Voluntários levam amor e alimentos para moradores de rua no Rio
Campanha "Terça Solidária" tem levado alento na Vila Isabel.
Rio de Janeiro, RJ… [ASN] Sacolas contendo vegetais frescos, panelas cheias de comida no fogão e dezenas de embalagens de marmitas descartáveis. O cheiro de uma boa refeição paira no ar. Tal cenário faz uma pessoa pensar em um restaurante ou uma cozinha de uma residência qualquer. No entanto, o ambiente descrito fica numa igreja, mais precisamente na Igreja Adventista do Sétimo Dia de Vila Isabel, na Zona Norte do Rio de Janeiro. Neste lugar, todas as terças-feiras, um grupo de 30 pessoas deixa de ir para casa no fim do expediente para participar de um segundo trabalho. Uma atividade que tem trazido alegria e satisfação para eles.
Trata-se da “Terça Solidária”, um projeto que leva comida e assistência social para moradores de rua na avenida Boulevard 20 de Setembro e para a praça Saens Pena, logradouros mais movimentados da Vila Isabel e da Tijuca, respectivamente. O grupo é formado por voluntários do bairro e por fiéis da igreja. Eles saem da igreja por volta das 20h para conversar e oferecer ajuda a essas pessoas. A ideia de dar início ao projeto surgiu através de Arnaldo Gama, um dos membros da igreja e que também é líder do projeto. “A ideia começou por volta de agosto do ano passado. Na primeira vez que saímos conseguimos entregar 25 quentinhas. Daí em diante foi um processo crescente e chegamos a uma média de 45 refeições. Com o passar do tempo as pessoas iam descobrindo o projeto e começavam a partipar. Tanto pessoas desta igreja como amigos que não são adventistas também”, conta.
Gama explica também que o desenvolvimento da Terça Solidária resultou numa melhor subdivisão de atividades que contribuíram para a logística de preparação e entrega das “quentinhas”. “Hoje temos pessoas que doam ovo, outros que doam arroz, óleo. Temos amigos responsáveis por cozinhar e separar essa comida. Isso nos ajudou também a, em dezembro, preparar uma ceia para os moradores de rua. Na semana do Natal trouxemos todos eles para dentro da igreja e oferecemos comida, corte de cabelo e outras atividades. Tudo isso nós fizemos ser ter experiência alguma em assistência social”, lembra. Ele também ressalta que tal inexperiência em nenhum momento comprometeu a qualidade do trabalho. “Tudo isso para nós foi e continua sendo muito gratificante”, acrescenta.
Logo no início da terça solidária os voluntários também tiveram a preocupação de como os moradores de rua responderiam a essa iniciativa. O líder conta que essa preocupação teve fim logo após o primeiro contato. “Nós chegamos, conversamos, oferecemos a mão e eles não tiveram nenhum sentimento de rejeição ou de medo. Desde esse dia não tivemos nenhum problema, graças à Deus. Alguns já vêm aqui, tomam banho, conhecem a igreja. A todo momento nós sentimos a presença de Deus no nosso trabalho”, pontua.
O programa tem como foco o morador de rua. No entanto, dar alimentos não é apenas o único objetivo. “Nós atendemos pessoas que são carentes de tudo e que foram para a rua por diversos motivos. Muitos deles têm envolvimento com consumo de drogas. Também encontramos vários que vieram para a rua por conflitos familiares. Uma coisa que nos trouxe uma surpresa foi o fato de termos encontrado vários ex-evangélicos entre eles. Portanto é com esse universo diverso que estamos trabalhando”, contextualiza o líder do projeto. Tal diferença de motivos que levaram essas pessoas para a rua fez com que os voluntários buscassem parceria com casas de recuperação de dependentes químicos e com outros grupos de assistência social.
Hoje a equipe produz mais de 50 marmitas por semana. Mas eles querem ir além, pois têm consciência da vulnerabilidade social em que essas pessoas se encontram. “Estamos com outros planos. Um exemplo é a possibilidade de colocar essa pessoa no mercado trabalho. Queremos retirar ele do mundo das drogas e chegar numa condição em que ele possa sair das ruas e caminhar com as próprias pernas”, planeja Gama.
Questionado sobre o que motiva ele e toda sua equipe a manter essa rotina intensa, Arnaldo resume em uma palavra: amor. “Eu vou te falar que eu nunca imaginei que teria a alegria de fazer uma coisa que financeiramente não recebo nada. Pelo contrário, eu recebo o mais importante, que é o amor em poder ajudar essas pessoas e a satisfação de estar fazendo o trabalho de Deus”, completa.
Ao final da entrevista, os voluntários já estão com as marmitas nas caixas, prontas para serem entregues. A fina chuva que alivia o calor da noite de verão carioca não os intimida. Divididos em três grupos eles saem do silêncio da igreja para os ruídos da rua. O sorriso no rosto confirma o sentimento expresso por Arnaldo ao explicar a motivação desse grupo. A capacidade do ato deles de mudar a vida de quem está na margem da sociedade. [Equipe ASN, Douglas Pessoa]