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Coluna | Helio Carnassale

O desafio de obedecer

A obediência a Deus foi um ato de fé que fez parte do caminho dos pioneiros Tiago e Ellen White em relação à obra de publicações.


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Uriah Smith (direita) e outros líderes adventistas da área de publicação reencenam nos anos 1890 os primeiros dias do Ministério de Publicações da igreja. (Foto: Departamento de Arquivos, Estatísticas e Pesquisa da sede mundial adventista)

Dando sequência à série sobre a influência do dom profético no estabelecimento e confirmação da obra de publicações dos adventistas do sétimo dia (veja o primeiro aqui e o segundo aqui), veremos nos próximos artigos o que aconteceu após Ellen White ter recebido a visão sobre esse tema. Embora Tiago White tivesse aceitado a incumbência que lhe havia sido designada por sua esposa, eles não dispunham dos recursos financeiros para colocar em prática as orientações recebidas.

Sempre que possível, ele buscava algum trabalho manual para prover as necessidades de sua família, agora aumentada com a presença de um bebê. Sem uma residência fixa, moravam em casa de pessoas amigas que lhes ofereciam abrigo e mal tinham dinheiro para prover as próprias necessidades. Mesmo assim, o desejo deles era investir o pouco que ganhavam na produção de um periódico. Preocupado em obter recursos para cumprir o propósito de publicar o pequeno jornal, Tiago se esqueceu da promessa mencionada por Ellen, de que os recursos seriam enviados.

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Mas, advertido e reanimado pelas palavras da esposa, decidiu procurar uma gráfica que pudesse fazer o trabalho para receber posteriormente. Um impressor que estava a 13 quilômetros de distância da casa onde moravam concordou em fazer a impressão. Passados nove meses da reunião em Dorchester, nascia, em julho de 1849, o Present Truth (Verdade Presente), um jornal de oito páginas, que teve várias edições e durou até o final de 1850, cumprindo assim a profecia de Ellen White.

Bênção dos recursos

A primeira edição, de mil exemplares, foi dedicada principalmente a tratar da questão da guarda do sábado. Ao buscar o material impresso, Tiago percorreu a pé o trajeto entre Rocky Hill, onde estavam morando em casa de Albert Belden, e Middletown, onde ficava a gráfica. Depois de dobrarem o jornal e definir para quem enviariam aqueles primeiros números e, antes ainda de levar os jornais ao Correio, eles se ajoelharam em torno daqueles exemplares e fizeram uma fervorosa oração. E suplicaram o cumprimento da bênção prometida, de que os recursos chegariam.

Mais três números foram preparados nos dois meses que se seguiram. E, antes do final de setembro, os primeiros recursos começaram a chegar, embora em pequenas quantias, mas o suficiente para animar Tiago White a continuar publicando. Com mais dois números editados em dezembro de 1849, a publicação do jornal foi interrompida pela escassez de doações e por uma divergência do casal White com Bates, sobre a validade do método de se publicar e distribuir literatura ao invés de se utilizar a pregação convencional. Ellen White não desejava que o trabalho fosse abandonado e ela insistiu com o esposo para que o dever dado a ele por Deus era “escrever, escrever, escrever, escrever e espalhar a mensagem e deixar de se preocupar”[1]. Com isso, mais quatro números foram preparados no início de 1850.

Apesar da grande responsabilidade de publicar sem recursos parecer pesada demais e, a despeito de ser afligido por duras críticas vindas de seus companheiros, Tiago decidiu iniciar uma nova empreitada editorial. Tratava-se da publicação de uma revista que contivesse os grandes trechos da imprensa millerita que haviam sido publicados antes de 22 de outubro de 1844, com o objetivo de lembrar aos irmãos que esse movimento havia sido dirigido e designado por Deus. Quatro números da Advent Review (Revista do Advento), com 16 páginas cada, foram publicados ainda em 1850. Diante disso, o casal White decidiu mudar para Paris, Maine, por dois motivos principais: por terem recebido apoio de duas famílias residentes nessa cidade e por terem encontrado no local, uma boa gráfica que facilitaria a impressão dos materiais.

Assim, no mês de novembro de 1850, foram produzidos os últimos números de Present Truth e Advent Review. Nesse mesmo mês, um ano depois da primeira edição dos primeiros mil exemplares, surgia a revista Second Advent Review and Sabbath Herald (Revista do Segundo Advento e Arauto do Sábado), que se tornaria “a revista oficial da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Teve seu nome mudado várias vezes, sendo a última para Adventist Review (Revista Adventista), comumente chamada apenas de Review[2].

Os tempos que se seguiram seriam de preparação para o lançamento das raízes definitivas das publicações adventistas. Unidos novamente nos ideais de continuarem publicando, os pioneiros decidiram oferecer uma equipe de suporte editorial para o casal White. Faziam parte desse grupo o veterano Bates, Samuel Rhodes, e o jovem ministro John N. Andrews, que veio a ser de valiosa e indispensável ajuda, tornando-se um dos principais escritores da Review.

Mais provações e muitas dificuldades fizeram com que Tiago desanimasse novamente a ponto de anunciar que não mais publicaria. Antes de incluir a nota de encerramento daquela que, para ele, seria a última edição da revista, Ellen White reafirmou para o seu esposo que o Senhor os haveria de sustentar e que ele deveria continuar publicando. Tiago resolveu não desistir e nunca mais se mostrou desanimado com sua incumbência. A despeito das dificuldades não terem cessado, eles deram mais um passo de fé. E é sobre isso que vamos tratar no próximo artigo. Precioso dom profético que instruiu, animou e exortou os pioneiros quando tudo parecia ruir. Louvado seja Deus.


Referências:

[1] Schwarz, Richard W. e Greenleaf, Floyd. Portadores de Luz. Unaspress, 2009, p.72.

[2] Idem, p. 74.

Helio Carnassale

Helio Carnassale

Mantendo a visão

A importância da manifestação moderna do dom profético

Teólogo, é mestre em Ciência das Religião pela Universidade Metodista de São Paulo. Foi pastor de igrejas e foi Orador da Voz da Profecia. Trabalhou na Casa Publicadora Brasileira, Superbom, Unasp e na sede sul-americana adventista como diretor de Liberdade Religiosa e Espírito de Profecia.