Sul do Brasil experimenta método para aproximar igreja e comunidade
Programa Plantador Nível 5 e tem a intenção de ser um movimento de igrejas que plantem igrejas em harmonia com as necessidades da comunidade local
Curitiba, PR...[ASN] Com a média de 600 fiéis ativos, a Igreja Adventista Central de Cascavel, no oeste do Paraná, apresentou a necessidade de se multiplicar. Potencial e gente para fazer isso não faltavam, mas, antes de estabelecer uma nova igreja, é preciso traçar planos e entender quais são os conceitos que irão nortear esta nova ação. Foi por isso que, em 2015, Denny Martins, pastor local, começou um trabalho de treinamento e conceito com os membros, diante do desafio de abrir mais uma igreja adventista na cidade. Depois de pesquisas, o bairro Country, em Cascavel, foi escolhido para abrigar a igreja. Tudo foi muito rápido, mas cerca de 25 pessoas migraram para esta igreja, e, por seis meses, o local era aberto todos os dias com atividades para a comunidade. Era o começo de um relacionamento com o bairro.
Mais do que a construção em si ou simplesmente abrir as portas em uma localidade, a intenção era que a igreja fosse relevante e que realmente atendesse as necessidade das pessoas, trabalhando fora de suas quatro paredes. A prioridade passou a ser servir. “Nós deixamos um pouco de lado a tradição engessada e a formalidade, que muitas vezes é descabida de propósito, que as pessoas não entendem por que estão fazendo aquilo. Estamos tentando voltar às nossas origens e contextualizar ao ambiente que a gente está, para alcançar as pessoas com uma linguagem que elas utilizam e com uma programação que fale a elas. Esse é o estilo desta igreja [no bairro Country]”, explica Denny, que menciona a existência de 64 membros ativos, mas com uma frequência de 100 pessoas nos cultos aos sábados nesta igreja.Plantio consistente
O grupo já apresentava o conceito, porém faltava a estrutura e o direcionamento, para que tudo fosse ainda mais real e bem estabelecido. Foi quando Denny se deparou com a iniciativa chamada Plantador Nível 5 (PN5), organizada pelo departamento de Missão Global da Igreja Adventista no Sul do Brasil, e que é considerado um movimento de igrejas plantando igrejas, porém centrado no evangelho e na missão.
A imagem da plantação que ilustra esta iniciativa, assim como na agricultura, remete-se ao fato de plantar a semente, que é a igreja; cuidar do solo, que é firmar e fazer com que a igreja nasça com os propósitos certos e alinhados e cresça saudável, dê frutos e multiplique esses frutos com a plantação de novas igrejas. Isso vai muito além da construção de um templo em si, e sim o envolvimento de pessoas.“É uma modalidade de plantação diferente, porque ela não segue um modelo tão tradicional, onde se está preocupado primeiro com prédio ou com território. Estamos preocupados em plantar pessoas, porque isso é ser igreja. O propósito é de desenvolver pessoas para que o reino de Deus seja expandido em cada contexto. Se a gente desenvolve as pessoas, a igreja, o templo, o batismo e os dízimos são consequência, pois fazem parte do processo de discipulado de uma plantação saudável”, cita Alex Palmeira, líder do Plantador Nível 5.
A iniciativa consiste em treinar pessoas que tenham esse DNA da multiplicação, para que não apenas a instituição estabeleça novas igrejas, mas que os próprios fiéis e pastores tenham essa visão. A intenção é ajudar os chamados plantadores a produzir resultados específicos para sua a realidade onde sua igreja está inserida.
Método de abordagem
O primeiro passo para ingressar no PN5 é passar por uma entrevista que enfatiza seis aspectos da liderança – vitalidade espiritual, clareza teológica, modo de vida voltado à missão, relacionamento familiar, relacionamento com as finanças e competências relacionais - a fim de conhecer o perfil do candidato. Isso pode incluir pastores e membros, que ambos estão no foco do projeto. É um programa que acontece em nível experimental e precisa ser muito bem compreendido pelos participantes. Os participantes passam por um acompanhamento próximo bem próximo das pessoas que lideram essa metodologia de trabalho.
“Todos estão qualificados para a plantação, mas alguns, às vezes, podem esperar um pouco mais, podem resolver algumas questões para então continuar o processo da plantação. Desenvolvemos esse processo com muita seriedade, e acredito que Deus está dando muita vitória”, explica Alex. No ano passado, quando se deu início o PN5, a primeira turma era composta de 15 pessoas para todo o Sul do Brasil. Com o progresso, em 2017, foram abertos três polos com novas turmas, um em cada estado – Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul – contemplando a média de 50 novos plantadores no total. O treinamento tem duração de um ano e acontece em quatro módulos trimestrais, abordando todos os pontos principais para tornar a plantação de uma igreja de maneira eficaz e saudável.
“Nós temos aqui uma residência de formação de plantadores. Porque a gente crê que se você trabalha a formação do plantador, tudo é mais simples, porque o plantador vai desenvolver um grupo-base com o mesmo DNA pela qual ele foi formado”, enfatiza Alex.
Treinamento, palavra-chave
Um dos participantes desta temporada é o pastor Denny Martins, que passou pelo processo da entrevista, e agora está iniciando os módulos junto a outros colegas. Mesmo com a visão alinhada, o líder aproveita para ajustar alguns detalhes no foco da Igreja do Country, e já está no planejamento e execução da plantação de mais uma igreja, desta vez no bairro Canadá. Nesta proposta, o grupo ainda está em fase de pesquisa e descoberta de como será o formato desta nova igreja, de acordo com o que será percebido em contato com a comunidade local.
Para ele, o movimento do PN5 veio em boa hora. “É um projeto que realmente oferece treinamento, não apenas motivação ou promoção. É algo muito bem embasado, que dá segurança para trilhar neste caminho. Não importa o que aconteça em cinco ou dez anos, porque os princípios que estamos aprendendo aqui, a gente vai poder usar para sempre, que trabalha na raiz e na essência de quem somos como cristãos. Acredito que é uma das coisas mais relevantes na igreja nos últimos tempos”, parabeniza Martins.
A turma de 2017 no polo do Paraná teve o primeiro módulo do curso na última semana, entre os dias 10 a 12 de maio, na sede da Igreja Adventista no Sul do Brasil, localizada em Curitiba. Dentre as dinâmicas e métodos diferenciados trabalhados com os plantadores, eles também tiveram orientações do pastor Gerson Santos, que atua como secretário associado da Igreja Adventista do Sétimo Dia a nível mundial, com sede em Silver Spring (EUA). Por ter trabalhado por muitos anos com Missão Urbana, o contexto foi propício para suas considerações, a fim de ajudar os plantadores.
Na ocasião, Santos esclareceu que o objetivo do programa não é desenvolver um modelo diferente de igreja existente hoje, e sim redescobrir o que é igreja no sentido bíblico abordado no Novo Testamento. “Será que podemos ajustar alguma coisa ou afinar os instrumentos para que a nossa igreja seja mais parecida com o modelo bíblico?? Menos igreja e mais comunidade de fiéis; menos preocupada com religiosidade e mais preocupada com espiritualidade? Ao invés de tentar desenvolver metodologias para levar pessoas para igreja, será que não é mais importante descobrirmos quais são os métodos de Cristo para levar pessoas para Ele? Todos nós queremos ver a igreja de Deus crescendo e Jesus voltando logo, mas para que isso aconteça, precisamos nadar contra a maré, que hoje no mundo inteiro é desfavorável ao cristianismo”, questiona Santos. [Equipe ASN, Jéssica Guidolin]