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Coluna | Jorge Rampogna

O perigo das ideologias e o abandono da Bíblia

O ideal de Deus era perfeito. Um mundo perfeito. Relações perfeitas em um ambiente de paz, harmonia, respeito e igualdade.


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A Bíblia deve ser uma fonte de inspiração para aqueles que buscam a Cristo (Foto: Shutterstock)

Esta é uma mensagem do coração para muitos jovens cristãos que me escrevem pelas redes sociais. Eu sei que suas mensagens são sinceras. É por isso que eu também quero abrir meus pensamentos para vocês em relação a um tema extremamente delicado: feminismo e cristianismo. Sim! Tomei a decisão de falar sobre esse assunto. Não pretendo esgotá-lo, e muito menos ser a última palavra ou a única visão, até porque não sou um especialista. Faz tempo que venho estudando, refletindo e pensando, e agora me sinto desafiado a falar de um ponto de vista pastoral.

Em primeiro lugar, quero contar que nasci em uma família em que as mulheres sempre foram extremamente respeitadas. Minha mãe é uma guerreira, com todas as letras. Trabalhadora, criativa, batalhadora. Uma grande mulher. Ao mesmo tempo, tenho três irmãs que admiro muito. Pessoas inteligentíssimas, trabalhadoras, mães de família e, ao mesmo tempo, profissionais. Um exemplo para mim.

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Por outro lado, sou casado com Lía, minha primeira namorada, minha melhor amiga, minha esposa por quase três décadas. Ela também é uma guerreira. Uma mulher de oração. Mãe exemplar. Uma profissional em constante formação. Nunca para. Uma esposa maravilhosa. Não posso deixar de falar das minhas duas jovens filhas. As duas são inteligentes, questionadoras, sinceras, criativas, esforçadas e super perceptivas. Estou orgulhoso de minhas três amigas. Eu as admiro, respeito e amo com minha alma.

O que falo não é uma justificativa para tratar do assunto. Simplesmente estou lhe contando meu ponto de partida na estruturação do pensamento. Também preciso dizer que, desde a minha infância, sempre fui contra qualquer tipo de abuso, menosprezo, falta de respeito ou qualquer coisa que cause dor ou sofrimento a qualquer pessoa, mas muito mais quando se trata de uma mulher. Isso me machuca, me deixa com raiva. Não tolero e procuro ajudar a resolver esse tipo de situações dentro do meu âmbito de influência.

Preciso dizer também que sou um grande defensor dos direitos e da igualdade de oportunidades para todas as pessoas. Quando digo todas, quero dizer todas. Independente do gênero, raça ou classe social. É isso que a Bíblia nos ensina quando nos diz que em Deus temos nosso Pai porque Ele nos criou à Sua imagem. Somos todos Seus filhos e filhas, e Ele não faz acepção de pessoas (Gênesis 1:26; 1 João 3:1-3; Romanos 2:11). Como cristão, creio que devo, aliás, todos nós devemos, sustentar e defender esses princípios.

No entanto, também, preciso deixar claro que não quero falar de política. Mesmo quando estudo as tendências sociais e políticas, não sou uma pessoa que defende pensamentos políticos. Acredito que o Reino de Deus, como Jesus disse, está acima de qualquer tipo de governo ou partido político humano. Não sou de direita nem de esquerda. Como cristão, sou bíblico. Quando digo que sou bíblico, quero dizer que estudo a Bíblia. Eu creio em uma cosmovisão baseada na narrativa bíblica.

Na verdade, creio que a Bíblia é a Palavra de Deus. Acredito que foi escrita por homens e ao mesmo tempo inspirada por Deus. Por isso, tanto para mim quanto para muitos cristãos, a história da criação do mundo e do ser humano registrada na Bíblia não é uma fábula ou um mito. Para mim, a narrativa bíblica é um registro de eventos históricos (Gênesis 1-9).

