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Coluna | Karyne Correia

Castelos no ar: a influência dos romances na mente

Veja neste artigo de que forma esse gênero literário influencia nossos pensamentos e comportamentos.


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Sempre gostei de romances. Na infância eram os contos de fadas que faziam meus olhos brilhar. Depois vieram os filmes com aquelas histórias lindas que roubam suspiros e enchem os olhos de lágrima (pelo menos os meus).

Alguns anos se passaram e, do mundo encantador dos romances, eu fui levada ao mundo real dos adultos. Comecei a trabalhar com mulheres e depois com casais. Era impressionante como a realidade dessas pessoas em nada se parecia com as histórias dos romances. Talvez mais impressionante era ver que na mente de muitas mulheres, e até de alguns homens, a realidade de suas vidas se tornava ainda mais indesejável quando elas a comparavam com os ideais sobre relacionamento cultivados desde a infância em sua mente. Ideais estes construídos sob a influência das histórias dos contos de fadas, dos filmes, das novelas, dos livros, do irreal.

Costumo dizer que nós superestimamos nossa capacidade de controlar a influência que algo tem sobre nossa mente. Agimos como se fôssemos capazes de decidir racionalmente absolutamente tudo. Este é um tremendo erro de nossa parte.

Desde que nascemos somos influenciados pelo ambiente e o que nele há. Criamos nossa forma de ver o mundo a partir destas influências. Sem que percebamos, conceitos e crenças são desenvolvidos e convertidos em pensamentos, comportamentos e emoções. E entre tantas áreas sobre as quais desenvolvemos conceitos e crenças está a vida amorosa.

É possível que boa parte dos que estão lendo estas palavras agora não dê tanto crédito ao que está escrito aqui. Mas é possível que tantos outros vejam claramente como isto é real. O desenvolvimento de conceitos e crenças influenciado por romances não é saudável! Por mais que você pense que sabe discernir entre o que é real e o que é fantasia, você não tem todo este controle sob a sua mente.

Além de ver na vida dos meus pacientes, das pessoas com quem eu conversava, das minhas amigas, e em minha própria vida, como esta influência é problemática, certo dia me deparei com o seguinte texto: "a conduta seguida por muitos pais ao permitir que os  filhos sejam indolentes e satisfaçam seu desejo de ler romances, incapacita-os para a vida real. A leitura de contos e novelas é o maior mal a que podem entregar-se os jovens. As leitoras de novelas e histórias de amor sempre deixam de ser mães boas e práticas. Elas constroem castelos no ar, e vivem num mundo irreal e imaginário. Tornam-se sentimentais e têm concepções doentias. Sua vida artificial tende a arruiná-las para tudo o que é útil. Têm a inteligência diminuída, embora nutram a ilusão de serem superiores em mentalidade e atitudes.” (Ellen White, Conselhos Sobre Saúde, páginas 187 e 188)

Confesso que foi bem desagradável ler este texto. Ele é duro demais para alguém que, como eu, era apaixonada por romances. Mas ele é uma descrição correta da realidade. Isto explicava muita coisa com a qual eu tinha de trabalhar no consultório, e em minha própria vida.

Há algum tempo atrás li sobre um livro chamado Princess Recovery: A How-To Guide to Raising Strong, Empowered Girls Who Can Create Their Own Happily Ever Afters (em português seria algo como “Recuperação da Princesa: um guia de como criar garotas fortes e poderosas, que podem fazer seu próprio final feliz”). Nele, a doutora  Jennifer Hartstein orienta aos pais sobre alguns cuidados e atitudes que devem tomar para ajudar suas filhas a desenvolverem-se de forma mais saudável, uma vez que nossas garotinhas continuam sob a influência do mundo irreal das princesas e dos contos de fadas. E sob esta influência é que elas desenvolvem valores, conceitos e formas de ser. A doutora Jennifer é psicóloga e sabe quão danosa é esta influência para a vida afetiva, profissional, social, enfim, todas as áreas, da vida de uma mulher.

Mais recentemente percebi que virou uma febre entre adolescentes, e até entre algumas amigas adultas, falar do romance A culpa é das estrelas. Este é apenas mais um dos tantos que fazem a cabeça feminina construir seus castelos no ar. Na minha época de adolescente a moda era Walk to Remember (que em português recebeu o título “Um amor para recordar”).

Lindo, encantador, assisti dezenas de vezes, mas nada saudável de acordo com o que entendi posteriormente sobre como funciona nossa mente. Não estou aqui dizendo que estes romances são completamente mentirosos. Sei que muitos deles se baseiam em fatos reais. Mas não se baseiam na sua vida, caro leitor. Eles trazem consigo valores que não cabem aos nossos relacionamentos. E por isso nos conduzem a relações doentias, ou, na melhor das hipóteses, com conflitos que não precisariam existir. Insegurança, baixa autoestima, necessidade de ser reconhecida, elogiada, dependência afetiva, ciúmes, frustrações… esses são apenas alguns dos problemas com os quais os valores embutidos nos romances contribuem.

Para termos relacionamentos precisamos ter mentes saudáveis. E, para termos mentes saudáveis, precisamos reconhecer que é preciso cuidar com as entradas da alma. Alguns suspiros e lágrimas têm um preço muito caro!

Karyne Correia

Karyne Correia

Mente Saudável

Os cuidados para se ter uma vida mentalmente saudável.

Psicóloga e mestre em Psicologia, atua na área clínica e realiza atendimento psicológico online. É palestrante e administradora do Instagram @atendimentopsi