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Coluna | Felipe Lemos

Gestão de riscos e a comunicação eficiente

Especialista fala como é relevante gerenciar os riscos de uma organização, inclusive uma igreja. Olhar para os riscos é prevenir.


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O trabalho comunicacional estratégico de uma organização religiosa passa, necessariamente, pelos esforços em relação a um monitoramento, identificação e tratamento dos riscos e das vulnerabilidades. (Foto: Shutterstock)

Entender a relação entre a comunicação estratégica e a gestão de riscos nem sempre é tão fácil. Ainda mais quando a visão sobre comunicação é estreita e se baseia apenas na ideia de produtos comunicacionais como vídeos, textos, imagens, etc. Mas tudo muda quando entendemos a comunicação de outra maneira. Não apenas como operação, porém como forma de uma organização ou uma pessoa se relacionar com tudo ao seu redor. Então a gestão de riscos passa a fazer sentido.

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Prever e antecipar vulnerabilidades de uma organização é imprescindível nos tempos atuais. O sociólogo alemão Ulrich Beck, autor do livro Sociedade do risco. Rumo a outra modernidade, disse algo muito interessante. Em entrevista concedida ao portal do Instituto Humanitas, da Universidade do Vale do Rio do Sinos (Unisinos), ele explica que sociedade de risco “significa que vivemos em um mundo fora de controle. Não há nada certo além da incerteza.”[1]

Para falar mais de riscos, resolvi conversar com um especialista. É Geraldo Falcão. Com formação nas áreas de finança, controladoria, compliance e gestão de riscos, ele é auditor, consultor, professor universitário e alguém envolvido em grandes projetos internacionais nesta área. Acompanhe o papo com ele.

Defina, de forma clara, o que é gestão de riscos.

São políticas de um ciclo de gerenciamento completo das incertezas organizacionais (externas e internas). Essa gestão ocorre desde sua origem, causa ou fonte de incidência ou variação, até a extensão de seus impactos (chegando às emergências e crises).

E a ideia de um plano de mitigação? Como funciona?

O plano de mitigação é um tipo de plano de tratamento desses riscos. Um dos erros mais comuns é confundir tratamento de riscos com tratamento de emergências e até de crises. O tratamento ou gestão das crises e das emergências se dá quando existe o agravamento dos impactos dos riscos, algo posterior à incidência dos riscos. É uma forma mais comum, mais simples, superficial e com escopo de tratamento menor.

O plano de mitigação dos riscos é algo que deve ir às fontes, origens e causas dos riscos. E, portanto, o tratamento é mais profundo.

Por que é essencial falar desse assunto atualmente, mais do que em outros tempos?

Temos um novo momento da era da governança, regulada por países integrantes da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Nesta nova realidade, os riscos e suas fontes são, também, de responsabilidade das organizações e não podem ser transferidos. E nem podem deixar de ser tratados.

Uma vez estudadas as fontes e origem de riscos internos, e conhecidos os impactos dos riscos externos (chamados de externalidades), algo deve ser feito. E isso não pode ser ignorado por organizações públicas, privadas e até religiosas.

Os governos estão colocando como contrapartida ao fornecimento de benefícios fiscais, incentivos, créditos mais baratos e até relaxamento de aplicações de sanções, a obrigatoriedade de as organizações adotarem políticas de gerenciamento de riscos. 

Um exemplo disso, é o Tribunal de Contas da União, que em recente decisão de Colegiado em Brasília, decidiu que será julgado como escopo da análise de culpabilidade dos gestores públicos o não tratamento dos riscos estudados e conhecidos.

Organizações religiosas, como as igrejas, precisam se preocupar mais com isso por conta do seu principal ativo que é a confiabilidade, certo?

Sim. As organizações religiosas, assim como privadas e públicas, devem mapear todas as possibilidades de riscos externos e internos. Tudo o que possa macular ou destruir valores organizacionais como reputação religiosa, seja em relação a fraudes em geral, de natureza financeira, compromissos ambientais, sociais, de atividades privadas produtivas e até de educação.

É uma grande oportunidade de correção do comportamento humano por meio de ensinamentos bíblicos, e, de aplicação aos modelos privados explorados, eventualmente pelas entidades religiosas. Por exemplo: escolas religiosas, empresas, fábricas, etc.

Dentro de seu programa de gestão de riscos, inúmeras variáveis devem ser tratadas. São as contrapartidas sociais, ambientais, uso de recursos de doadores, administração de seu pessoal, autorizações de atividades produtivas, relacionamento com órgãos públicos, de controle, de agentes e membros executivos.

E isso vai até o grande desafio das organizações religiosas, que eu entendo ser mais amplo e profundo. O fato de que, em organizações privadas e públicas, a natureza de sua atividade influencia até o comportamento de seus membros, que de certa forma atuam em nome das entidades religiosas, em torno da formação cristã e da aplicação na vida prática.

O que você sugere como primeiro passo para organizações que desejam trabalhar de uma forma mais profunda com a gestão dos seus riscos?

O primeiro passo das organizações, sejam elas privadas, públicas e até religiosas, é a criação de um comitê interno de profissionais, para diagnóstico e planejamento de seu sistema de gestão de riscos que será implantado.

O segundo grande passo é o aculturamento de todos os funcionários, em torno do que é, a abrangência do programa e escopos de implantação.

A partir desse ponto, ocorre a condução do projeto, com auxílio de assessorias independentes. Isso é importante devido ao alto grau de risco de conflito de interesses que podem ocorrer com membros internos, decidindo pelo tratamento ou não pelos riscos, produzidos pelos próprios funcionários e agentes das organizações. 

Deve haver uma separação ampla, dos comitês internos de controle, e, daqueles que o produziram ou geraram para evitar conflito de interesses, natural na conduta humana.

O programa interno de gerenciamento de riscos deve ser permanente. E leva, em média, de 2 a 3 anos para ser totalmente implantado, dependendo do escopo de implantação.


Referências:

[1] UNISINOS. Sociedade de risco. O medo, hoje. Entrevista especial com Ulrich Beck. 2022. Disponível em: https://www.ihu.unisinos.br/616847-incertezas-fabricadas-entrevista-especial-com-entrevista-com-ulrich-beck. Acesso em: 23 jun. 2022.

Felipe Lemos

Felipe Lemos

Comunicação estratégica

Ideias para uma melhor comunicação pessoal e organizacional.

Jornalista, especialista em marketing, comunicação corporativa e mestre na linha de Comunicação nas Organizações. Autor de crônicas e artigos diversos. Gerencia a Assessoria de Comunicação da sede sul-americana adventista, localizada em Brasília. @felipelemos29