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O chamado dos anciãos

Um ofício de cuidado e pastoreio na igreja local


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Deus chama os seus pastores para que cuidem de pessoas. (Foto: Shutterstock)

Ao longo da história, muitos líderes da igreja expressaram suas convicções quanto ao chamado para a liderança espiritual. Paulo deixou isso muito claro quando afirmou: “Paulo, servo de Cristo Jesus, chamado para ser apóstolo, separado para o evangelho de Deus” (Rm 1:1). Na verdade, ele também se expressou dessa maneira nas demais epístolas de sua autoria. Paulo foi um líder convicto de seu chamado. E você?

Associação Ministerial em ação

Nossa visão – Como Associação Ministerial da Divisão Sul-Americana, nossa visão para os anciãos é reafirmar seu protagonismo como pastores da igreja local com foco no discipulado. Para entender isso melhor, me permita fazer uma pergunta: Você acredita que foi chamado para ser pastor? A última vez que conversei com um ancião de igreja, fiquei surpreso quando ele me disse: “Pastor Montalván, eu nunca imaginei que ser ancião era ser um pastor na igreja local.” Você consegue imaginar? Será que você pensa assim também? Você imagina como seria seu país se o presidente da República não acreditasse que o povo o escolheu para ser o presidente do país? Como você acha que seria o governo dele? Com certeza, seria incerto, sem visão e sem compromisso com seus liderados.

Convicção do chamado – Você deve ter a certeza de que Deus o chamou para pastorear Sua igreja. Jesus teve essa convicção quando disse: “Eu sou o bom Pastor” (Jo 10:11). Como já foi mencionado, Paulo também teve essa certeza; Pedro também expressou isso (1Pe 5:1). Todos esses e outros líderes acreditaram em seu chamado para pastorear a igreja. O chamado que Deus fez a você é para pastorear a igreja, e esse chamado tem origem divina, como afirma o apóstolo Paulo: “Cuidem de vocês mesmos e de todo o rebanho no qual o Espírito Santo os colocou como bispos, para pastorearem a igreja de Deus […]” (At 20:28). Por que isso é importante? Vamos deixar que o Guia para Anciãos responda a essa pergunta: “A consciência de que o chamado tem origem divina ajuda os anciãos a apreciar melhor a seriedade e a importância de sua tarefa de liderança”. [1] Essa segurança é o que nos compromete com os liderados.

As duas dimensões do chamado – Permita-me explicar melhor as duas dimensões do chamado divino. A primeira é a interna e a segunda é a externa. O chamado interno é a convicção ou a experiência pela qual a pessoa se sente convicta de servir a Deus. Sérgio Fritzler define isso como “vocação”. [2] Primeiro se percebe o interesse inicial da pessoa e seu consequente desenvolvimento até chegar ao desenvolvimento externo. Em outras palavras, é o que leva a pessoa a dizer: “Quero ser ancião, pastor da igreja local”. Paulo disse desta maneira: “Fiel é a palavra: Se alguém deseja o episcopado, excelente obra almeja” (1Tm 3:1). Por outro lado, o chamado externo é confirmado por meio da igreja. É ela que reconhece o chamado divino para o ministério do pastoreio. [3] É a igreja local que reconhece que Deus escolheu a pessoa para pastorear a igreja.

O que é ser pastor? – Vine afirma: “Pastor é aquele que cuida dos rebanhos. […] Os pastores guiam e também alimentam o rebanho. […] Esse era o serviço comissionado aos anciãos”. [4] Ninguém é pastor de coisas, programas, atividades ou projetos. Ser pastor envolve cuidar de pessoas. São as pessoas, as “ovelhas” que devem estar no “centro” de seu ministério. Foi assim que o sábio Salomão entendeu no livro de Provérbios 27:23: “Procure conhecer o estado das suas ovelhas e cuide dos seus rebanhos”. Claro que cuidar das pessoas é um elemento distinto no pastoreio, mas não é o único. Vejamos outras atribuições do ofício pastoral. Sobre o ministério pastoral no Antigo Testamento, o doutor Walter Alaña destacou o seguinte: “As principais funções pastorais incluíam a alimentação e a nutrição, a condução e a proteção do rebanho”. [5] No Novo Testamento não é diferente. Ali, destacamse o cuidado, o pastoreio e o governo. Esses são os significados mais comuns da palavra pastor. [6]

Discipulado no centro do pastoreio – A visão do pastoreio deve estar centrada no discipulado. Cumprimos a missão quando fazemos discípulos. Do contrário, será a maior omissão. Você sabe qual é a crise de nossa igreja hoje? Bill Hull responderia assim: “A crise da igreja hoje é quase uma crise de produção”. [7] Essa crise de produção a que Hull se refere é a de discípulos. Sejamos sinceros: Você, ancião de igreja, está discipulando alguém? Se sua resposta for: “Pastor, sou um ancião ganhador de almas, e nossa igreja está crescendo muito.” Parabéns por ter essa paixão e nunca a perca de vista. Sou grato a Deus pelo crescimento de Sua igreja e por ter anciãos como você. O crescimento numérico é importante, mas precisamos que esse crescimento seja acompanhado de espiritualidade profunda, e assim a igreja continuará crescendo muito mais, principalmente no discipulado de pessoas.