Isso é importante para entender o que eu penso sobre a antropologia humana. De acordo com o primeiro livro da Bíblia, Gênesis, eu acredito que:

  1. Há um Deus Criador do universo, das galáxias, das estrelas, do planeta Terra, da raça humana e de todo ser vivo.
  2. O ser humano foi feito segundo o padrão biológico e genético, em que há uma distinção clara entre os gêneros masculino e feminino.
  3. Deus criou o homem e a mulher com os mesmos direitos, oportunidades e responsabilidades. Eles foram criados em pé de igualdade, mas com funções diferentes.
  4. O âmbito escolhido por Deus para ser a base da sociedade foi o casamento heterossexual no vínculo monogâmico de um homem e uma mulher.
  5. O sexo foi instituído com o objetivo de unir um homem e uma mulher de forma emocional, física e social. Foi criado como uma expressão de amor e de prazer mútuo. Ao mesmo tempo, como forma de continuidade da espécie humana.
  6. O ideal de Deus era perfeito. Mundo perfeito. Vínculos perfeitos em um ambiente de paz, harmonia, respeito e igualdade. Tudo se perdeu a partir da entrada do pecado.

Cristianismo e feminismo combinam?

É neste momento que preciso dizer que o verdadeiro cristianismo bíblico deve ser equilibrado. Vivemos em um mundo polarizado por extremos; seja machistas ou feministas, racistas ou antirracistas, ativistas ou antiativistas, de esquerda ou de direita. Como os extremos abundam, devemos nos perguntar se algum deles combina com a cosmovisão cristã.

Como cristãos, devemos ser seguidores de Jesus, e a única causa relevante que devemos sustentar é a do evangelho que nos ensina a amar, a buscar oportunidades para todos de forma igual, que respeita e celebra as diferenças, o evangelho poderoso que transforma vidas de pecado em santidade. O evangelho que nos leva e leva outros a Jesus. Ponto.

Voltando ao assunto do feminismo, esse não é um assunto novo em nossa sociedade. O movimento feminista teve sua primeira fase no século XVIII, na França. Mais tarde, houve uma segunda fase, que iniciou no século XIX e no princípio do século XX, que se desenvolveu nos Estados Unidos, na Inglaterra e que se estendeu a outras partes do mundo. Essa segunda fase está dividida em três ondas, e alguns autores já falam em uma quarta onda feminista, que chega aos nossos dias de diversas maneiras.

Não estou aqui para lhe contar a história. Sugiro que você estude mais sobre este assunto e tire suas próprias conclusões. Mas, aqui quero ressaltar os pontos que me parecem resumir os postulados feministas:

  1. O movimento feminista surge como uma reação social, creio que justa, à falta de direitos e igualdade das crianças e mulheres.
  2. A causa feminista se transforma em um movimento social/filosófico que se sustenta no pensamento humanista e que, como consequência, na grande maioria de suas manifestações, sustenta a inexistência de Deus como premissa básica. Um slogan feminista do século XX diz: “Sem Deus, sem marido, sem patrão”.
  3. Pegando emprestada base de pensamentos ideológicos humanistas, o feminismo retoma a ideia de luta de classes e a transforma na luta de gêneros. Mulheres lutando contra homens. As oprimidas buscando a libertação dos opressores. Por isso, entre outras coisas, elas proclamam o “fim do patriarcado”. E ao mesmo tempo, como diria a famosa Nairobi, na conhecida séria espanhola La Casa de Papel, “que comece o matriarcado”.
  4. Por outro lado, o movimento feminista busca claramente a desconstrução da sociedade como a conhecemos, atacando as diferenças biológicas entre homens e mulheres. Ao mesmo tempo que proclama o fim da heterossexualidade e a liberdade sexual em todos os seus sentidos.

Devo confessar duas coisas. Primeiro, com segurança há pessoas sinceras que veem na dialética feminista uma janela para expressar suas frustrações e desgostos da vida.

Em segundo lugar, devo dizer que, de certa forma, em uma sociedade injusta como a nossa, o discurso é “bonito” e “agradável” do ponto de vista do marketing oferecido pelos meios de comunicação. Palavras como “revolução, “liberdade”, “direitos, “igualdade”, “oportunidade”, etc. Quem não quer isso? Repito, são discursos simpáticos e, como cristãos, podemos ser tentados a abraçá-los sem analisá-los.

Ao ponto

Chegou o momento de dizer então por que eu acredito que o feminismo como movimento ideológico não deveria ser abraçado pelos cristãos.

  1. Em última análise, a grande maioria dos movimentos feministas rejeita categoricamente a ideia da existência de Deus, proclamando assim um movimento ateu.
  2. Rejeita, sem qualquer argumento com base científica, a diferença biológica e genética entre homens e mulheres.
  3. O movimento feminista, de maneira geral, busca a supremacia da mulher sobre o homem, não a igualdade. No fundo, é um movimento que busca sair da “opressão” oprimindo os outros.
  4. O feminismo busca a desconstrução da imagem da mulher. A desconstrução da sexualidade homem-mulher, propondo qualquer tipo de prática sexual como válida.
  5. O feminismo propõe o sexo como autossatisfação e não como um vínculo de amor e de família.
  6. Em geral, o ideal feminista é o de um mundo anárquico, sem estruturas de qualquer tipo, sem Deus.

