Reavivados pela missão
Entenda como estar focado na tarefa de contar aos outros sobre Cristo pode beneficiar outras áreas de sua vida.
Sou pastor de oito igrejas. Sempre me preocupei com o engajamento de cada membro na comunhão pessoal com Deus, no relacionamento que abençoa o próximo e na missão de compartilhar o evangelho, sempre nesta ordem. Isso é tão importante que cheguei a usar vários métodos de ensino, de aplicação, sistemas de assistência e ferramentas de aferição para acompanhar, de perto e detalhadamente, como estão as práticas devocionais, sociais e missionais dos membros.
Ao comparar vários relatórios indicativos dos índices de comunhão, relacionamento e missão (CRM) de todas as minhas igrejas ao longo de um ano, fui surpreendido por uma aparente anormalidade. Notei que duas delas pareciam seguir um curso fora da curva normal. Para cada oscilação dos gráficos, para cima ou para baixo, eu julgava saber as explicações. Mas num determinado ponto do ano, em que todas iam numa direção de uma quantidade menor de práticas de disciplinas espirituais, essas duas igrejas contrariavam todas as possibilidades, demonstrando um crescimento muito distinto.
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Pensando haver erro nas estatísticas, gastei muitas horas revisando tudo e não encontrei nada que pudesse explicar. Que razão havia para que tivessem crescido tanto em comunhão de uma forma tão diferente das outras? O que estaria errado em todo aquele sistema aplicado de CRM?
Analisando tudo que acontecera naqueles meses, além do que eu usava como apontamentos, cheguei a uma conclusão incontestável: pouco antes, elas haviam realizado campanhas evangelísticas. Essa era a única grande diferença! As demais igrejas tinham continuado com todas as suas rotinas eclesiásticas, exceto por não terem realizado programas dessa natureza.
Enquanto isso, aquelas duas haviam se esmerado em um projeto específico de proclamação e colheita. E isso acendeu uma luzinha na nossa consciência: enquanto quase sempre se diz que seria a estrita comunhão que deveria levar ao relacionamento intencional que resultaria na frutífera missão, será que a ordem desses fatores seria realmente uma lei inalterável? Para este assunto, a mudança da ordem dos fatores alteraria o produto? Ou poderia até haver situações em que alterar a disposição dos tratores poderia até melhorar o viaduto?
Benefícios de servir
Encontrei a ponte para ligar essas ideias quando fui buscar resposta nos textos escritos por Ellen White. Partindo dos meus próprios pressupostos, amadureci para uma quebra de paradigma quando encontrei várias citações muito interessantes. É claro que, usualmente, é a estrita comunhão que leva ao relacionamento intencional que resulta em frutífera missão. Há algum tempo, cheguei a escrever: “Antes de ser um missionário, você deve ser um cristão. Comunhão, relacionamento e missão são fatores que estão numa ordem que não pode ser trocada sem que o resultado final fique comprometido”[1].
E hoje aprimoro: “Comprometido para melhor, pode ser”, porque trago à luz que essa máxima não é uma lei imutável. Ela dedica um capítulo inteiro de seu best-seller para deixar claro o ensinamento de que uma das principais formas de crescer em Cristo está no serviço cristão[2]. Em outras obras, ainda diz mais:
“O culto verdadeiro consiste em trabalhar juntamente com Cristo. Orações, exortações e falas são frutos baratos que frequentemente são acrescentados[3].”
“Foi-me mostrado o povo de Deus esperando que ocorresse alguma mudança – que um compulsivo poder deles se apoderasse. Mas ficarão decepcionados, pois estão em erro. Precisam agir; precisam lançar por si mesmos mãos ao trabalho[4].”
“Você não deve esperar grandes ocasiões ou habilitações extraordinárias para então trabalhar para Deus[5].”
“Deus nos pede que demos ao Seu serviço o primeiro lugar em nossa vida[6].”
“O que conserva o vigor do ser humano é o trabalho. E o trabalho espiritual, fadiga e responsabilidades é o que dará vigor à igreja de Cristo[7].”
