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Coluna | Felipe Lemos

A gestão de reputação da Igreja e o evangelismo

A pregação do evangelho às pessoas conta com uma ação intencional de consolidação da boa reputação. Entenda o porquê


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Uma boa reputação traz resultados positivos para organizações ou pessoas (Foto: Shutterstock)

O título deste artigo pode soar até estranho para alguns. Qual a direta relação entre a gestão da reputação de uma igreja e o que se considera evangelismo no contexto cristão, especialmente adventista? Vamos a algumas necessárias definições. 

Podemos dizer, de forma simplificada, que a reputação é o que se constrói, especialmente no ambiente digital, sobre uma organização (empresa, igreja), ou mesmo sobre você, ao longo de um tempo. E tal construção se dá a partir de duas dimensões. Uma delas é a percepção de imagem que os outros fazem acerca da organização. A outra dimensão é o que a organização fala de si mesma, isto é, seu discurso. 

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Esses dois pontos, percepção de imagem e discurso da organização, andam juntos em torno do conceito de reputação. William Benoit, idealizador da Teoria da Reparação da Imagem, já ensinava que a percepção de imagem é um bem considerado mais importante do que a realidade.1 Ou seja, falando agora de igrejas, um os critérios para se determinar a reputação é a maneira como essa igreja é vista em torno de seus valores, princípios e, também, seu trabalho comunicacional. 

Por outro lado, existe a noção de discurso organizacional. O estudioso Van Riel2 destaca que as organizações, por meio do seu trabalho comunicacional, transmitem as mensagens com base nas suas crenças, princípios e diretrizes. A comunicação organizacional, portanto, passa a ser totalmente estratégica para uma igreja. E certamente exercerá impacto direto sobre o cumprimento da missão da organização.  

É por isso que o especialista Mário Rosa afirma que a reputação é um patrimônio a ser trabalhado de forma permanente.3 Uma igreja, por exemplo, vai ter de lidar o tempo todo com as duas dimensões em sua consolidação reputacional: percepção de imagem e discurso organizacional.  

E o evangelismo? 

A ideia de evangelismo, na ótica da Igreja Adventista do Sétimo Dia, é bem clara. No prefácio do livro Evangelismo, de Ellen White, é dito que “o evangelismo, o próprio coração do cristianismo, é o tema e importância capital para quantos são chamados a fim de proclamar a última mensagem de advertência que Deus faz ao mundo condenado”.4 

Quando vamos à missão da própria Igreja Adventista, o texto oficial sublinha que a Igreja Adventista do Sétimo Dia existe para “fazer discípulos de Jesus Cristo que vivam como Suas testemunhas amorosas e proclamem a todas as pessoas o evangelho eterno das três mensagens angélicas em preparação para Sua breve volta (Mateus 28:18-20; Atos 1:8; Apocalipse 14:6-12)”.5  

Credibilidade e confiabilidade 

Sem querer aprofundar completamente a ideia de evangelismo, chamo a atenção para dois verbos importantes presentes nas duas declarações. No texto mencionado dentro do livro de Ellen White, ressalta-se a palavra proclamar. E, na afirmação de missão, identificamos a expressão fazer discípulos.  

Evangelismo, para os adventistas do sétimo dia, é, portanto, uma ação essencialmente permeada por elementos comunicacionais e reputacionais. O ato de se aproximar das pessoas a fim de levá-las ao conhecimento sobre a Bíblia e Jesus Cristo, citando a própria missão adventista, só poderá ocorrer em um ambiente caracterizado pela confiança. Se você observar rankings de reputação de empresas, governos ou quaisquer outras organizações, vai perceber que, por trás de tais índices, existe algo muito evidente: credibilidade. 

Ninguém quer fazer parte ou assimilar a mensagem de uma organização com uma reputação questionável. Uma igreja precisa manter uma boa reputação, porque isso fortalece a ideia de que aquilo que ela expressa, defende e ensina, é coerente, real e fará sentido para os públicos com os quais ela se relaciona.  

