Pescadores digitais
Assim como na vida real, é preciso utilizar as ferramentas corretas para fisgar peixes para o reino de Deus
Nos artigos anteriores, tentei trazer à tona a essência do evangelismo digital: a pessoalidade. O fato de ser digital não significa que deva ser frio ou distante. Não significa que os likes e os números estejam acima das pessoas. Evangelismo digital é cuidar de pessoas e encontrar formas de, em meio a likes e seguidores, fazer o famoso tête-à-tête.
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Com isso em mente, nos meios digitais não buscamos seguidores: somos “pescadores de homens”. Em Mateus 4:19 encontramos esse tão emblemático e significativo convite de Jesus a Pedro e André: “E disse Jesus: ‘Sigam-me, e eu os farei pescadores de homens’”. Este mesmo convite é feito hoje a mim e a você. Porém, vivemos em tempos diferentes e, portanto, devemos usar estratégias diferentes de pesca.
Ensinos da pesca
Não sou pescador e não entendo praticamente nada do assunto, mas, ainda assim, quero me atrever a pontuar alguns detalhes da pesca que são relevantes ao nosso contexto.
Iniciativa do pescador. Para que a pesca aconteça, o pescador deve sair para pescar. Ele deve tomar a iniciativa. Não se pode pescar dentro de casa, de braços cruzados, assim como também não se pesca em alto mar quando não se tem a intenção e os instrumentos para fazê-lo. Mesmo que você esteja em “alto-mar digital”, sem a real intenção e estratégia de “pescar” você não terá êxito.
Momento certo. Pescadores experientes sabem os melhores momentos (horário, condições climáticas etc) para realizar a pesca, tanto do ponto de vista de produtividade quanto do ponto de vista de desgaste físico pessoal. Inclusive, há momentos específicos para diferentes tipos de peixes. No evangelismo digital não é diferente: há momentos certos para diferentes tipos de público.
Lugar certo. Além do momento certo, há também o lugar certo para a pesca de determinados tipos de peixes. Lembro-me de quando um de meus tios decidia secar o açude da chácara onde vivia. Toda a família se reunia para retirar os peixes e era uma grande festa. Lembro-me, também, de que havia um tipo específico de peixe que era mais comum de se encontrar nessas aventuras que os demais.
Isso acontecia porque nas pescas corriqueiras que faziam nesse açude, esse tipo de peixe era pouco pescado, pois ele gostava de viver na parte mais funda do açude e entre a lama, dificultando, assim, a pesca tradicional. Porém, com o açude seco e todos caminhando entre a lama, esse peixe já não podia escapar. Hoje temos diferentes tipos de redes sociais, que se mostram mais efetivas para diferentes faixas etárias. Por exemplo, o Instagram é mais popular entre os jovens, enquanto o Facebook é mais popular entre pessoas de mais idade.
Isca certa. Como se não bastasse saber o momento e o lugar corretos, também existe a isca correta. Lembro-me, também, de que nesse açude que mencionei, quando queríamos pescar um tipo específico de peixe, usávamos milho verde como isca. Peixes grandes precisam de iscas grandes para serem atraídos. Peixes pequenos precisam de iscas pequenas para serem atraídos. Se no evangelismo digital somos pescadores digitais, devemos usar a isca certa para atrair o público que estamos buscando.
Dados importantes
Estendendo um pouco mais sobre o aspecto do lugar e da isca certa, quero compartilhar com você alguns dados relevantes extraídos de um relatório elaborado pela We Are Social[1]:
- O número de usuários ativos nas redes sociais na América do Sul representa 72% da população;
- O número de conexões móveis na América do Sul representa 103% da população. O que significa que nesse território há mais conexões móveis do que pessoas;
- A América do Sul é a 4ª região no mundo em usuários de redes sociais;
- Em todo o mundo, 92,6% das pessoas acessam a internet por dispositivos móveis;
- Os aplicativos de conversação (WhatsApp, Facebook Messenger, Telegram, etc) são utilizados por 90,7% dos usuários de internet do mundo;
- As redes sociais são utilizadas por 88,4% dos usuários de internet no mundo;
- Do tempo em que as pessoas estão usando um dispositivo móvel, 44% é empregado em redes sociais (Facebook, Instagram etc) e comunicadores instantâneos (WhatsApp, Facebook Messenger, Telegram etc), enquanto 26% é assistindo vídeos, 9% jogando e 21% em outras atividades.
Esses dados estão carregados de informações importantes, mas quero pontuar, em linhas gerais, a predominância (1) das conexões móveis (smartphones, tablets e etc) em detrimento dos computadores; e (2) o uso das redes sociais e comunicadores instantâneos, com uma ressalva para os comunicadores instantâneos, que já superaram as redes sociais (90,7% vs. 88,4%).
