Pare para viver: como o descanso transforma corpo e mente
Uma rotina sem intervalos pode estar trazendo prejuízos que você só vai ver quando for tarde demais

No ritmo acelerado da vida moderna, o conceito de equilíbrio e descanso emergiu como essencial para manter a saúde e o bem-estar. Em um mundo em que produtividade é altamente valorizada, a falta de pausas adequadas afeta não só o corpo, mas também a mente. O descanso vai além do sono regular: ele envolve práticas que sustentam a saúde física e mental, e promovem uma vida mais produtiva e satisfatória.
O sono é vital para a saúde, funcionando como um estado restaurador que atua sobre tecidos e sistemas essenciais, como o sistema cardiovascular e o imunológico. Durante o sono, o corpo processa eventos e informações do dia, regulando desde funções cognitivas até emocionais. A privação de sono, por exemplo, pode prejudicar a atenção, o tempo de reação e a resolução de problemas, comparável aos efeitos de consumo de álcool¹. Além disso, a falta de sono impacta o sistema endócrino, elevando o cortisol, hormônio do estresse, o que pode desencadear um ciclo de insônia e estresse crônico².
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A saúde física também sofre com a privação de sono. Estudos associam a falta de descanso a doenças como diabetes, obesidade e hipertensão, além de prejudicar a imunidade³. Ademais, há um impacto direto no metabolismo, promovendo alterações hormonais que aumentam o apetite, levando ao ganho de peso⁴.
Impacto das telas no descanso
O uso de dispositivos digitais, especialmente à noite, interfere no sono devido à luz azul, que afeta o ritmo circadiano e reduz a produção de melatonina, essencial para o descanso. Além disso, a presença constante de redes sociais gera ansiedade e sensação de prontidão que mantém o cérebro alerta, prejudicando o relaxamento. Esse cenário de constante estimulação é comparável a uma "cafeína virtual" que afeta a qualidade do descanso e aumenta o estresse.5
Equilíbrio trabalho-vida
Manter um equilíbrio entre trabalho e vida pessoal é mais importante do que nunca. Estudos mostram que o desequilíbrio entre trabalho e vida pessoal aumenta o estresse crônico, afetando negativamente a saúde mental e física⁵. Além disso, reservar um dia semanal de descanso é fundamental para reduzir o estresse e permitir a recuperação mental e física. Pausas frequentes são cruciais para o bem-estar emocional e a redução da fadiga.
Exercício físico e qualidade do sono
A prática regular de exercícios é benéfica tanto para a saúde física quanto para o sono. Estudos sugerem que o exercício pode melhorar a qualidade do sono, sendo comparável, em alguns casos, a medicamentos para insônia, mas sem os efeitos adversos6. Ao promover uma melhor qualidade do sono, o exercício ajuda a equilibrar o organismo, contribuindo para uma recuperação mais efetiva do corpo e da mente.
Estratégias para o equilíbrio e descanso
Para promover o descanso e equilíbrio, algumas estratégias práticas incluem estabelecer rotinas de sono, limitar o uso de dispositivos eletrônicos antes de dormir e reservar um ambiente propício ao descanso. A adoção de técnicas de relaxamento, como alongamentos e momentos de oração e leitura, também pode ajudar a combater o estresse e melhorar o bem-estar. A orientação bíblica para a guarda do sábado reforça a importância de um descanso regular.
Priorizar o equilíbrio entre atividades e descanso é essencial para uma saúde plena. A combinação das práticas regulares de descanso, o exercício físico e o relaxamento, têm impacto positivo na produtividade e qualidade de vida. Integrar esses hábitos à rotina pode ajudar a atingir um estado mais pleno de saúde mental e física.
Everton Padilha Gomes é médico cardiologista, doutor em ciências médicas pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e coordenador do curso de Medicina do Centro Universitário Adventista de São Paulo (UNASP).
Referências:
1. Walker, M. P. (2017). *Why We Sleep: Unlocking the Power of Sleep and Dreams*. Scribner.
2. Sapolsky, R. M. (2004). *Why Zebras Don't Get Ulcers*. Henry Holt and Co.
3. Spiegel, K., Leproult, R., & Van Cauter, E. (2004). Impact of sleep debt on metabolic and endocrine function. *The Lancet, 354*(9188), 1435-1439.
4. Taheri, S., Lin, L., Austin, D., Young, T., & Mignot, E. (2004). Short Sleep Duration Is Associated with Reduced Leptin, Elevated Ghrelin, and Increased Body Mass Index. *PLoS Medicine, 1*(3), e62.
5. Kossek, E. E., & Ozeki, C. (1998). Work-family conflict, policies, and the job-life satisfaction relationship: A review and directions for organizational behavior-human resources research. *Journal of Applied Psychology, 83*(2), 139.
6. Kelley, G. A., & Kelley, K. S. (2017). Exercise and sleep: a systematic review of previous meta-analyses. Journal of Evidence-Based Medicine, 10(1), 26-36.