Na descrição sobre o perfil dos membros da igreja cristã primitiva, é dito, segundo relato do livro bíblico de Atos 2:47, que estas pessoas iam “louvando a Deus e contando com a simpatia de todo o povo. Enquanto isso, acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos” (ARA). Contar com a simpatia das pessoas é uma expressão totalmente conectada com credibilidade e confiabilidade.  

Pouco tempo depois, no episódio da nomeação dos diáconos, a escolha destas pessoas levou em consideração o fato de apresentarem uma boa reputação (Atos 6:3). Não foram escolhidas pessoas de forma aleatória. Foram destacados homens cuja reputação se mostrava compatível com a tarefa e a responsabilidade dadas. De acordo com a perspectiva bíblica, especialmente no período apostólico, a formação de uma reputação satisfatória sempre esteve associada à pregação do evangelho.  

Trabalhar a reputação, ao contrário do que alguns talvez imaginem ou idealizam, não consiste em um processo enganoso de maquiagem de dados, condutas e processos. Desenvolver a reputação de uma igreja é, acima de tudo, construir um processo em que as pessoas (membros e simpatizantes) consigam perceber, de forma real, tudo aquilo que a igreja é e realiza. Desta forma, a mensagem a ser proclamada e o ímpeto por estabelecer discípulos fazem sentido. 

Evangelismo eficiente à luz de uma boa reputação 

Para concluir, listo aqui pelo menos cinco maneiras sugestivas a respeito de como uma igreja pode trabalhar sua reputação para cooperar com o evangelismo eficiente: 

  1. Alinhe seus valores, princípios e crenças com a sua comunicação a fim de que seu discurso não caia no vazio e transmita uma percepção equivocada dos públicos. 
  1. Se evangelismo é um processo que envolve as pessoas e não se trata apenas de um programa institucional corporativo, é essencial que haja esforços para que as pessoas vejam sentido nas ações da igreja e se sintam parte de tudo isso. 
  1. Situações de crise, quando não tratadas com a devida seriedade, podem trazer prejuízos para uma igreja e afetar diretamente os resultados evangelísticos buscados.  
  1. Uma igreja deve sempre reconhecer que a essência da sua mensagem tem origem em Deus e, portanto, seus atos precisam ser pautados inteiramente pela ética bíblica e cristã.   
  1. Evangelismo é, acima de tudo, relacionamento com pessoas. Por isso, uma igreja não pode restringir sua ação a programas, agenda de eventos e projetos. A pregação bíblica se dá em um ambiente de trocas e relações, de total proximidade com os desafios dos indivíduos. 

Se houvesse necessidade de concluir o pensamento, diria que sem um bom trabalho de reputação qualquer igreja enfrentará dificuldades para realizar um evangelismo de forma eficaz. E não estou falando simplesmente de aumento de fiéis. Refiro-me ao processo de desenvolvimento de discipulado, à proclamação do evangelho de salvação.  

A mensagem bíblica é potente, transformadora e convincente, porém o processo de evangelização passa por seres humanos. E, neste tipo de relação, um ativo de grande valor é a reputação. 


Referências:
1 BENOIT, William L. Image repair, discourse and crisis communication. Public Relations Review, v. 23, p. 177-186, 1997. Disponível em: <https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0363811197900230?via%3Dihub>. Acesso em: 17 set. 2017 

2 VAN RIEL, Cees B. M. Principles of corporate communication. London: Prentice Hall, 1995.   

3 ROSA, Mario. A era do escândalo: Lições, relatos e bastidores de quem viveu as grandes crises de imagem. São Paulo: Geração Editorial, 2003. 

4 WHITE, Ellen. Evangelismo. São Paulo: Casa Publicadora Brasileira, 2007. 

5 Mission statement of the Seventh-Day Adventist Church - https://www.adventist.org/official-statements/mission-statement-of-the-seventh-day-adventist-church/  

Felipe Lemos

Felipe Lemos

Comunicação estratégica

Ideias para uma melhor comunicação pessoal e organizacional.

Jornalista, especialista em marketing, comunicação corporativa e mestre na linha de Comunicação nas Organizações. Autor de crônicas e artigos diversos. Gerencia a Assessoria de Comunicação da sede sul-americana adventista, localizada em Brasília. @felipelemos29