Ora, se as pessoas estão usando a internet através dos dispositivos móveis e elas estão conectadas, na maior parte do tempo nas redes sociais e comunicadores instantâneos, espera-se que a pesca deva ser realizada considerando esses aspectos.
Para reforçar, quero apresentar também alguns dados publicados pelo grupo Barna[2]:
Quando uma pessoa não-cristã tem dúvidas sobre o cristianismo, as chances de ela perguntar a um amigo são as mesmas de ela procurar a resposta na internet. Perceba que a internet é vista pelas pessoas como uma fonte de conhecimento e respostas tão confiáveis e próximas como os próprios amigos.
Daqueles que não são cristãos, 45% não têm uma reação positiva quando veem publicações nas redes sociais sobre cristianismo. Falar abertamente sobre assuntos religiosos, do ponto de vista evangelístico, é mais efetivo quando o fazemos com pessoas próximas, que nos conhecem e com quem já criamos vínculos de confiança. Para o público geral, deve-se começar com temas de interesse dessas pessoas para poder criar esse vínculo e abertura.
Dos não-cristãos, 41% dizem que estariam abertos para participar de uma conversa espiritual sobre cristianismo se a experiência fosse amigável. Como sua igreja pode proporcionar estas conversas? Detalhe: conversa envolve interação e participação, não apenas “assistir”.
Mais uma vez, quero pontuar brevemente alguns aspectos. Perceba que respostas a dúvidas sobre o cristianismo são ótimos conteúdos para serem publicados como artigos e vídeos. Vale destacar que se não produzirmos tais repostas, outros produzirão. Para ser ainda mais claro em relação ao risco, se não produzirmos materiais sobre o sábado, outros produzirão. Se não produzirmos materiais sobre o estado dos mortos, outros produzirão. Percebe o perigo?
Falar abertamente de assuntos espirituais ou não?
Por outro lado, veja também que em interações mais gerais, como no feed das redes sociais, quando não se está buscando conteúdo espiritual, as chances de um reels, por exemplo, ser rejeitado por um não cristão é de quase 50%. Isso não significa que esse tipo de conteúdo não deva ser postado, mas deve haver um pensamento estratégico sobre os objetivos.
Normalmente, publicações com conteúdos espirituais atraem aqueles que já têm interesse ou relação com o assunto, enquanto que aqueles que falam sobre família, alimentação ou qualquer outra área que não tem uma relação direta com o espiritual têm chances muito maiores de “pescar” pessoas que jamais seriam alcançadas com conteúdos espirituais abertos. Porém, esse segundo grupo precisa quebrar um pouco mais a cabeça para fazer a ponte necessária para levar a pessoa a Cristo através de sua influência.
Entenda, não estou dizendo que A esteja errado e B esteja certo. Há espaço para todos. Quero apenas lhe ajudar a refletir e enxergar certos aspectos.
Dicas práticas de pesca digital
No primeiro artigo em que abordei o método de Cristo, no “Passo 1: Misturar-se”, listei algumas formas de misturar-se na internet e que estão ligadas à pesca. Essas dicas podem ser bem úteis a você. Por isso, recomendo ler o artigo caso não o tenha feito ainda.
Porém, aqui quero estender um pouco mais a última dica listada no artigo, que é a das hashtags. Na ocasião, a sugestão do uso das hashtags foi dada para que você possa usá-las de forma estratégica para que sua publicação alcance pessoas que tenham interesse com aquele assunto relacionado. Essa continua sendo uma sugestão válida, mas quero trazer uma outra abordagem.
Conversando com uma amiga, ela contou que regularmente entra no Twitter no mesmo horário em que está sendo transmitido uma novela com temática bíblica, e acompanha as hashtags que estão associadas à novela. Ela faz isso porque à medida que as pessoas vão assistindo e vão tendo dúvidas sobre o que está passando, elas lançam as perguntas no Twitter para que outras pessoas possam ajudá-las a entender melhor. Essa minha amiga é uma dessas pessoas que se prontifica a responder as dúvidas colocadas no Twitter.
Ela não é uma grande influenciadora digital, porém, com essa atitude simples, ela se coloca em contato direto com pessoas que estão dispostas a ouvir sobre a Bíblia e pode criar um relacionamento mais pessoal com elas.
Finalizo perguntando: e você, tem pescado?
Referências
[1] https://wearesocial.com/blog/2021/01/digital-2021-the-latest-insights-into-the-state-of-digital
[2] Barna Group, Five Changing Contexts for Digital Evangelism.