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Coluna | Josanan Alves

Do caos à ordem

Ao afastar Deus das decisões da vida diária, o ser humano deixa que os problemas se instalem em sua vida e perde as bênçãos preparadas por Ele.


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caos
Afastar Deus do centro das decisões pode trazer mais preocupações desnecessárias (Foto: Shutterstock)

Nos textos anteriores você encontrará artigos de uma série com base em meu livro, Herdeiros do Reino, lançado pela Casa Publicadora Brasileira (CPB)Baseado no livro bíblico de Daniel, apresento lições que extraí dele para minha vida. Abaixo, compartilho com você uma versão resumida do quinto capítulo. Caso ainda não tenha lido os demais, acompanhe-os aqui.


À medida que decidimos viver de acordo com o princípio da entrega completa, descobrimos uma coisa maravilhosa: Deus coloca em ordem o caos da nossa vida. Somente quando permitirmos que Ele dirija cada aspecto da vida, a teremos em abundância. A Bíblia está repleta de convites e advertências divinas sobre como a vida se torna quando não nos entregamos completamente. Por isso, precisamos entender que Deus não pede uma entrega completa por causa Dele ou do que Ele poderia ganhar com isso. Uma entrega total é necessária por nossa causa. Deus sabe como será a nossa vida após essa entrega.  

Isso é verdade desde a criação do homem. Segundo o relato de Gênesis, Deus plantou aquele jardim e colocou os primeiros humanos para zelar por ele. Adão e Eva, que deveriam cuidar de acordo com as orientações divinas, começaram a seguir a sua própria vontade e as insinuações do inimigo, e a partir daí o caos se instalou.

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A Bíblia começa apresentando esse princípio em Gênesis. O capítulo 1 relata que a terra estava em um estado de caos: “A terra era sem forma e vazia; havia trevas sobre a face do abismo, e o Espírito de Deus se movia sobre as águas” (v. 2). Contudo, a palavra e a atuação de Deus transformaram o caos em ordem: “Então Deus disse: ‘Haja luz! E houve luz’” (v. 3). Nove vezes a expressão “Deus disse” ocorre nesse capítulo, para deixar claro que em cada estágio do caos inicial apenas a atuação da palavra de Deus é capaz de trazer ordem. Essa é a única solução eficaz para o nosso planeta, a intervenção da Palavra e das ações divinas.  

Os capítulos 1 e 2 de Gênesis poderiam ser intitulados como: “Do Caos à Ordem”. Já́ o capítulo 3 poderia ser descrito como: “Da Ordem ao Caos”. Foi quando o homem decidiu dar ouvidos à vontade do inimigo de Deus, que tudo o que era ordenado e perfeito foi engolido pelo caos.  

Se você observar bem, nos capítulos 1 e 2 todas as ações apresentadas são iniciadas por Deus. Ele é quem diz, vê, chama, faz, cria, descansa, santifica e abençoa. O resultado desse protagonismo de Deus é vida e prosperidade. No entanto, no capítulo 3, as criaturas (serpente e o casal Adão e Eva) são responsáveis pela maioria das ações apresentadas. Eles falam, respondem, tomam o fruto, comem, veem, ouvem... O resultado desse protagonismo da criatura é destruição e morte.  

Quando Deus é coadjuvante 

Esse é o problema recorrente das crises humanas: as pessoas buscando se tornar as protagonistas. Essa é a realidade em nossa vida pessoal, no casamento, nos negócios. Quando assumimos o protagonismo e decidimos fazer apenas o que nos agrada em detrimento da clara e revelada vontade de Deus, o resultado é o caos.  

Os capítulos 1 e 2 de Gênesis apresentam um claro contraste com o capítulo 3. Podemos entendê-lo como a diferença entre uma vida dirigida por Deus e a que é dirigida pelos desejos e pelas ações humanas. Observe:  

Em Gênesis 1 e 2 vemos a completa ausência de conflito: “Deus viu tudo o que havia feito, e eis que era muito bom” (Gênesis 1:31).  

De Gênesis 3 em diante, vemos a instalação de um conflito: “Ao ouvirem a voz do Senhor Deus, que andava no jardim quando soprava o vento suave da tarde, o homem e a sua mulher se esconderam da presença do Senhor Deus, entre as árvores do jardim” (Gênesis 3:8).  

Em Gênesis 1 e 2, o ser humano e os animais são abençoados: “E Deus os abençoou e lhes disse: ‘Sejam fecundos, multipliquem-se, encham a terra e sujeitem-na” (Gênesis 1:28).  

Em Gênesis 3, a terra e os animais são amaldiçoados: “Maldita é a terra por sua causa; em fadigas você obterá dela o sustento durante os dias de sua vida” (Gênesis 3:17). 

Os resultados de viver longe de Deus 

Perceba que a instalação do caos é uma consequência das escolhas do ser humano. Será que esse não é o verdadeiro motivo dos problemas que você está enfrentando? Será que não tem muito de suas escolhas dirigindo os seus passos?  

Deus seja louvado porque o capítulo 3 de Gênesis não apresenta apenas o caos. Ele também mostra a esperança da solução divina. Assim como na vida de Nabucodonosor, há esperança para aqueles que reconhecem que o Deus do céu é soberano e capaz de dirigir todas as coisas. Observe que, diante do caos criado por Suas criaturas, Deus não reage como um tirano. Ele dá alguns passos para a resolução do conflito.  