Neste momento, vem à minha mente um resumo do que venho dizendo nas palavras de Dostoyevski, que formulou esse conflito de forma sintética em seu romance intitulado Os Irmãos Karamázov. Nesse livro, Iván, o segundo dos irmãos, disse a conhecida frase: “Se Deus não existe, tudo é permitido”. Tirando Deus da equação, o ser humano está livre para viver sua vida de desvios sem pressão moral. Esse é o grande ponto dos movimentos ideológicos que tanto estão crescendo.

Para concluir

Eu disse a você no início que queria abrir meu coração e assim o fiz. Acabei de fazer um resumo do que acredito como cristão baseado no estudo da Bíblia. Mas não quis acumular versículos de prova. Eu simplesmente gostaria que você fosse à Bíblia e estudasse por conta própria.

Em segundo lugar, fiz um grande resumo de minhas leituras e estudos sobre o assunto do feminismo. Não pretendi ser exaustivo nem técnico. De fato, pode ser que eu não tenha sido completamente claro. Perdão se não fui. Apenas convido você a estudar o assunto e tirar suas próprias conclusões.

Em terceiro lugar, quero honestamente falar a você, minha querida amiga mulher. Tenho que ser realista. Nosso mundo é injusto com você. E de certa forma, também é culpa dos cristãos que não seguem os ensinamentos bíblicos de dar o valor que o próprio Deus outorgou à mulher. Quantas vezes ficamos calados sobre os assuntos que necessitam ser discutidos, vistos e modificados.

Sabe, acredito que estamos avançando nesse diálogo que leva ao crescimento, ao respeito e à igualdade de oportunidades. Ao mesmo tempo, acredito que necessitamos seguir o plano de Deus e dar o valor que Cristo deu a cada pessoa de forma individual. Amiga, você é especial. Você tem talentos, dons, capacidades e pode ser alguém usada por Deus para influenciar pessoas positivamente. Tenho certeza de que Deus abrirá essas oportunidades para você.

Por fim, gostaria de terminar deixando um pensamento do livro de Salmos que pode nos ajudar a definir parâmetros para analisar qualquer tipo de ideologia.

“Disse o néscio no seu coração: Não há Deus. Têm-se corrompido, fazem-se abomináveis em suas obras, não há ninguém que faça o bem. O Senhor olhou desde os céus para os filhos dos homens, para ver se havia algum que tivesse entendimento e buscasse a Deus. Desviaram-se todos e juntamente se fizeram imundos: não há quem faça o bem, não há sequer um” (Salmo 14:1-3).

O texto bíblico é claro. Qualquer movimento, ideologia, tendência, que seja contrário à existência de Deus, à Bíblia e ao plano de Deus para a moralidade humana, não pode ser abraçado e defendido por alguém que se diz seguidor de Jesus. O que eu quero dizer é que, não é o ativismo feminista “cristão” que resolverá as coisas. O que vai fazer a diferença é uma atitude cristã de diálogo, respeito mútuo, estudo e aplicação dos princípios da Palavra de Deus. Para sermos uma sociedade mais justa, em meio a um mundo de pecado, devemos amar e respeitar os outros como Jesus fez. Recordando que nosso ideal social não é utópico, mas é eterno.

Estou orando para que Deus levante uma geração de jovens que abrace a única “causa” que realmente busca a liberdade total, a igualdade plena e o respeito por todos os seres humanos. Essa causa é o evangelho de Cristo.

Um abraço.

Jorge Rampogna

Jorge Rampogna

Bíblia 360

Pensando na vida desde o ponto de vista dAquele que tudo vê.

Graduado em Teologia pela Universidad Adventista del Plata, Argentina. Pós-graduado em Comunicação Corporativa pelo Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp). Trabalhou na Rede Novo Tempo de Comunicação como diretor associado para a área hispânica, diretor da TV Nuevo Tiempo para espanhol e português, e diretor da TV Novo Tempo para o português e espanhol. Atualmente é o diretor de Comunicação da sede sul-americana adventista.