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Mãe de autista destaca o aprendizado de conviver com o transtorno

No Dia Mundial de Sensibilização para o Autismo, o depoimento desta mãe e ativista social evidencia a necessidade de atenção ao tema


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Por Vanessa Arba, com informações do portal Autismorealidade

Pessoas com autismo têm potenciais profissionais e acadêmicos que por vezes não são reconhecidos (Foto: Shutterstock)

Ao saírem da maternidade, os pais de Suzana perceberam peculiaridades no comportamento da filha. Ela foi logo encaminhada a um oftalmologista e, após avaliações e exames, foi diagnosticada com um grau moderado a intenso de autismo.

Suzana não podia falar, ler ou escrever. O autismo não verbal se somava a uma série de outros problemas neuropsicomotores que a impediam de desempenhar diversas tarefas comuns à maioria das crianças. Foi um grande desafio para a família, especialmente para os pais que, sendo ela a primeira filha, não tinham qualquer experiência, sobretudo em tratos com demandas especiais.

Transtorno do Espectro Autista (TEA)

Essa nomenclatura engloba um grupo de desordens no desenvolvimento cerebral que podem ocorrer durante a formação do feto ou logo após o nascimento, com diferentes graus de intensidade. As principais características desses distúrbios são a dificuldade de comunicação e comportamentos repetitivos.

TEA pode acarretar um comportamento hiperativo e/ou limitações na coordenação motora (dispraxia), nos níveis de atenção (TDA) e no aprendizado escolar ou em atividades cotidianas (dislexia). Muitos casos de autismo vêm acompanhados por outros problemas de saúde.

Pessoas com autismo, geralmente, têm muita sensibilidade sensorial, o que também pode variar em tipo e intensidade. Por exemplo, um cheiro ou som que para a maioria das pessoas pode passar despercebido, para um autista pode ser intenso e demasiadamente incômodo, causando-lhe ansiedade e até dor física.

Em outros casos pode haver uma baixíssima sensibilidade sensorial, que impede a sensação de dor ou temperaturas extremas, por exemplo. Por isso alguns autistas mantêm movimentos repetitivos, na tentativa de criar sensações ou ajudar na coordenação, equilíbrio e postura corporais. A própria afetividade pode ser influenciada pela consciência corporal. A repetição também é um mecanismo para aliviar o estresse e demonstrar emoções.

O autismo é uma condição permanente, ou seja, não tem “cura”. Por outro lado, em muitos casos, com o devido acompanhamento e apoio, o autista consegue levar uma vida normal, podendo aprender, ter bom desempenho em atividades e desenvolver habilidades acima da média em áreas como artes, música e matemática, por exemplo. Para o melhor desenvolvimento destes potenciais, é necessário que a família busque, desde cedo, acompanhamento profissional e procure adequar a sua rotina às necessidades da criança, respeitando o seu tempo e as suas limitações, usando constantemente de incentivo e inclusão.

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Grande parte dos autistas tem uma destacada inteligência visual, sendo bastante atenta a detalhes que poucas pessoas conseguem notar. Outras características sobressalentes são a excelente memória e a dedicação em áreas do seu interesse. Tudo isso somado à lealdade e à confiabilidade assegura o quão aptos podem ser para determinadas funções e atividades.

Aprendizado constante

Sulemi com a filha, Suzana

Para Sulemi Coaxi, mãe da Suzana, as circunstâncias da filha foram uma motivação a buscar conhecimento. Formada em Letras, ela se especializou em psicopedagogia e fez diversos cursos em áreas relacionadas à educação e transtornos neurológicos. Ela também fundou um instituto em Sapeaçu, no interior da Bahia, ligado à Fundação Pestalozzi, para atender crianças com disfunções neuropsicomotoras, inclusive o autismo.

Dentre as atividades da organização, estão o trato com crianças especiais, respeitando as peculiaridades e necessidades de cada uma, encaminhamento a profissionais especializados, orientação às famílias, instrução de professores sobre educação especial, arrecadação de verba para tratamentos, projetos e atividades, luta por políticas de inclusão para as crianças e parceria com instituições educacionais e de saúde na região.

É um trabalho de mais de duas décadas, que já rendeu a Sulemi o reconhecimento como destaque social através de diversos prêmios. “Eu me sinto em débito com a Suzana porque eu, como professora, que deveria ensinar, aprendi muito mais com ela. Ela uniu a nossa família e fez com que desempenhássemos um papel social dentro da nossa comunidade. Foi por ela e através dela que eu venci meus medos, preconceitos, busquei conhecimento e capacitação e hoje me sinto tão realizada”, reconhece Sulemi, que acredita que a convivência com uma criança autista é uma experiência ímpar de crescimento para qualquer família. Para ela, são imprescindíveis a aceitação das circunstâncias, a especialização por parte das pessoas próximas e, claro, muito amor e naturalidade na rotina.

No início do ano passado, Suzana faleceu, aos 23 anos de idade. “A melhor coisa que Suzana fez por mim foi me dar o privilégio de ser a sua porta-voz. Eu aprendi a interpretá-la, então falava com ela e por ela. Eu sentia confiança e gratidão no olhar dela. Eu era a sua interlocutora diante do mundo, e isso me fez crescer tanto! ”, considera Sulemi.

Uma questão de consciência social!

Para a psicóloga Maiane Costa, é de fundamental importância que a sociedade se conscientize, busque conhecimento sobre o tema e quebre os preconceitos em torno do autismo. “Muitas vezes os autistas são estigmatizados e isolados pela falta de informação e de medidas inclusivas. Já existem leis que lhes garantem direitos a todas as políticas de inclusão no nosso país, mas diretrizes na legislação, por si só, não mudam a realidade. Por isso é importante o engajamento da sociedade nesta luta. Não é simples, é um desafio, dá trabalho, mas nada que uma boa dose de informação, aceitação e respeito à diversidade não resolvam”, assegura.

Hoje, 02 de abril, é o Dia Mundial de Sensibilização para o Autismo.