É curioso que um livro que para muitos é considerado o mais difícil da Bíblia receba o nome de Apocalipse. Traduzido do grego, Apocalipse quer dizer Revelação, e revelar é tornar conhecido, deixar ver. As interpretações equivocadas deste livro, no entanto, não ajudam a tornar a revelação conhecida. O jornalista, poeta satírico e veterano da Guerra Civil Americana, Ambrose Bierce, descreveu o Apocalipse como “um livro famoso em que João ocultou todo o seu conhecimento. A revelação é feita pelos comentaristas que nada sabem”.

A sátira de Bierce foi usada pelo pastor Adenilton Aguiar para introduzir sua aula durante o Curso de Educação Contínua, com foco em estudos do livro do Apocalipse, uma iniciativa da Associação Ministerial (área da igreja de acompanhamento e apoio ao pastor adventista) da União Leste Brasileira, sede da Igreja Adventista do Sétimo Dia para Bahia e Sergipe. O evento aconteceu na terça, dia 6 de maio, e mobilizou mais de 360 pastores, que acompanharam por meio do aplicativo de conferência à distância Zoom Meetings.

O programa de Educação Contínua é uma iniciativa anual de capacitação para pastores. Este ano, com o isolamento social determinado como medida de enfrentamento ao coronavírus, o treinamento aconteceu remotamente. “Estamos em uma época em que a Igreja está buscando o virtual”, disse o pastor André Dantas, secretário da União Leste Brasileira e líder da Associação Ministerial para Bahia e Sergipe. Ele coordena o programa para esses dois Estados nordestinos.

Sobre o tema do Apocalipse, o pastor Dantas mencionou que a compreensão profética é importante para os dias atuais, mergulhados em interpretações equivocadas desses ensinos. “Há palestrantes com ideias mirabolantes de profecia e aplicações errôneas dos livros proféticos de Daniel e Apocalipse. Ao escolher esse estudo, pretendemos atualizar o pastor sobre o tema teológico profético, para ajudá-lo na tarefa de auxiliar líderes e membros da Igreja sobre o estudo das profecias”, declarou o pastor André Dantas.

Visão Cristocêntrica

A capacitação contou com a participação de dois instrutores. O primeiro pastor Oscar Pereira Lopes, que apresentou uma aula sobre Pregação Escatológica e a Hermenêutica Adventista do Apocalipse. Bacharel em Teologia pelo Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp), o pastor Oscar tem mestrado em Teologia Bíblica.

O outro tema foi “Como interpretar o Apocalipse – algumas diretrizes básicas e sua aplicação a Apocalipse 17”, apresentado pelo pastor Adenilton Tavares Aguiar. Mestre em Ciências da Religião e doutorando em Novo Testamento pela Andrews University, o pastor Adenilton é professor do Seminário Adventista de Teologia (SALT) da Faculdade Adventista da Bahia.

Um aspecto deu um rumo ao conteúdo levado a pastores da Bahia e de Sergipe: a visão cristocêntrica do Apocalipse. “Jesus está presente em praticamente cada capítulo, se você ler o Apocalipse e não ver Cristo em cada página, alguma coisa está errada com sua leitura”, afirmou o pastor Adenilton. Para os instrutores, muitas pessoas são atraídas pelos símbolos do livro, como bestas, chifres, gafanhotos, interpretações. Apesar de reconhecer que o simbolismo é importante, o treinamento deixou claro que o tema central do livro é Jesus. “É preciso estudar o Apocalipse em conexão com a mensagem da justificação pela fé”, concluiu, referindo-se à doutrina da salvação pela fé em Jesus e seu sacrifício.