Muito Além do Final Feliz
Uma história de amor que nasceu em meio à fragilidade da saúde mostra que Deus une propósitos que nem a dor consegue separar.

Um conto, mas não de fadas
Desde crianças, sonhamos com príncipes em cavalos brancos e princesas de vestidos impecáveis, como nos contos de fadas. Mas a vida real, tão cheia de surpresas, às vezes nos coloca à prova, especialmente quando a fragilidade bate à porta.
Num mundo onde a independência e a carreira ganharam status de prioridade, ainda assim o coração humano insiste em buscar alguém para dividir a vida. Deus nos fez para o relacionamento: Eva foi feita para Adão, e em cada um de nós há um desejo de amar e ser amado.
E mesmo sem cavalo branco nem vestido impecável, a história de Jeanny e Guilherme nos lembra que o amor verdadeiro nenhum filme de Hollywood supera.

O primeiro ato
Jeanny tem 38 anos e carrega em sua história uma força que poucos poderiam suportar. Aos 9 anos, foi diagnosticada com uma síndrome autoimune rara: seu próprio corpo a atacava, tornando cada aniversário um milagre.
Enquanto outras meninas sonhavam com festas e passeios, ela fazia do hospital sua casa: comemorava aniversários, estudava, aprendia a lutar. Foi lá que descobriu sua vocação pela enfermagem e sua paixão pelo artesanato, que preenchia o tempo entre as internações.
Mas mesmo entre agulhas, exames e salas frias, Jeanny não deixou de sonhar com o amor, e com o medo que sempre a acompanhou: “Quem me amaria assim? Quem aceitaria viver com uma bomba-relógio prestes a explodir?”
Ela cresceu, teve relacionamentos, mas nenhum deles trouxe a paz que o coração pedia. Até que, em 2018, mudou-se de Goiás para Ribeirão Preto, interior de São Paulo, sem imaginar que Deus lhe tinha preparado algo especial.
Foi em uma atividade jovem da Igreja Adventista que conheceu Guilherme, irmão do pastor Gustavo Linhares, que era capelão do Colégio Adventista e ancião do Ministério Jovem. Um empurrãozinho dos amigos fez os dois começarem a trocar olhares na vida real e likes nas redes sociais. Um convite para um lanche em grupo, depois um sorvete a dois, e o coração de Jeanny começou a bater mais forte.
Ela decidiu ser sincera: contou tudo sobre sua saúde e suas limitações. Mas, para sua surpresa, Guilherme já sabia. Tinha pesquisado, conversado com amigos, e não desistiria dela.


O príncipe encantado e a falência renal
Como se não bastasse a história de superação, Jeanny ainda enfrentou outro gigante: um erro médico elevou sua glicemia, e novos exames revelaram falência renal. O diagnóstico caiu como uma bomba: doença renal crônica em estágio terminal.
Guilherme acompanhou cada internação, cada medo, cada lágrima. Mesmo assim, dizia que a amava, e que Deus tinha um propósito naquela história.
Quando pediu Jeanny em casamento, ela colocou tudo às claras: “Eu vou precisar de hemodiálise, de transplante. Talvez eu nunca possa ter filhos. Vou precisar estar perto de hospitais. Você está pronto para isso?”
Guilherme não recuou. Ele a escolheu, com todas as suas cicatrizes, limitações e sonhos. E no dia 2 de fevereiro de 2020, disseram “sim” um ao outro, diante de um altar.


Amor em tempos de pandemia
Um mês depois, a pandemia chegou como um vendaval. Com tantas comorbidades, Jeanny era grupo de risco. O amor deles foi posto à prova de todas as formas: Guilherme precisou se isolar dentro da própria casa para protegê-la.
Dois meses após o casamento, Jeanny iniciou o tratamento de hemodiálise. A fase de adaptação foi difícil e a impedia de realizar atividades básicas. A mãe de Guilherme, que já morava perto, dava suporte ao casal, mas também foi necessário que a sogra viesse ajudar.
Foram dias e noites de luta, lágrimas e orações. Mas cada abraço contido e cada olhar cheio de cuidado fez o amor florescer ainda mais.
A prova de fé
Em 2021, Jeanny entrou na lista de transplante. Um ano se passou e nenhuma ligação. Até que um profissional indicou que ela precisaria de uma equipe especializada para seu caso: transplante duplo.
Em março de 2023, voltou à lista. E poucos dias depois, a tão sonhada ligação chegou, mas a compatibilidade não se confirmou. Foi um balde de água fria.
Cansada, Jeanny fez uma oração corajosa:
“Deus, eu sonhava com um príncipe, e o Senhor me deu. Mas eu não estou feliz assim. Não quero mais ligações que me façam sonhar à toa. Quando chegar a minha vez, que seja a ligação certa. Eu confio em Ti.”
Dias depois, em uma sexta-feira à noite, o telefone tocou. Era a ligação certa. Mala pronta, Guilherme ao lado, partiram para São Paulo. O último rosto que Jeanny viu antes da cirurgia, no dia 24 de junho de 2023, foi o de Guilherme, e o primeiro depois também.
O desafio final
O transplante foi um sucesso, mas poucos meses depois, veio a possível rejeição. Foram tratamentos intensivos, noites em claro e lágrimas de desespero. O risco de um novo transplante rondava como uma sombra.
Mas, num exame decisivo, o milagre aconteceu: embora debilitado, o pâncreas funcionava bem, produzindo insulina suficiente para ela seguir em frente.


Nova vida, novo enredo
Desde junho de 2024, Jeanny e Guilherme vivem o que chamam de “tempo de bênçãos” em um reavivamento espiritual. Ela voltou a servir ativamente na igreja. Ele se tornou funcionário da Associação Paulista Oeste, sede da Igreja Adventista na região. Eles carregam na história cicatrizes, mas também promessas. E cumprem, todos os dias, o propósito de amar, com verdade, entrega e fé.
Epílogo: Quando Deus une
Jeanny e Guilherme são prova de que o amor verdadeiro não é moldado pela ausência de problemas, mas pela presença de propósito. Quando Deus une dois corações, nenhum diagnóstico é obstáculo. Nenhuma estatística é limite. Nenhuma probabilidade é maior que o plano dEle.
