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Coluna | Carlos Magalhães

A geração da ansiedade

Como os adolescentes estão navegando em um mundo de incertezas


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Nos últimos anos, pesquisas buscam entender a razão do aumento no índice de depressão e ansiedade em adolescentes (Foto: Shutterstock)

Nos últimos anos, tem sido percebido um aumento significativo nos índices de ansiedade e depressão entre os jovens.

A geração atual, composta principalmente por Millennials e pela Geração Z, enfrenta desafios que seus pais não conheceram, mas que estão moldando suas vidas de maneiras profundas. Reconhecer e compreender essas dificuldades é o primeiro passo para ajudar os mais jovens a encontrar caminhos saudáveis e sustentáveis para lidar com suas ansiedades.

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Pesquisas

Vários estudos têm buscado explicações para o aumento repentino e alarmante da ansiedade entre os adolescentes. O documento Adolescent Mood Disorders Since 2010[1] é um deles e oferece uma análise detalhada sobre essas pressões e como elas estão impactando a saúde mental dos jovens.

O principal argumento da pesquisa é que o aumento dos índices de suicídio e depressão entre adolescentes está fortemente associado ao rápido crescimento do uso de smartphones e redes sociais.

Desde a adoção generalizada dessas tecnologias, entre 2009 e 2011, houve um aumento significativo nos sintomas de depressão e nos comportamentos relacionados ao suicídio.

Para os pesquisadores, isso não é mera coincidência. Eles defendem que, embora o mundo tenha sido afetado com crises econômicas, guerras e atentados terroristas nesse mesmo período, o crescimento do uso de smartphones e redes sociais é o fator que melhor explica o salto no crescimento da ansiedade e depressão entre os mais jovens.

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Porcentagem de adolescentes norte-americanos em depressão. Em azul, meninos. Em laranja, meninas. (Fonte: What is happening to boys: A collaborative review)

Este fenômeno é especialmente notável entre as meninas, que são mais vulneráveis às pressões das redes sociais, resultando em uma maior incidência de problemas de saúde mental.

Nos meninos os problemas parecem estar relacionados ao fato de serem sugados pelas telas: videogames, pornografia, radicalização online, com resultados que parecem estar mais ligados ao fracasso em crescer do que a transtornos internos[2].

Embora esse estudo tenha sido realizado entre o público norte-americano, quando os resultados são comparados a outros países o resultado é bastante semelhante[3]

Por que as meninas são mais afetadas?

Algumas pesquisas apontam que as redes sociais desempenham um papel significativo no aumento da ansiedade e da depressão, especialmente entre as meninas. O uso constante de smartphones, a superexposição, a comparação social e a necessidade de validação são fatores que facilitam essa correlação.

As meninas são particularmente vulneráveis às pressões das redes sociais, levando a uma diminuição da autoestima e ao aumento de sentimentos de depressão e ansiedade. A constante comparação com imagens irreais de beleza e sucesso nas redes sociais pode ser devastadora para a saúde mental das jovens[4].

  1. Comparação social intensa: As meninas tendem a usar mais redes sociais que os meninos, expondo-se mais à comparação social.
  2. Sensibilidade às interações sociais: As meninas são geralmente mais sensíveis às interações sociais online, o que pode amplificar sentimentos de exclusão ou inadequação.
  3. Maior pressão para conformidade: Há uma maior pressão cultural sobre as meninas para conformar-se a ideais de beleza e comportamento, exacerbada pelas redes sociais.
  4. Cyberbullying: As meninas são frequentemente alvo de cyberbullying, o que pode levar a aumentos significativos na ansiedade e depressão.

Além da tecnologia

Os smartphones e as redes sociais são apontados como os principais responsáveis pela redução do tempo de sono, alterações na socialização e no estilo de vida dos adolescentes. Porém, essas tecnologias podem não estar sozinhas entre as causas da ansiedade e depressão entre os adolescentes.

  1. A pressão do sucesso. Desde cedo, os jovens estão sendo incentivados a buscar excelência acadêmica e profissional. Há uma competição acirrada por vagas em universidades de prestígio e a necessidade de se destacar no mercado de trabalho. Essa busca incessante pelo sucesso pode levar a um estado de ansiedade permanente, em que o medo de falhar se torna um companheiro constante.
  • Incertezas econômicas. A economia global volátil é outra fonte de preocupação. Muitos jovens enfrentam dificuldades para encontrar empregos estáveis e bem remunerados, e muitos lidam com dívidas estudantis significativas. A incerteza econômica cria uma sensação de instabilidade e insegurança sobre o futuro aumenta ainda mais a ansiedade.
  • Mudanças sociais e políticas. Vivemos em tempos de rápidas mudanças sociais e políticas. Questões como a crise climática, movimentos por justiça social, guerras e catástrofes naturais estão constantemente nos noticiários, criando um ambiente de incerteza e medo. Para os jovens, essas questões muitas vezes parecem esmagadoras, contribuindo para um sentimento de desamparo e incerteza.
  • Problemas familiares. Mudanças nas práticas parentais, como a superproteção (conhecida como helicopter parenting[5]), resultam em menor autonomia para os adolescentes. Essa falta de liberdade para explorar e resolver problemas por conta própria pode aumentar a ansiedade e a sensação de incapacidade.
  • Medicamentos e substâncias. A exposição a substâncias nocivas e o abuso de drogas podem agravar os problemas de saúde mental.
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Gráfico aponta o uso de drogas em adolescentes entre 14 e 15 anos (Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Diretoria de Pesquisas, Coordenação de População e Indicadores Sociais, Pesquisa Nacional de Saúde Escolar 2009/2019) [6]
  • Ambientes familiares instáveis. Conflitos familiares, divórcios e ambientes domésticos estressantes têm um impacto significativo na saúde mental dos adolescentes. A falta de um ambiente seguro e de suporte pode levar ao aumento da ansiedade e depressão[7].
  • Sedentarismo. Há uma forte relação entre a ansiedade e depressão dos adolescentes com o sedentarismo e a falta de exercício. Diversos estudos científicos apontam que a inatividade física pode aumentar o risco de desenvolver ou agravar problemas de saúde mental, como a ansiedade e a depressão[8].

