Quando o amor machuca: os sinais de um namoro tóxico
Nem todo cuidado é carinho. Quando o afeto se torna controle, é hora de acender o alerta

“De tudo o que se deve guardar, guarde bem o seu coração, porque dele procedem as fontes da vida” (Provérbios 4:23 - NAA).
Durante anos como diretor de uma instituição de ensino, vi de perto a beleza e os conflitos dos jovens enamorados. Convivi com sonhos, lágrimas e expectativas. Aprendi algo valioso: poucas decisões influenciam tanto o futuro quanto o namoro e a escolha de com quem se deseja construir uma vida.
Namorar é, antes de tudo, uma troca — de influências, de emoções, de sonhos e de planos. E toda troca transforma quem a vive. Um namoro saudável é aquele que faz ambos crescerem como pessoas, como estudantes, profissionais, filhos de Deus. É aquele que inspira a caminhada e eleva o coração.
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Mais belo ainda é quando esse amor aproxima os dois de Deus. Nunca será bom se um amadurece na fé enquanto o outro se perde. Um relacionamento saudável é aquele que leva os dois na mesma direção: para o alto e juntos.
E há um detalhe que, para mim, é central: o namoro deve nos aproximar da nossa própria família. Quando um namoro nos afasta da casa, das raízes, da nossa história, ele já sinaliza perigo. O amor que vale a pena nos empurra para perto, nunca nos arranca do lar. Namorar deve ser crescer, caminhar para frente, para cima, e para o céu.
Mas quando esses cuidados são ignorados, corre-se o risco de entrar num relacionamento tóxico. Já vi histórias que começaram com encanto e terminaram em dor. Relações que, de silenciosas, tornaram-se prisões.
Cuidado disfarçado
O relacionamento tóxico raramente grita no começo. Ele sussurra. Chega disfarçado de zelo, de afeto exagerado. A sedução é usada como ferramenta para romper vínculos: primeiro com a família, depois com os amigos e com a comunidade. Esse isolamento não é acidente, é tática. Longe de quem o conhece bem, o outro se torna presa fácil da manipulação.
Aos poucos, a identidade vai sendo minada. Surgem críticas constantes, controle velado, desvalorização que corrói a autoestima. O trabalho, os estudos e os sonhos se tornam ameaças. E quando tudo gira em torno do outro, instala-se a dependência afetiva. Entre humilhações e desprezo, surgem migalhas de carinho suficientes para manter a ilusão de amor.
Mas esse amor não liberta. Alimenta a necessidade, não a dignidade. E a pessoa, já sem força, passa a acreditar que não existe nada fora dali.
Há, sim, caminho de volta. E ele começa com lucidez. Um namoro saudável aproxima, edifica, honra a história e a fé. O que exige que você desapareça nunca foi amor. Se algo machuca, fale. Peça ajuda. O coração precisa de espaço para amar, e o amor precisa de verdade e liberdade para florescer.
Alacy Mendes Barbosa é pastor e educador. Dirige o Ministério da Família e o Ministério Adventista das Possibilidades (MAP) da Igreja Adventista do Sétimo Dia para oito países da América do Sul.