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O evangelho avança no sudeste asiático

Missionário brasileiro compartilha experiência em países com cerca de 700 milhões de habitantes onde o evangelho tem avançado por meio de diferentes projetos


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Oliveira junto a estudantes e professores do pequeno colégio interno de Toraja View Academy, sul de Sulawesi, Indonésia (Foto: Arquivo pessoal)

Nos meios religiosos, sobretudo do cristianismo, é comum se ouvir o termo Janela 10/40. A expressão passou a ser conhecida desde 1990 e diz respeito às regiões do planeta localizadas entre 10 e 40 graus ao norte da linha do Equador, em uma área considerada de menor acesso à mensagem cristã.

Na prática, a evangelização em localidades assim é um desafio que envolve pequenas ações realizadas constantemente. Nem sempre isso representa um volume gigantesco de dados, mas o trabalho missionário cristão ocorre permanentemente em regiões como o sudeste asiático.

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A Agência Adventista Sul-Americana de Notícias (ASN) conversou com um missionário que já atua nessa área do mundo. Trata-se do pastor Joni Roger de Oliveira, que serve há 1 ano e 4 meses como secretário associado e diretor da Adventist Mission, Serviço Voluntário Adventista (SVA) e área de Obreiros Internacionais do escritório administrativo da Igreja Adventista conhecido como Divisão do Sudeste Asiático (Southern Asia-Pacific Division ou SSD). Ele reside com a família em Silang, a 45 quilômetros de Manila, capital das Filipinas.

Fale um pouco do desafio missionário adventista na região em que você atua e fale qual é sua região de atuação atualmente.

A região em que atuo é a Divisão do Sudeste Asiático. O território compreende 11 países, sendo eles: Filipinas, onde está localizada a sede da Divisão; Indonésia, Malásia, Tailândia, Vietnã, Laos, Cambodja, Singapura, Myanmar, Timor Leste e Brunei.

São quase 700 milhões de habitantes para 1 milhão e 700 mil adventistas. As grandes religiões do mundo estão bem representadas no território. Há países predominantemente muçulmanos, como é o caso da Indonésia, Malásia e Brunei. Outros predominantemente budistas, como Tailândia, Myanmar, Laos e Cambodja. Por outro lado, há países e regiões mais católicas e que são muito fervorosos, como Timor Leste e alguns lugares nas Filipinas; e existem, ainda, alguns redutos de hinduísmo, como Bali, uma ilha na Indonésia com cerca de 7 milhões de praticantes dessa religião.

A diversidade de idiomas também é outro grande desafio. Países como Filipinas e Indonésia, compostos por milhares de ilhas, chegam a ter centenas de línguas e dialetos. Se quisermos preparar algum material que alcance não a todos, mas uma grande parte dos membros em nosso território, temos de prepará-lo em uma variedade de cerca de 10 línguas diferentes.

Clique aqui e veja a primeira vez em que o povo Wakidan, da Indonésia, lê a Bíblia em seu idioma local.

Temos países com liberdade religiosa e outros em que a lei está intimamente relacionada com a religião do estado. Há países em que se pode pregar livremente e outros em que é expressamente proibido a conversão de não cristãos e a livre prática da pregação do evangelho ou distribuição de materiais cristãos.

Outro constante desafio são as catástrofes naturais em lugares como as Filipinas, que regularmente sofre com tufões, furacões, tsunamis e inundações, bem como ondas de calor.

Todos esses são desafios que brindam a Igreja com oportunidades no compartilhamento da esperança que encontramos em Jesus.

De que maneira os adventistas têm pregado o evangelho em uma região na qual o cristianismo é minoria? Quais são os principais projetos?

As abordagens na pregação do evangelho são diversas. Há locais em que o evangelismo público tem sido a estratégia mais utilizada. Outros em que os novos conversos são preparados nos Pequenos Grupos, chamados de Care Groups (grupos de cuidado/apoio). Há, também, centros de influência oferecendo apoio à comunidade com aulas de inglês, restaurantes vegetarianos, lanchonetes, academias de ginástica, aulas de música, ensino de atividades profissionais, orfanatos e escolas desde o maternal até cursos superiores.

O evangelismo por meio da literatura continua sendo uma ferramenta poderosa em nosso território. Hospitais e clínicas médicas e odontológicas também têm servido como um braço forte para a disseminação da fé adventista.

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Evangelismo público no sul de Sulawesi, Indonésia. Oliveira (ao centro) com líderes da Igreja na região (Foto: Arquivo pessoal)

Outro ministério que tem alcançado povos distantes e até então inalcançados é o de aviação. O Adventist Aviation International e o Philippines Adventist Medical Aviation Services (PAMAS) possuem uma atuação em locais como Papua Indonésia e Filipinas.

Descubra aqui como o Ministério de Aviação Adventista tem ajudado a alcançar pessoas em áreas remotas.

Todas são estratégias utilizadas pela Igreja Adventista no sudeste asiático. Porém, o método que temos tentado seguir tem sido sempre o método de Cristo: misturar-se, demonstrar simpatia, ministrar às necessidades das pessoas, ganhar a confiança delas e, finalmente, convidar para que sigam a Jesus.   

Você pode compartilhar alguma história emblemática que chegou a seu conhecimento ou presenciou sobre como o evangelho alcança culturas tão diferentes?

Temos várias. A primeira delas foi contada por um missionário. Só não podemos mencionar o nome do país. Os nomes já foram trocados por questões de segurança. A família Cahuan estava feliz por servir em um país na Janela 10/40. Foi um desafio incrível para ela, que estava disposta a enfrentá-lo.