Discipulado em ação

O processo do discipulado implica ajudar os bebês espirituais a alcançar a maturidade em Cristo. Vamos ensinar aos recém-convertidos que o discipulado corresponde a passar pela experiência do batismo, e então continuar crescendo na fé e, nessa caminhada, preparar outros para que se convertam e continuem crescendo na vida espiritual. Se, como anciãos de igreja, estamos preocupados somente com o crescimento numérico da igreja, pense nesta declaração do teólogo John Stott, que, ao citar Chuck Colson, corretamente assinalou: “a igreja tem 3.000 milhas de largura e uma polegada de profundidade. Muitos de seus membros são bebês espirituais”. [8] Você já observou quantos “expectadores” sua igreja tem? Certamente, muitos! Com os membros apenas sentados nos bancos da igreja, nunca transformaremos a sociedade, porque, para transformá-la, Tony Evans diz: “Primeiro devemos ter discípulos no santuário”. [9] Nesse sentido, Micharl W. Campbell, citado por Walter Alaña e Benjamín Rojas, afi rmou que um dos maiores desafi os que o adventismo enfrenta é a necessidade de ministros que consigam o equilíbrio ao se concentrar tanto no bem-estar da igreja quanto no evangelismo, que são as duas tarefas primordiais do ministro adventista. O equilíbrio perfeito: evangelizador/pastor. [10] Esse equilíbrio perfeito seria discipular todos aqueles que levamos ao batismo. Paixão pelo discipulado é ter paixão pela missão. Querido ancião, mantenha viva esta visão da igreja na América do Sul: “Reafirmar seu protagonismo como pastor da igreja local com foco no discipulado.”

Pastoreio e discipulado

Como já vimos, o pastorado é peça chave no processo de discipulado. A seguir veja algumas sugestões práticas para desenvolver seu ministério como pastor discipulador de sua igreja.

1. Pastorear – Discipular

a) Anime: Incentive e apoie os membros para que eles desenvolvam sua comunhão pessoal com Jesus por meio do estudo da Bíblia e da oração.

b) Alimente: Atenda às necessidades dos membros com pregações e ensinos bíblicos cristocêntricos, enfatizando, de maneira especial, nossas crenças e as profecias bíblicas.

c) Cuide: Participe permanentemente na visitação a todos os membros, em especial os recém-batizados e aqueles que não estão frequentando a igreja. Lembre-se de que “o bom pastor conhece suas ovelhas”.

d) Lidere: Guie, acompanhe e aconselhe o trabalho dos diretores dos departamentos para que, na medida do possível, seus planos estejam em harmonia com os da Associação/Missão.

e) Forme: Dedique um tempo especial na formação de novos líderes dentro da visão do CRM (comunhão, relacionamento e missão).

2. Governar – Administrar

a) Coopere: Com o consentimento do pastor, em sua ausência, presida a Comissão da Igreja, as reunião administrativa e as reuniões regulares.

b) Planeje: Sempre coordene e planeje, com o pastor, os diferentes cultos de sua igreja. Considere a adoração uma prioridade.

c) Oficie: Coloque-se à disposição do seu pastor para dirigir os ritos e cerimônias, como a Santa Ceia, a dedicação de crianças e as cerimônias fúnebres. Lembre-se de que em situações excepcionais (ausência de um pastor ordenado) e com a autorização do presidente da Associação, você também poderá oficiar a cerimônia batismal.

d) Administre: É fundamental administrar a igreja usando o Manual da Igreja e o Guia para Anciãos. Leia sempre esses manuais.

3. Evangelizar – Batizar

a) Prepare: Ore e procure pessoas para dar estudos bíblicos com o propósito de prepará-las para o batismo.

b) Organize: Trabalhe para que todos os membros façam parte de um pequeno grupo e/ou unidade de ação da Escola Sabatina.

c) Mobilize: Envolva, capacite e treine, com o apoio dos outros oficiais, todos os membros de sua igreja (especialmente os recém-batizados e as novas gerações) para que conquistem pessoas para Cristo por meio do trabalho pessoal, formação de classes bíblicas e plantio de novas igrejas.

Querido ancião, colocamos à sua disposição o site pastor.adventistas.org, onde, semanalmente, você encontrará diferentes recursos para seu crescimento pessoal e eclesiástico. Que o Senhor o abençoe, a fim de que você faça discípulos no rebanho de Deus como pastor da igreja local.

Daniel Montalván é secretário ministerial associado da Igreja Adventista do Sétimo Dia para oito países sul-americanos.

Texto publicado originalmente na Revista do Ancião, edição de Janeiro-Março/2021.


Referências:

[1] Associação Ministerial da Divisão Sul-Americana, Guia para Anciãos, p. 20.

[2] Sergio Fritzler, El ofi cio pastoral: exposición bíblica e histórica del ministerio público de la iglesia, p. 195.

[3] No Guia para Anciãos, é descrito desta maneira: “A igreja reconhece os dons dos anciãos para liderança e os escolhe para este ofício”.

[4] W. E. Vine, Dicionário Vine, p. 856.

[5] Walter Alaña y Benjamín Rojas, Ministerio pastoral y educación teológica: Una perspectiva adventista, p 53.

[6] Alfred E. Tuggy, Lexico griego-español del Nuevo Testamento, p. 793.

[7] Bill Hull, The Discipline Making Pastor, p. 14.

[8] Entenda-se por expectadores os membros que assistem aos cultos sentados no banco.

[9] Bob Moffi tt, Evangelismo Sin Discipulado: El peligro de descuidar los mandamientos de Jesús (Spanish Edition). Edição do Kindle.

[10] Walter Alaña y Benjamín Rojas, Ministerio pastoral y educación teológica: Una perspectiva adventista, p 47.