Brasília, DF ... [ASN] Bíblia e cultura será tema de um livro preparado por teólogos adventistas sul-americanos em 2017. A informação é do reitor do Seminário Adventista Latinoamericano de Teologia (Salt), doutor Adolfo Suárez, durante a reunião anual do Biblical Research Committee (BRC), realizado nessa semana em Brasília. O evento reuniu o comitê de teólogos de seminários de oito países. A função desse grupo é justamente a de pesquisar temas de maneira profunda e orientar a liderança em geral da Igreja sobre rumos teológicos a seguir em diferentes temas.

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O plano é lançar um livro com os temas apresentados, num total de 11, tanto em português quanto em espanhol. “O conteúdo é acadêmico, mas seu propósito será alcançar os membros da Igreja e outros interessados, pois o tema cultura é de interesse de toda a comunidade”, explica o reitor do Salt.

A discussão a respeito da relação entre a narrativa bíblica e os elementos da cultura, longe de se esgotar, tomou horas dos homens que mais estudam o assunto na Igreja Adventista atualmente na região.

Para Suárez, que organizou o evento, “a cultura pode ser entendida como a soma das normas, conhecimentos, comportamentos, ritos e símbolos de um grupo social. E como a sociedade é dinâmica, os componentes da cultura mudam com freqüência. Neste sentido, a cultura se torna um desafio, pois a Bíblia lida com valores eternos, imutáveis, absolutos”. O teólogo Vanderlei Dorneles, coordenador da graduação da Faculdade de Teologia do Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp), ressalta que há desafios em relação a esse tema como a própria interpretação da Bíblia na linguagem empregada pelos autores e o próprio contexto cultural em que estavam inseridos.

Pluralismo e relativismo

Para o diretor do Biblical Research Institute (sigla BRI) ou Instituto de Pesquisa Bíblica- o colegiado mundial dos teólogos adventistas -, Elias Brasil, talvez um dos maiores desafios dessa discussão seja a de se defender a validade dos escritos bíblicos para conduta moral das pessoas em uma Sociedade bastante influenciada por conceitos de pluralismo e relativismo. “Precisamos entender que a cultura contemporânea não quer atar seu destino a um livro como a Bíblia. Além disso, outro desafio que os teólogos cristãos têm é com respeito a normas e estilo de vida. Para a sociedade em geral, a referência é o ser humano e não a revelação divina que cremos estar na Bíblia”, aponta.

Brasil admite que é uma tarefa impopular continuar afirmando, como faz a Igreja Adventista do Sétimo Dia, que a Bíblia é a Palavra de Deus com conceitos aplicados e apropriados para todos os tipos de cultura. Ao mesmo tempo, afirma que é algo com o qual a Igreja precisa lidar. Ou seja, deve manter seus princípios apesar de saber que existe em meio a uma sociedade onde a Bíblia é considerada, por muitos, como uma narrativa mítica e onde é fraca a ideia de uma cultura superior à outra.

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Igualdade e inclusão

Quando se fala de cultura, nos dias atuais conceitos de igualdade e inclusão imediatamente chamam a atenção. Alguns dados mostram essa preocupação, especialmente com igualdade. Uma pesquisa anual do Fórum Econômico Mundial aponta que seriam necessários 95 anos para que mulheres e homens atingissem a plena igualdade no Brasil. O país ficou na 79ª posição no ranking global de 2016 da organização sobre o tema. Em 2015, havia ficado na 85ª posição.

Para Elias Brasil, igualdade e inclusão sempre foram valores importantes no ministério e nos ensinos de Jesus Cristo. “Os direitos humanos são reafirmados por Cristo e a igreja sempre vai apoiar esse tipo de conceito, porém sem extremismos e dentro da cosmovisão bíblica”, coloca o teólogo.

Para o diretor do Instituto de Pesquisa Bíblica, é muito importante modernizar métodos e formas de abordagem, mas para ser relevante, não para diminuir a importância ou substituir os princípios que dão a base de sustentação para o que a Igreja Adventista é e faz. [Equipe ASN, Felipe Lemos]