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Os desafios e oportunidades para a Igreja Adventista no Metaverso

O Metaverso e suas características têm sido explorados comercialmente, mas há igrejas que estudam como evangelizar nesse ambiente.


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Ambiente desenvolvido pela equipe da Associação Paulista Central sob coordenação técnica de Felipe dos Santos Stevanatto. (Foto: Reprodução do Metaverso)

Imagine o cenário. Vários quadros dispostos estrategicamente em uma grande sala. Trata-se de imagens típicas extraídas de trechos alusivos às profecias bíblicas. Há os monstros bizarros mencionados no livro do Apocalipse; está ali, também, estátua vista em sonho pelo rei Nabucodonosor na história de Daniel. Sem falar no santuário apresentado em livros como Êxodo e Levítico, com uma riqueza de detalhes para compreensão sobre os elementos relacionados ao sistema de sacrifícios. É possível olhar mais perto para os quadros. Ver detalhes e ler acerca de outras informações.

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E tem mais. Nesse ambiente, é possível caminhar sem se cansar, e por quanto tempo desejar. No futuro, a ideia é que o espaço ofereça cursos totalmente imersivos para quem quiser se aprofundar no texto bíblico. Se você pensou em um local fisicamente localizável, está muito enganado.

Essa é uma descrição da galeria profética criada recentemente no ambiente 3D do Metaverso pela sede sul-americana da Igreja Adventista do Sétimo Dia. O lugar está sendo ainda plenamente “construído”, mas já chama a atenção. “Nesse primeiro momento, trabalhamos em conteúdos como cenários virtuais para ajudar aos membros, pais e professores a ensinarem sobre o ritual do santuário e outras partes da Bíblia. Porém, no próximo ano daremos um passo maior e realizaremos eventos e cultos ao vivo no Metaverso”, explica Carlos Magalhães, gerentes de Estratégias Digitais da sede sul-americana adventista.

Imagens do ambiente chamado Galeria Profética, idealizado pela equipe de web da sede sul-americana adventista. (Foto: Reprodução do Metaverso)

Cenário de oportunidades

O Metaverso é um grande ambiente que mescla realidade aumentada e realidade virtual. Permite que pessoas comprem, comam, vistam-se, assistam a programas e até cultos por meio de seus avatares. Com uso preferencialmente de óculos especiais, ou futuros equipamentos ainda a ser inventados, o Metaverso possibilita uma experiência imersiva inigualável. O usuário está “dentro” de um local, embora não fisicamente, mas literalmente.

O pastor Jorge Rampogna, diretor de Comunicação da Igreja Adventista do Sétimo Dia na América do Sul, compreende que estar nesse ambiente é importante porque vai ao encontro da proposta bíblica de evangelismo. “A igreja precisa aproveitar todas as oportunidades para fazer evangelismo onde as pessoas estão. As pessoas, hoje, estão submergindo na internet por meio de possibilidade de novos mundos virtuais. É um grande desafio estar aí, mas Jesus disse que nosso processo evangelizador deve ser feito a toda nação, tribo e língua”, afirma.

E as estatísticas indicam uma tendência de crescimento da conexão entre tecnologia digital e o mundo religioso. No estudo chamado State of Church Technology, feito em setembro e outubro de 2021, nos Estados Unidos, algumas respostas apontam para a realidade de igrejas digitais ou virtuais.

Nas verificações realizadas com cerca de dois mil líderes de igrejas nos EUA, foi percebido que 93% das igrejas acreditam que a tecnologia desempenha um papel importante em cumprir com a missão dessas organizações religiosas.[1] E, de acordo com essa pesquisa, apenas 6% das congregações contactadas disseram ser resistentes à adoção de alguma tecnologia.

Adoração na realidade virtual

Em reportagem veiculada pelo site Fortune,[2] o pastor de igreja virtual chamada VR Chuch, D.J. Soto comenta sobre as oportunidades para levar o evangelho a diferentes públicos. São pessoas que, por diferentes razões, não costumam ir a um templo físico. A congregação virtual já tem 200 pessoas e começou atendendo a pessoas ateias e agnósticas. Soto já realizou até alguns batismos de forma remota.

O religioso e autor do livro VR & The Metaverse Church, Jeff Reed ressalta na obra que “a igreja tem a oportunidade de explorar novos mundos estranhos, de buscar nova vida e novas civilizações, para ir aonde nenhum homem foi antes”. No livro, ele apresenta o dado de que igrejas que exploram a realidade virtual relatam envolvimento com 80 a 85% de pessoas classificadas como ateias ou agnósticas.[3]

Realidade adventista

As experiências com o Metaverso na realidade adventista brasileira já começaram em congregações locais. É o caso do projeto APACVERSO, uma idealização que nasceu numa parceria dos administradores da Associação Paulista Central da Igreja Adventista, junto com os departamentos de Ministério Jovem e Comunicação. Segundo o pastor Gabriel Guimarães Manuel, que lidera a área de Ministério Jovem nessa região, a ideia é criar uma igreja virtual no ambiente do Metaverso na plataforma Spatial.

O coordenador afirma que “para interação mais ampla, usamos a rede social Discord, onde pessoas mais habituadas a esse tipo de ambiente podem ser melhor acolhidas. Nosso projeto tem por objetivo alcançar os jovens e adolescentes que frequentam este universo”. A ideia é, em 2023, ter esse espaço em funcionamento completo com programações como cultos, estudos da Escola Sabatina e encontros de Pequenos Grupos.

Imersão para aprendizagem

O gerente de Estratégias Digitais, Carlos Magalhães, pontua que o Metaverso oferece um ambiente mais imersivo para o estudo da Bíblia. “Se hoje podemos abrir nossa Bíblia, a ideia é que, num futuro muito próximo, possamos entrar nela. No Metaverso, o conteúdo pode ser mais rico e didático”, assegura.

É o caso, por exemplo, de alguns temas dos evangelhos. A imaginação, estimulada nesse ambiente, pode oferecer ao estudante a oportunidade de visitar o templo e caminhar pela cidade de Jerusalém como ela era nos tempos de Jesus.

Riscos calculados

O pastor Rampogna pontua que, como qualquer tecnologia, o Metaverso oferece alguns riscos. E um dos perigos é o da desumanização. “Precisamos tomar cuidado para que essas tecnologias não nos deixem mais distantes e, sim, nos aproximem mais uns dos outros”, ressalta.  

Na avaliação do líder, é verdade que muitos usuários dessas tecnologias podem preferir mais os relacionamentos virtuais ao invés dos físicos. “É importante, no entanto, ter equilíbrio para usar nosso telefone, TVs, e mesmo estar dentro dessa cultura digital imersiva”, comenta.


Referências:

[1]  State of chuch technology report - https://churchexecutive.com/archives/state-of-church-technology-report

[2]    Religious people are increasingly attending worship services in the metaverse. https://fortune.com/2022/01/31/virtual-worshipping-services-religion-metaverse/

[3] Reed, Jeff. VR & The Metaverse Church – How God is moving in this virtual, yet quite real, reality. Disponível em https://multiplication.org/product/vr-and-the-metaverse-church/