defender por si mesmos, pois em pouco tempo pertencem à vida, ao destino e a suas próprias famílias.
Que Deus sempre abençoe nossos filhos, pois nós já fomos abençoados com eles”.
E as Escrituras Sagradas reafirmam isso no Salmo 127:3: “Os filhos são um presente do Senhor, uma recompensa que Ele dá” (NVI). E em Provérbios 17:6: “Assim como os avós se orgulham dos netos, os filhos se orgulham dos pais” (NTLH).
O detalhe é: “O cuidado e a afeição para com crianças dependentes, remove a rusticidade de nossa natureza, faz-nos ternos e compassivos, e influi no desenvolvimento dos elementos nobres de nosso caráter” (Mente, Caráter e Personalidade, v. 2, p. 62).