“A igreja deve ser uma igreja ativa, se quiser ser uma igreja viva[8].”
“A causa de nossa grande deficiência na vida e experiência cristãs é a inatividade na causa de Deus[9].”
“Aqueles que não fazem nada na causa de Deus deixarão de crescer na graça e no conhecimento da verdade[10].”
“Os que se acham numa condição enferma são aqueles que não se encontram empenhados nessa obra desinteressada[11].”
“Eis a receita prescrita por Cristo para a alma desfalecida, duvidosa e tremente: que os tristes, que andam lamentosamente na presença de Deus, levantem-se e ajudem alguém que esteja em necessidade[12].”
“Só existe um remédio verdadeiro para a indolência espiritual, e esse é trabalhar – trabalhar pelas pessoas que precisam da ajuda de vocês[13].”
“Coisa alguma proporcionará mais vigor à sua piedade do que trabalhar para promover a causa que você diz amar[14].”
“A fortaleza pra resistir ao mal é melhor obtida pelo trabalho intenso[15].”
“A sua força e as suas bênçãos espirituais serão proporcionais ao trabalho de amor e às boas obras que você fizer[16].”
“Ao trabalhar para os outros, o divino poder do Espírito há de operar em sua alma[17].”
“O único meio de crescer em graça é achar-se interessado em fazer exatamente a obra que Cristo nos ordenou fazer[18].”
“Aqueles que, em amor para com Deus e seus semelhantes, estão se esforçando para auxiliar os outros, são os que ficam estabelecidos, fortalecidos e firmes na verdade[19].”
“Aceitar responsabilidade tão grande e sagrada por si só eleva o caráter. Estimula as mais elevadas forças mentais e espirituais à atividade e fortalece e purifica a mente e o coração. Quanto mais você procurar comunicar luz, mais luz receberá[20].”
“A igreja que se empenha com êxito nessa obra é uma igreja feliz[21].”
Sim! A missão reaviva! Se você imagina que a sua fé esteja muito fraca, talvez tenha que fazer como aquela interessada que estava junto ao poço de Jacó. A mulher samaritana não ficou esperando por um reavivamento nem passou por uma capacitação para então ingressar na missão (João 4). Às vezes, você não dever ficar tentando aprender a nadar para então entrar na água. Haverá ocasiões em que terá que entrar na água, para então aprender a nadar.
Foi o que vi acontecer naquelas duas igrejas que se destacaram. Estavam fracas? A princípio, sim. Mas foram fazer trabalho missionário. E aconteceu um “MRC”: a missão levou-lhes à prática do relacionamento, que culminou na comunhão. “Por meio das suas ações, a sua fé se tornou completa” (Tiago 2:22).
Referências:
[1] Disponível em: https://noticias.adventistas.org/pt/coluna/valdeci-junior/reformados-por-sua-palavra/
[2] Ellen White, Caminho a Cristo, p. 77-84.
[3]_________, Review and Herald, 16/8/1881.
[4]_________, Testemunhos Seletos, v. 1, p. 88.
[5]_________, Caminho a Cristo, p. 83.
[6]_________, Profetas e Reis, p. 221.
[7]_________, Testemunhos para a Igreja, v. 2, p. 22.
[8]_________, Review and Herald, 4/8/1891.
[9]_________, Review and Herald, 13/3/1888.
[10]_________, Obreiros Evangélicos, p. 84.
[11]_________, Review and Herald, 2/9/1890.
[12]_________, Testemunhos Seletos, v. 2, p. 504.
[13]_________, Serviço Cristão, p. 107.
[14]_________, Testemunhos para a Igreja, v. 4, p. 236.
[15]_________, Atos dos Apóstolos, p. 105.
[16]_________, Testemunhos para a Igreja, v. 3, p. 526.
[17]_________, Mensagens aos Jovens, p. 197.
[18]_________, Review and Herald, 7/6/1887.
[19]_________, Serviço Cristão, p. 106.
[20]_________, Parábolas de Jesus, p. 354.
[21]_________, Testemunhos para a Igreja, v. 2, p. 22.