Voluntários amenizam a fome de moradores de rua
No fim de semana da Páscoa, grupo distribuiu mais de 100 marmitas pelas ruas de Belo Horizonte.
É em um papelão visivelmente sujo que Davison Carvalho, de 43 anos, tenta deitar e se cobrir para proteger-se do frio da noite. Enquanto fala, as mãos são levados nos cabelos e na barba por fazer. Ele faz uma pausa para dar um espirro e lá vai uma das mãos à frente da boca para conter o que, aparentemente, pode ser apenas um resfriado.
Davison é um dos 7 mil moradores em situação de rua* de Belo Horizonte que por dois motivos tem lutado em tempos de pandemia. O primeiro, pela necessidade básica do ser humano, que é a busca por alimento. O segundo, por questão de saúde pública, que consiste em não ser contaminado pelo novo coronavírus.
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“Agora, mais do que nunca, percebemos que as pessoas estão sentindo mais fome”, relata o pastor Marcelo Moreira. Com ruas vazias, não há pessoas para doarem e, consequentemente, a fome acaba sendo maior ainda. Além disso, famílias estão tendo dificuldade para pagar os aluguéis e as vias públicas têm se tornado moradia. Por isso, um grupo de voluntários da Igreja Adventista central de Belo Horizonte tem saído às ruas para entregar marmitas.
No fim de semana da Páscoa, eles distribuíram mais de 100 marmitas pelas ruas do bairro Funcionários. O alimento é fruto de doações de um empresário, da Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos Assistenciais (ADRA) e dos próprios envolvidos, que há quatro anos já realizam esse trabalho, chamado de projeto "Marmitando com Amor".
Por conta da pandemia e do Mutirão de Páscoa da Ação Solidária Adventista (ASA), as entregas de marmitas passaram a ser intensificadas. Durante a semana, outras igrejas também tem se envolvido nesse projeto e feito entregas em áreas de periferia e concentrada circulação de moradores de rua.
Confira no vídeo abaixo, o momento em que as marmitas são entregues em uma praça da capital mineira. O pastor Wayster Dias, líder da Ação Solidária Adventista para a região central de Minas, e o pastor Marcelo Moreira, comentam sobre a ação.
https://youtu.be/Af5ivnq2j-o
"O meu pedido é que o mundo inteiro fique em paz"
Na avenida Carandaí com avenida Brasil, os voluntários encontraram com Paulo Norberto de Souza, de 58 anos, e mais um casal, com nomes não identificados. Após a entrega do alimento, o pastor Dias perguntou se eles aceitariam orar. Os três concordaram. Um deles externou um único desejo. "O meu pedido é que o mundo inteiro fique em paz". E com esse apelo, a oração foi feita.
Ao término da prece, Dias desabafou. "Percebe que eles não pedem bens materiais? Eles querem saúde e paz. Muitas das vezes temos muito em casa e só reclamamos", analisa.
A professora Marcia Silva, de 50 anos, que participou pela primeira vez do projeto, se sentiu tocada."Só quando nos envolvemos em uma ação como essa é que vemos qual é a real necessidade deles. A gente tem tanto e não valoriza. O pouco que fazemos por eles já é muito", destaca.
Em uma sacola, Marcia carregava frascos de desodorante para entregar com as marmitas. "As pessoas pensam que quem está nas ruas não tem preocupação com a higiene pessoal, mas eles têm. Só falta condições para fazer", explica.
*Fonte: Ministério do Desenvolvimento Social