Nativos venezuelanos migram para Santarém em busca de qualidade de vida
No oeste paraense, cerca de 300 pessoas buscam emprego, alimentos e segurança, e encontram voluntários dispostos a ajudar.
Quem circula diariamente pelo entorno da rodoviária de Santarém, nas ruas do centro e bairros já percebeu homens, mulheres e crianças falando uma língua estrangeira desconhecida ou um espanhol incompreensível.
As mulheres chamam a atenção pelos longos cabelos escuros e saias, e vestidos coloridos. Todos são parte da comunidade indígena venezuelana da etnia Warao, que estão migrando desde o mês de janeiro para a cidade de Santarém em busca de qualidade de vida.
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Eles, que falam a língua do mesmo nome da etnia, estão longe de casa, a uma distância superior a 1.700 quilômetros. São os povos mais antigos do Delta do Orinoco, conhecidos também como “pessoas da canoa”.
Novo lar no Brasil
Em Santarém, interior do Pará, estão vivendo como podem. No abrigo improvisado na BR-163, cerca de 5 km do centro da cidade, dormem em barracas de lona azul, lavam as roupas e as penduram na cerca de arame farpado, como se fosse um varal gigante. Tudo que eles têm dentro das barracas são sacolas com alimentos, calçados, medicamentos, roupas, brinquedos, entre outros itens que foram doados pela população, pessoas ligadas a igrejas, escolas e o cidadão comum que tem o sentimento humanitário e solidário.
Eles migram para cidades brasileiras do extremo Norte desde 2014, quando a crise política e econômica na Venezuela se agravou, provocando a falta de alimentos básicos, itens de higiene pessoal, remédios, atendimento de saúde e energia para a população.
Desde o início do mês de abril, um grupo de membros da Igreja Adventista do Sétimo Dia está no local realizando trabalhos voluntários, auxiliando-os no que podem, buscando amenizar a situação precária em que vivem. Como resultado desse trabalho, 61 pessoas foram batizadas no dia 24 deste mês.
Herica Moreira faz parte do projeto Um Ano em Missão (OYIM, na sigla em inglês), um programa em que jovens dedicam um ano ao trabalho voluntário. Ela explica que é prazeroso se sentir útil ajudando as pessoas. “Eles são excluídos da sociedade, e a gente podendo fazer a nossa parte e mostrar a Palavra de Deus a eles, ficam felizes e é gratificante”, destaca.
Durante o dia, os novos moradores do oeste paraense recebem visitas e doações de roupas e alimentos. À noite, são convidados a participar de uma programação que envolve música, palestras sobre saúde, família e estudo da Bíblia com a ajuda de intérprete.
“A gente vê que Deus começa a fazer um trabalho especial no coração deles. Eles estão longe da sua terra, mas sentem o poder de Deus aqui. Dentro dessa comunidade temos uma Igreja Adventista e vamos começar um trabalho que não é fácil. Tem a questão da cultura deles, a língua, mas esse é o desafio, e nós vamos avançar”, ressalta o pastor Cassimiro Moraes, diretor de jovens para toda a região oeste do Pará.