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Coluna | Carlos Nunes

A ética da vida inclui a morte…

O que o acidente fatal do candidato Eduardo Campos nos faz pensar sobre o entendimento da morte?


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Nossa agenda social e cívica nunca será maior do que nossa agenda eterna

A morte prematura de Eduardo Campos, candidato à presidência do País, claro, enseja a reflexão sobre a ética da existência. Inevitável, à luz da Bíblia, referir o texto de Tiago 4:13-15: “Atendei, agora, vós que dizeis: Hoje ou amanhã, iremos para a cidade tal, e lá passaremos um ano, e negociaremos, e teremos lucros. Vós não sabeis o que sucederá amanhã. Que é a vossa vida? Sois, apenas, como neblina que aparece por instante e logo se dissipa. Em vez disso, devíeis dizer: Se o Senhor quiser, não só viveremos, como também faremos isso ou aquilo”.

O que o texto, a meu juízo, enseja, é o dever humano de considerar planos, projetos, agendas e sonhos à luz da brevidade de uma existência limitada pela chaga do pecado. Sem essa compreensão, fica capenga qualquer análise de direito à vida, sonhos, planos e projetos... A ética da vida inclui a morte desde que o livre-arbítrio concedeu ao homem o direito de desviar-se do plano original de Deus. E Deus, como só Ele, cavalheiro e respeitador, não força ninguém a considerá-lo companheiro, ajudador e parceiro na vida... É por isso que, no máximo, podemos atribuir-Lhe o ônus da permissão, jamais o de causador da morte como um deus arbitrário que julga adequado ceifar este ou aquele em tempo ou fora de tempo e sem levar em conta seus planos, sonhos, projetos ou agendas... E, ademais, Ele mesmo sujeitou o fim desse drama existencial à sua morte! Na cruz, morrendo, Cristo venceu a morte! Em tempo: essa é uma promissória! Cumpre-nos resgatá-la no fim, sob pena de perdermos o lugar na vida eterna, aquela que começa com o seu retorno por aqui...

Campos morreu... E o que dirão os seus? Ficarão resignados diante da impotência face à morte? Culparão a Deus por permitir a morte dizendo, como é costume de alguns: “Deus quis!” Eu preferi, não por escape ou inapetência lógico-racional, resignar-me ao meu limite existencial. E, com isso, entender que o que foge à minha compreensão tem e terá em Deus uma explicação. Como jornalista, confio na possibilidade real de ter um tempo irrestrito com Deus para uma “exclusiva” com Ele. Nela, vou perguntar tudo o que me inquieta por aqui... Mas, para perguntar, preciso crer que a morte, ainda que trágica, não me separa do plano original de Deus, se com Ele estiver conectado, praticando Sua Palavra... Para esses, a morte não é fim!

Por fim, creio que o sonho da sociedade igualitária não vingará por essas bandas sem que o pecado seja erradicado por Jesus, em sua breve vinda a essa Terra. O que, assim como Campos, não me exime da responsabilidade de, como diz a Bíblia, fazer tudo que me vier às mãos conforme minhas forças. Por que não foi permitido a Eduardo Campos seguir nesse sonho? Sincera e honestamente: não sei... E capitulo consciente, resignada e humildemente porque sou criatura, não Criador... O que sei é que, minha agenda social e cívica, importante e integrante de minha existência, nunca será maior do que minha agenda eterna porque aspiro ser cidadão da pátria celestial! Sonho com o dia em que Deus mesmo estará conosco, enxugando de nossos olhos toda a lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram...

Carlos Nunes

Carlos Nunes

Ética Prática

Assuntos relacionados à ética sob o ponto de vista cristão e os dilemas enfrentados pelas pessoas no seu cotidiano.

Teólogo, atualmente exerce seu ministério pastoral no Peru. Jornalista profissional há mais de 20 anos, foi repórter nos jornais Diário Gaúcho e Zero Hora, e professor no curso de Jornalismo do Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp).