Enquanto a maioria das igrejas se reúne em retiros espirituais, líderes do Departamento de Desbravadores e Aventureiros (DBV), Ministério Jovem, Ministério dos Adolescentes e Anciãos da Associação Rio Sul (ARS) reuniram-se para um treinamento estratégico. O evento, chamado Ctrl Z – um novo começo, buscou desenvolver um plano de ação para reintegrar e engajar crianças, adolescentes e jovens na vivência cristã e na missão adventista.

Acsa Botelho é líder em diversos ministérios na igreja adventista de Anchieta e fala com convicção quanto à necessidade de envolver os mais jovens nas atividades que a igreja propõe. “Primeiro precisamos ter relacionamento íntimo com Deus. Precisamos abrir a mente para entendermos que temos que envolver as novas gerações nas atividades da igreja. Potencializar, desafiar, capacitar nossa juventude para a missão. A casa de Deus precisa ser um lar para as novas gerações”, declarou.

Um treinamento para a ação

Pesquisas mostram que muitos jovens deixam a igreja por não se sentirem engajados ou conectados com a comunidade religiosa. Um relatório da Divisão Sul-Americana (DSA) da Igreja Adventista do Sétimo Dia (IASD) revelou um cenário preocupante sobre a perda de membros jovens ao longo de uma década, apresentando números expressivos e tendências alarmantes.

Atenta a essa realidade, a IASD no Sul do Rio de Janeiro (ARS) aprofundou uma análise, examinando o fluxo de jovens de 16 a 30 anos entre 2018 e 2024. O levantamento avaliou as taxas de entrada e saída desse público na igreja, oferecendo percepções valiosas sobre os desafios enfrentados e as oportunidades para fortalecer a permanência dos jovens na fé.

"Ao analisar a pesquisa da Divisão Sul-Americana sobre os jovens, ficamos preocupados. Fiz um levantamento em nosso campo e percebi que mais jovens saíram do que entraram. Diante disso, junto com a equipe do Ministério Jovem, da Criança e Adolescente, Desbravadores e Aventureiros, nos desafiamos a mudar essa realidade. Hoje, estamos aqui com quase 200 líderes para uma imersão em novas gerações. Vamos elaborar um documento estratégico para mostrar aos jovens que eles são essenciais para nós, colocando-os no centro de nossa atenção", revelou o pastor Geovane de Souza, pastor geral dos adventistas no sul do Rio de Janeiro.

Estratégias para fortalecer as novas gerações

Os participantes discutiram desafios atuais e a importância de unir esforços no discipulado da juventude. "Nossa juventude precisa sentir que pertence à igreja, ser valorizada e incentivada a servir ativamente a Deus", afirmou o pastor Diego Barros, um dos palestrantes do encontro, especialista em novas gerações, e aposta nessa parcela de membros para mobilizar a igreja.

“A geração atual tem buscado mais autenticidade na espiritualidade. Antigamente a religião estava muito associada a forma. Não apenas ao conteúdo, mas a maneira como se expressava era bem formalizada. A religião tinha que caber em um quadrado de normas. Hoje em dia a espiritualidade está mais fluida. O jovem de hoje precisa de uma religião mais autêntica para poder ter credibilidade e confiar mais nos líderes de sua denominação”, explicou.

Barros ainda argumentou que a igreja não precisa sacrificar nenhum princípio fundamental para dialogar com as novas gerações. Ela pode, de fato, adaptar-se a sua linguagem para contemplar as necessidades dos que fazem parte da geração atual. “Não podemos renunciar àquilo que está na Bíblia, naquilo que Deus deixou para a igreja. Mas podemos abrir mão de certos aspectos culturais que influenciam a nossa vida, que nós tratamos como sagrados quando, na verdade, não são. Esses aspectos culturais têm atrapalhado a ligação dos jovens com a igreja, de forma que precisamos fazer uma missão transcultural na nossa própria realidade geográfica”, enfatizou.

O treinamento reforçou a importância de um planejamento estratégico que inclua todas as gerações na missão adventista. "Precisamos conectar gerações e garantir que nossa juventude seja protagonista na obra de Deus", considerou o pastor Filipe Santos, líder de jovens no sul do RJ e organizador do encontro.

“Estamos nesse retiro porque queremos trabalhar ainda mais com as novas gerações. Por isso estamos ouvindo líderes de adolescentes, desbravadores e jovens, ouvindo sugestões para montar um plano de ação especial com as novas gerações”, revelou o líder.

Plano de ação

Durante o treinamento, os líderes traçaram diretrizes para ações práticas, avaliando a aplicação dos projetos já existentes na igreja e inserindo dinâmicas ativas para impulsionar, com qualidade, a vivência cristã do público mais jovem nas congregações. A partir dessa discussão em rodas de conversa e sugestões de quem lida diretamente com esse público, foi redigido um documento, que será discutido por pastores e votado em comissão diretiva, onde as principais iniciativas incluem:

• Integração entre Ministérios: Promover encontros e atividades conjuntas entre DBV, Ministério Jovem e Adolescentes para fortalecer a comunhão.
• Mentoria e Acompanhamento: Criar um programa de discipulado com o apoio de anciãos e líderes experientes para orientar jovens e adolescentes.
• Projetos Comunitários: Implementar ações sociais que envolvam a juventude na prática do evangelho.
• Uso Estratégico da Mídia: Ampliar a presença digital com conteúdos relevantes para adolescentes e jovens.
• Capacitação Contínua: Oferecer treinamentos regulares para líderes e voluntários, assegurando aprendizado constante.

Espiritualidade: O Centro de Tudo

O retiro para líderes não foi apenas um momento de treinamento estratégico, mas também uma imersão espiritual profunda. Todos os dias, os participantes foram incentivados a buscar a presença de Deus, permitindo que Ele guiasse cada decisão e ação.

Uma das experiências mais marcantes foi o MASCC – Momentos A Sós Com Cristo. Esse desafio levou os líderes a uma oração mais profunda, indo além de simples pedidos e agradecimentos. O objetivo era transformar a oração em um diálogo sincero com Deus, fortalecendo a relação com Ele como um verdadeiro amigo.

Para encerrar esse período especial, uma vigília espiritual marcou os últimos momentos do encontro, culminando em uma emocionante cerimônia de Ceia do Senhor. A experiência reforçou o compromisso dos líderes não apenas com a missão, mas com uma caminhada cristã autêntica e transformadora.