1º passo: Antes de apresentar as diversas consequências do mal, Deus dialoga, investiga a situação e faz perguntas. Não que Deus não conhecesse os fatos, Ele os conhecia mesmo antes de acontecerem, mas como um pai que se aproxima de um filho que errou, Deus faz algumas perguntas para levá-lo à reflexão: “Onde você está?” (Gênesis 3:9). “Quem lhe disse que você estava nu? Você comeu da árvore da qual ordenei que não comesse?” (Gênesis 3:11).  

2º passo: Deus apresenta as diversas consequências. Muitas vezes pensamos que os piores resultados do pecado são doenças, tragédias e mortes, mas o capítulo 3 de Gênesis deixa claro que a pior consequência é a quebra dos relacionamentos.  

Quebra do relacionamento do ser humano com Deus  

“Tive medo, e me escondi” (Gênesis 3:10).  

Quebra do relacionamento de convívio entre Deus e o ser humano  

“O Senhor Deus o lançou fora do jardim do Éden” (Gênesis 3:23).  

Doenças, fome, separação e morte são consequências da grande tragédia do ser humano, que é a quebra do relacionamento com seu Criador. Por isso a proposta da Bíblia é: restabeleça o relacionamento com o Criador, e Deus restabelecerá a ordem em sua vida.  

“Mas busquem em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas estas coisas lhes serão acrescentadas” (Mateus 6:33). Você já pensou na profundidade dessas palavras de Cristo? Ele nos convida a “priorizar a prioridade”. Parece redundante, mas é uma das verdades mais desprezadas pelas pessoas.  

Nosso mundo está em catástrofe por não priorizar o Reino e seus valores. Estamos sempre pensando que Deus quer nosso dinheiro, tempo, nossos dons, como se Ele tivesse necessidade deles para sobreviver. Que engano! Deus quer que vivamos de acordo com os princípios do Reino, pois essa é a única maneira de voltarmos à ordem original e nos tornarmos herdeiros do reino. Só um relacionamento de completa entrega e dependência do Senhor poderá nos dar a garantia de segurança e paz.  

Ao longo da História, várias pessoas decidiram experimentar uma vida de completa entrega aos princípios do Reino. Gostaria de compartilhar um dos relatos que mais me impressionam:  

Em um sábado de maio de 1863, Ellen White estava em uma tenda onde aconteciam reuniões em Battle Creek e observou uma família entrar timidamente. Poucas semanas antes, ela havia tido uma visão sobre essa família e viu uma intensa busca da parte dessa família pela verdade e também que alguns deles seriam valorosos servidores na causa de Deus. Maude Sisley Boyd era uma das filhas daquela família. Aos 16 anos, já estava trabalhando no Departamento de Composição da editora da igreja.  

O contato com outros pioneiros fez com que ela sentisse um forte desejo de servir integralmente à causa de Deus. Então, numa tarde, em oração, ouviu distintamente uma voz lhe perguntar: ‘Você está disposta a fazer qualquer coisa que o Senhor desejar?’  

“Com esse pensamento, veio-lhe a profunda impressão de que Deus lhe pediria algo que ela não desejava fazer. Ajoelhando-se ali mesmo, sobreveio-lhe o pensamento de que ainda não havia feito uma entrega tão completa quanto supunha. Parecia-lhe não poder dizer as palavras: ‘Sim, Senhor, farei tudo o que me pedir.’" Ela sentiu uma forte impressão de que uma entrega incompleta era um caminho seguro para a condenação.  

“Maude orou e chorou, mas não lhe veio nenhum alívio da certeza de condenação. Finalmente, por volta da meia-noite, ela confessou: ‘Ó, Senhor Jesus, Eu O amo, sim O amo. Mas não posso fazer uma entrega completa com minhas próprias forças. Contudo, Jesus, eu desejo que o Senhor faça isso por mim.’"

“Imediatamente ela sentiu uma profunda paz. E, na manhã̃ seguinte, recebeu uma carta da Associação Geral convidando-a para viajar à Suíça, a fim de auxiliar o pastor J. N. Andrews na obra de publicações em Basileia." Ela estava certa de que não teria aceitado o convite se o anjo do Senhor não a tivesse visitado na noite anterior.[1]

Você não gostaria de sentir essa paz? Não gostaria de experimentar o que acontece na vida de quem decide fazer uma entrega completa ao Senhor? Infelizmente muitos de nós vivemos uma vida inteira sem chegar ao ponto dessa entrega.


Referências:

[1] Márcio Donizeti da Costa, org., Eu Escolho Servir: Meditação para o Pôr do Sol 2020, p. 5, disponível em: https://www.adventistas.org/pt/mordomiacrista/

Josanan Alves

Josanan Alves

Primeiro Deus

Histórias e provas de fidelidade a Deus em todos os momentos e circunstâncias da vida.

Josanan Alves de Barros Júnior é formado em Teologia. É o atual diretor do departamento de Mordomia Cristã da sede sul-americana da Igreja Adventista. @JosananAlves