Publicadoras adventistas investem no gênero dos quadrinhos para alcançar novas gerações
A ideia é aproveitar a popularidade da ferramenta para abordar assuntos de cunho espiritual e social.
Brasília, DF... [ASN] A Igreja Adventista tem atentado à necessidade de aderir a novas ferramentas para alcançar determinados públicos. É o caso das HQ’s, ou histórias em quadrinhos, muito populares no meio infanto-juvenil.
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Ícones da cultura pop, os quadrinhos têm sua origem por volta do ano 1800, no contexto da cultura de massa norte-americana, intensificada após a Revolução Industrial. Naquele período, os comics apareciam, principalmente, em publicações em jornais e revistas, muito relacionados à sátira política e à crítica social. Tinham, portanto, como público-alvo os adultos.
Nas décadas seguintes, a indústria mostrou grande interesse no gênero voltado ao público infanto-juvenil. Via-se uma intensa produção de material com temas que variavam entre aventuras, super-heróis, detetives e personagens com características marcantes. Mas não limitada a isso, a produção de quadrinhos também continuava atendendo aos adultos, através das tirinhas, charges e dos comic books e graphic novels, que são narrativas mais longas e sequenciais, geralmente estendidas a mais de um volume.
Este foi um período de turbulência nas opiniões a respeito das HQ’s. Apesar da popularidade entre o público, o gênero era altamente criticado em artigos e citações, sob o argumento de incitar, entre outras coisas, a violência, a banalização da sexualidade e promover preguiça mental. Por outro lado, muitos grupos e organizações viam nos quadrinhos uma importante ferramenta, que prendia a atenção do leitor e, portanto, tinha grande potencial informativo e de propagação de ideias. Assim, passaram a ser muito usados em panfletos, manuais de conscientização e, inclusive, em publicações de organizações religiosas.
Mas, e no contexto adventista?
Para Allan Novaes, doutor em Ciência da Religião e professor universitário, os quadrinhos são, hoje, uma ferramenta muito eficaz de comunicação. “Para o uso da educação, as possibilidades que a linguagem de arte sequencial gera são quase incontáveis”, afirma Novaes. “Ao unir as duas linguagens - imagem e texto - as possibilidades de narrativa, de explorar um conceito abstrato e transformá-lo em algo concreto, de facilitar a assimilação de um conteúdo e a transmissão de uma informação, são muito vantajosas em relação a outros meios mais tradicionais, principalmente quando se está trabalhando com o público infanto-juvenil”, ressalta.
Novaes lidera o grupo de pesquisa Excelsior, vinculado ao Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp). O grupo tem sido pioneiro no meio adventista no Brasil em estudos sobre a cultura pop em geral. Entre as suas frentes de trabalho está a análise da relação do adventismo com as histórias em quadrinhos e a relação da mídia com as questões de gêneros narrativos, games, ficção televisiva e assim por diante.
Considerando todo o potencial dos quadrinhos, a Igreja Adventista tem se utilizado desta plataforma em algumas produções. A Casa Publicadora Brasileira (CPB), por exemplo, produz a revista Nosso Amiguinho, voltada ao público infantil, que traz uma seção de quadrinhos bíblicos todos os meses. Há também outros materiais, como A História de Moisés em HQ. Segundo Novaes, “para a Igreja Adventista, ao se direcionar para as novas gerações, é imprescindível que se valha das linguagens mais comuns a essas gerações. E arte sequencial é uma delas, muito consumida e apreciada por adolescentes e jovens da geração Y e Z, que estão acostumados com a cultura imagética. Então, trabalhar com quadrinhos é atrair esses grupos para assuntos que, para nós [adventistas], são importantes”.
Nesse mesmo contexto, o grupo Excelsior, através da editora Unaspress, está trabalhando na criação de um selo editorial voltado especificamente à produção de materiais para as próximas gerações. “Vamos trabalhar com jogos de tabuleiro, revistas em quadrinhos, graphic novels e uma série de outros materiais que ainda não são trabalhados pela Unaspress nem pela CPB”, explica Novaes. Uma das produções iniciais do selo foi uma narrativa em quadrinhos sobre o soldado americano Desmond Doss. Mais de 1.000 exemplares do material foram impressos e distribuídos nas portas de cinemas a pessoas que haviam acabado de assistir ao filme sobre o personagem.
O lançamento do selo editorial do grupo Excelsior está previsto para maio deste ano, juntamente com as suas primeiras publicações. [Equipe ASN, Vanessa Arba]