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Siga o fluxo: estudantes distribuem kits de higiene em projeto contra pobreza menstrual

Promovido pela Escola Adventista de Porto Franco, o projeto apresentou aos alunos do 7º ao 9º ano a dificuldade de acesso de meninas a itens básicos de higiene no período menstrual.


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Junto com a professora Rafaela, Evelyn participou da entrega dos kits. (Foto: Divulgação)

Pobreza menstrual. Nos últimos meses, essa expressão ganhou destaque na mídia brasileira. Ela caracteriza-se pela falta de acesso a produtos que mantenham boa higiene durante o período menstrual. Embora para parte da população feminina, comprar absorventes higiênicos não seja algo difícil, para outras meninas e mulheres a realidade é diferente. O termo inclui também a dificuldade de acesso à água e banheiros.

Dados da ONU indicam que, no Brasil, 4 milhões de meninas não têm acesso a absorventes ou instalações sanitárias nas escolas. Portanto, a situação afeta também a frequência e o desempenho escolar. Ter acesso a essas informações foi o que motivou a professora Rafaela Oliveira, da Escola Adventista de Porto Franco (EAPF), a levar esse assunto para suas aulas. "Eu vi uma reportagem em que uma diretora escolar percebeu que as meninas faltavam às aulas justamente na contagem do ciclo menstrual. E isso me chamou à atenção. Se contarmos os dias do ciclo menstrual durante o ano, uma menina falta cerca de 1 mês de aulas. Então, como essa menina vai ter um bom desempenho escolar e seguir o ritmo da turma?", explica Rafaela.

Conhecendo outra realidade

Como é professora de Geografia, Rafaela conta que os alunos questionaram por que esse tema seria tratado em suas aulas e não nas de Ciências, por exemplo. A justificativa da professora foi que ausência ou o mau desempenho escolar impactam diretamente a sociedade. Segundo ela, "hoje as mulheres conquistaram espaços que antes não lhe pertenciam, tendo cada vez mais cargos mais importantes e maior nível de escolaridade. Se uma menina precisa faltar às aulas, como resultado ela vai ter mais dificuldade de alcançar seus objetivos relacionados à educação."

Para que eles entendessem melhor a situação, a professora propôs alunos dos 7º ao 9º ano que fizessem uma pesquisa sobre a relação entre a pobreza menstrual e a evasão escolar. Esse foi o ponto inicial do projeto denominado Siga o Fluxo. Rafaela conta que em suas pesquisas os alunos conheceram a realidade de meninas que usavam folhas, panos e ou mesmo não usavam nada no lugar de absorventes higiênicos e não tinham acesso à água ou banheiros. "Isso despertou neles o interesse de colaborar com a etapa seguinte do projeto, que foi a arrecadação de fundos para a compra de kits de higiene básica", relata a professora.

Mãos à obra

Alunos e familiares de todas as turmas da escola foram convidados a colaborar com doações. E a adesão da comunidade escolar à campanha foi muito positiva. Evelyn Gabriely e outros colegas do 8º ano aproveitaram uma atividade da disciplina de Ensino Religioso para ajudar. Na atividade, eles tinham que fazer receitas típicas israelenses. Eles então, organizaram a venda dos alimentos que prepararam na hora do recreio, para os outros alunos. E destinaram o valor arrecadado com a venda dos lanches para a compra dos kits. A garota de 14 anos conta que, apesar de simples, os kits poderiam ajudar muitas meninas e que gostou de participar do projeto. "Eu me sinto feliz, é bom ajudar as pessoas sempre que possível", diz Evelyn.

Com as doações, eles montaram 57 kits ,que continham absorventes, creme dental e sabonete. Para encerrar o projeto, uma equipe da Escola Adventista realizou um pequeno programa na escola municipal Arthur Milhomem. Essa unidade escolar foi escolhida por ter grande quantidade de alunos em situação de vulnerabilidade social, conforme explica Sônia Arruda, diretora da EAPF. "Essa é uma escola localizada numa comunidade muito carente, num bairro que precisa de muita atenção à questão social. Há, por exemplo, muitas muitas adolescentes que já são mães. Eles precisam de muita atenção, por isso nossa escolha", justifica Sônia.

Tratar o assunto menstruação com naturalidade também contribui com o combate à pobreza menstrual. (Foto: Divulgação)

Sem tabus

Durante o encontro com as alunas, a equipe falou sobre menstruação de uma forma natural, sem tabus, e fez a entrega dos produtos de higiene. Além disso, foram distribuídas também 45 cestas básicas doadas pelos alunos da Escola Adventista para as famílias da escola municipal.

Para Rosileide Lopes, diretora da escola Arthur Milhomem, o projeto Siga o Fluxo foi importante para suas alunas. "As meninas têm muita necessidade, carência e até vergonha de falar sobre esse assunto. Muitas delas nem usam absorventes, pois não tem como comprar. Elas ficaram meio tímidas para receber os kits, mas com certeza precisam. Então, foi muito bem-vindo!", avalia Rosileide.