 Religiosidade

Segundo o estudo Adolescent Mood Disorders since 2010 (“Transtornos do Humor do Adolescente desde 2010” – em tradução livre), a religiosidade pode desempenhar um papel significativo na saúde mental dos jovens. Dados da pesquisa mostram que adolescentes que participam regularmente de atividades religiosas apresentam índices mais baixos de suicídio e pensamentos suicidas. A religião pode oferecer uma rede de apoio comunitária, um senso de propósito e uma estrutura moral que ajudam a mitigar sentimentos de desespero. No entanto, a relação entre religiosidade e saúde mental é complexa e pode variar dependendo do contexto cultural e individual.

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Tendências de sentimento de autodesprezo (Fonte: Monitoring the Future, intervalos de 2 anos)

      
Como podemos ajudar?

É crucial que abordemos essas questões com empatia, compreensão e proatividade. Precisamos criar espaços seguros onde os jovens possam expressar suas preocupações sem medo de julgamento. Além disso, é fundamental promover a educação sobre saúde mental, incentivando práticas de autocuidado e resiliência. As instituições educacionais, locais de trabalho e igrejas também têm um papel importante, oferecendo suporte e recursos para ajudar os jovens a gerenciar o estresse e a ansiedade.

Conclusão

Com os desafios enfrentados pela Geração da Ansiedade, é essencial lembrarmos da promessa bíblica em Filipenses 4:6-7: "Não andem ansiosos por coisa alguma, mas em tudo, pela oração e súplicas, e com ação de graças, apresentem seus pedidos a Deus. E a paz de Deus, que excede todo entendimento, guardará os seus corações e as suas mentes em Cristo Jesus."

A fé e a comunidade religiosa podem oferecer um suporte essencial e um senso de pertencimento e propósito. A oração, a meditação na Palavra de Deus e a comunhão com outros crentes podem trazer consolo e esperança em tempos de incerteza. Encorajemos os jovens a buscarem refúgio na fé, cultivando uma vida espiritual rica que possa guiá-los e fortalecê-los. Que possamos ser instrumentos de paz e amor, refletindo a luz de Cristo em um mundo que tantas vezes parece sombrio e incerto.


Referências:

[1] Haidt, J., Rausch, Z., & Twenge, J. (ongoing). Adolescent mood disorders since 2010: A collaborative review. Unpublished manuscript, New York University. https://tinyurl.com/TeenMentalHealthReview

[2] What is happening to boys: A collaborative review. https://docs.google.com/document/d/1Fcio_tkbnNkmCi1nsHGiTLinFqdLJJlAtCzmec-Ss4s/edit#

[3] Haidt, Jonathan. The Anxious Generation: How the Great Rewiring of Childhood Is Causing an Epidemic of Mental Illness (p. 41). Penguin Publishing Group. Edição do Kindle.
https://g1.globo.com/saude/noticia/2023/03/13/depressao-de-adolescentes-e-hoje-mais-frequente-e-tem-maior-risco-de-suicidio.ghtml

[4] Sales, Nancy Jo. American Girls: Social Media and the Secret Lives of Teenagers (p. 3). Knopf Doubleday Publishing Group. Edição do Kindle.

[5] https://www.parents.com/parenting/better-parenting/what-is-helicopter-parenting

[6] https://biblioteca.ibge.gov.br/index.php/biblioteca-catalogo?view=detalhes&id=2101955

[7] Pesquisa nacional de saúde do escolar : análise de indicadores comparáveis dos escolares do 9º ano do ensino fundamental : municípios das capitais : 2009/2019 . https://biblioteca.ibge.gov.br/index.php/biblioteca-catalogo?view=detalhes&id=2101955

[8] Laranjeira, A. C. (2011). Sedentarismo como fator de risco de ansiedade e depressão em adolescentes do Recife: um estudo transversal. Disponível em: http://higia.imip.org.br/bitstream/123456789/546/1/Artigo_de_Ana%20Ceci%CC%81lia%20Laranjeira.pdf

Schuch, F. B. et al. (2020). Physical activity and incident depression: A meta-analysis of prospective cohort studies. American Journal of Psychiatry, 177(9), 816-825.

Carlos Magalhães

Carlos Magalhães

Igreja Conectada

Como levar a mensagem de Cristo ao maior número possível de pessoas usando a tecnologia digital

Graduado em Publicidade e Propaganda, é mestre em Administração pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e por anos atuou no segmento de e-Health. Tem se dedicado ao desenvolvimento de estratégias de evangelismo na internet há mais de 10 anos, e atualmente é o gerente de Marketing Digital da sede sul-americana da Igreja Adventista.