Revista infantil ajuda crianças a lidar com seus sentimentos
Ao longo de sua história, Nosso Amiguinho tem auxiliado leitores em seu desenvolvimento intelectual, físico e socioemocional
Em geral, datas destacadas no calendário são usadas para a celebração. No entanto, hoje, 21 de março, Dia Mundial da Infância, o destaque fica por conta da reflexão. Não há propagandas nem apelos comerciais incitando os pais a comprar presentes para seus filhos. Não há programações especiais anunciadas em escolas nem passeios em família para comemorar o dia.
Essa é uma data criada pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) para levar adultos a pensar na situação atual da criança e sua relação com o futuro da sociedade.
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Desde julho de 1953, quando a revista Nosso Amiguinho foi lançada, sempre houve em sua filosofia editorial uma clara preocupação em apresentar assuntos pertinentes ao desenvolvimento intelectual, físico e socioemocional dos leitores.
Nos últimos anos, com a pandemia, a necessidade de abordar esses temas com as crianças se intensificou, especialmente em função do aumento da depressão e da ansiedade entre crianças, pré-adolescentes e adolescentes. Para fazer frente a isso, a revista tem contado com a contribuição da psicóloga clínica Thais Souza.
Todos os meses, desde janeiro deste ano, tem publicado uma série sobre dificuldades emocionais, apresentando uma situação do cotidiano, dicas da doutora Thais e comentários da Turma do Nosso Amiguinho. É extremamente importante ensinar as crianças a lidar com seus sentimentos, especialmente em situações tão complexas e que desafiam seu equilíbrio emocional e psicológico.
“É bom ver que as crianças estão voltando para as aulas presenciais, para o convívio com os amigos, com os familiares de quem estavam distantes!”, diz a doutora Thais. “Mas a gente também vê que a maioria delas está tendo que lidar com situações que foram decorrentes desse período em que estivemos no auge da pandemia.
Atenção à saúde emocional das crianças
Várias crianças tiveram perdas importantes, e isso tem sido muito difícil para elas. Durante a pandemia, as crianças ouviram muitas incertezas. ‘Será que a gente será infectada? Será que a gente vai morrer? Será que a gente vai perder o vovô ou a vovó? Quando será que isso vai acabar? Eu nunca mais vou voltar para a escola?’” Segundo a psicóloga, toda essa incerteza a que as crianças foram expostas nos últimos dois anos aumentaram os sentimentos de preocupação, medo e ansiedade.
Ao longo da vida, em nossos altos e baixos, vamos aprendendo a lidar com as emoções, mas mesmo adultos podem ter dificuldades com uma ou outra situação e precisar de ajuda para superar momentos mais complicados. E o que dizer da criança, que ainda está no início da compreensão das próprias emoções?
Neste momento pós-pandêmico, é possível observar também um número maior de crianças com um comportamento mais agressivo, o que deixa muitos pais apreensivos, perguntando-se por que seus filhos tão amados e bem cuidados agem dessa maneira.
A doutora Thais esclarece que é muito importante, em vez de rotular uma criança como agressiva, desobediente ou rebelde, prestar atenção se essa não é sua forma de expressar uma angústia. “Talvez ela não consiga simplesmente fazer como o adulto e falar: ‘Pessoal, não estou legal hoje!’ Então ela transborda essa emoção.”
Uma revista que vai além da diversão
Por fim, uma outra preocupação é o expressivo número de crianças apresentando um quadro depressivo, e, segundo a psicóloga, podemos facilmente fazer uma relação disso com o isolamento social. “A infância é uma época tão importante para a pessoa ter amigos, se desenvolver socialmente, e a criança de hoje teve um claro prejuízo nesse aspecto”, afirma ela.
No início do capítulo 36 do livro Orientação da Criança, Ellen White escreveu que as lições aprendidas nos primeiros sete anos de vida são os mais importantes para a formação do caráter. Se considerarmos dois anos de pandemia, uma criança com essa idade passou mais de 25% de sua vida sendo privada de se relacionar adequadamente para aprender a viver em sociedade.
É para ajudar essa e outras crianças que a revista Nosso Amiguinho tem buscado, por meio da série “Um minuto de conversa”, dentro da seção “Se Fosse Você”, nomear emoções e indicar propostas para lidar com dificuldades emocionais que possam ser identificadas em quem esteja passando pela infância hoje.
Sueli Ferreira de Oliveira é editora da revista Nosso Amiguinho