Embora tudo estivesse indo bem, o governo daquele país lhes negou um visto de trabalho. Essa situação levou a família a pensar sobre sua situação. Deveriam voltar para seu país de origem, as Filipinas? Afinal, seu filho mais velho já estava estudando lá. Ou deveriam continuar servindo ao Senhor onde quer que a Igreja precisasse deles? A família escolheu a última opção.

Em janeiro de 2023, J. Cahuan e sua família foram enviados para trabalhar em outro país onde a maioria da população não era cristã. Depois de algum tempo em sua nova casa e na nova escola, o líder religioso de uma grande comunidade próxima os convidou para uma reunião. J. e sua esposa não sabiam o que pensar. Eles haviam feito algo errado? Estavam sendo desrespeitosos? Eles oraram e decidiram ir à reunião.

O líder Gunduzhd ficou surpreso ao descobrir que os serviços na escola eram todos em inglês. E, como o mundo estava se globalizando, decidiu pedir que os missionários ensinassem canções e histórias em inglês para as crianças de sua comunidade.

J. e sua família ficaram tão surpresos com esse convite que imediatamente disseram a Gunduzhd que poderiam fazer isso. Mas havia dois obstáculos: eles só conheciam canções e histórias sobre Jesus, que pareciam inadequadas para ensinar em sua comunidade.

O líder religioso disse-lhes que ele sabia que os adventistas eram pessoas de paz e amor, e embora o nome de Deus fosse diferente, todos acreditavam na bondade da humanidade. Imediatamente, o casal missionário começou a se preparar para a reunião. Mas aqui estava um novo fato! A reunião semanal agora seria no sábado, e eles seriam bem-vindos na comunidade.

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Oliveira ao lado da estátua de um guerreiro chinês no norte da Tailândia, enquanto visitava projetos de plantios de igrejas na parte norte do país (Foto: Arquivo pessoal)

No primeiro sábado, eles tinham 50 crianças e suas mães. Todos os sábados eles têm uma Escola Sabatina à tarde, em que ensinam inglês para as crianças por meio de músicas e histórias cristãs. E tudo isso é feito tendo ao fundo uma grande estátua dedicada ao Deus daquela religião. Que privilégio para os nossos missionários!

Que história impressionante! Você também pode compartilha algo do que aconteceu em outra região?

Sim. Essa história foi contada por uma jovem que trabalha na universidade de um país estritamente fechado para a cristianismo. Por motivos de segurança, prefiro não mencionar o local exato. A Janela 10/40 é frequentemente chamada de cinturão de resistência e inclui a maioria dos muçulmanos, hindus e budistas do mundo. É o lar de alguns dos maiores grupos de pessoas não alcançadas do planeta.

Jewel (nome fictício) vive em um país não cristão religiosamente estrito. Ser a única adventista do sétimo dia em seu local de trabalho nem sempre foi fácil. Suas crenças frequentemente entravam em conflito com uma sociedade que não dava muita atenção ao sábado. Enquanto a empresa em que trabalha normalmente opera de segunda a sexta-feira, havia momentos em que organizavam eventos nos fins de semana e esperavam que os funcionários participassem.

No início, ela ocasionalmente participava de eventos aos sábados. Mas, com o tempo, começou a sentir um vazio interior. Durante essa luta de consciência, voltou-se para a oração em busca de orientação e força. A oração a ajudou a ver claramente e lhe deu coragem para escolher o que estava alinhado com sua fé. Ela sabia que precisava honrar o sábado de Deus, dedicando aquele dia à adoração, descanso e renovação.

Com esperança no coração, ela orou para que o chefe do departamento entendesse e lhe concedesse a liberdade de observar o sábado de acordo com suas crenças. Ela estava até mesmo preparada para aceitar quaisquer deduções em seu salário ou bônus devido à sua ausência no trabalho aos sábados.

Deus respondeu à sua oração. Milagrosamente, após uma conversa sincera com ela, o chefe do departamento reconheceu seu compromisso e expressou compreensão genuína. Ele até garantiu que não haveria deduções em seu salário. E até concordou em garantir que sua agenda estaria livre aos sábados para que ela pudesse ir à igreja e manter suas convicções religiosas sem compromissos. Sua decisão de honrar o sábado também irradiou para sua vida diária.

A alegria que agora preenche seu coração se tornou contagiante, espalhando-se para suas interações com colegas, amigos e família. Ela descobriu que reservar um tempo para Deus traz uma transformação interior que naturalmente flui para todos os aspectos da vida, levando a relacionamentos mais fortes, foco melhorado e uma sensação geral de equilíbrio.

Há necessidade de voluntários nesta região? Se sim, com qual perfil?

Sim, sempre há a necessidade de mais trabalhadores na vinha do Senhor. No sudeste asiático, não é diferente. Nós precisamos de pessoas que tenham uma experiência real com Cristo para que sejam Suas testemunhas em nosso território. Precisamos de mais testemunhos vivos!

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Treinamento para líderes da área de Missão Global no sul de Filipinas (Foto: Arquivo pessoal)

Além de um cristianismo real, um coração missionário é fundamental. O domínio do inglês também é fundamental nesse contexto em que a grande maioria das pessoas não se comunica em inglês, e dependemos de tradução.

Necessitamos de gente que venha disposta a se deixe gastar pelo evangelho. Gente que entenda que os desafios são reais, como a solidão, a maneira diferente com que os locais veem o mundo, a alimentação diferente, roupas e costumes “estranhos” à cultura do missionário; e que, ainda assim, decida amar as pessoas e se entregar para servir.

Gente que esteja disposta a se sacrificar por uma causa, que não tenha medo de morrer tanto quanto tenha medo de viver uma vida sem significado. 

Veja mais fotos na galeria abaixo:


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