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O que sacrifícios e rituais do santuário significam para os cristãos hoje

O que sacrifícios e rituais do santuário significam para os cristãos hoje

Especialista explica, em detalhes, como tudo o que ocorria no santuário terrestre precisa ser compreendido atualmente.


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Arca da aliança que ficava dentro do santuário terrestre, palco de sacrifícios diários com um profundo significado para a compreensão sobre o plano de salvação. (Foto: Shutterstock)

A morte de Jesus Cristo é um episódio crucial para a compreensão do amor divino pela humanidade. Ao mesmo tempo, quando as pessoas se deparam com os livros de Levítico, Números e, no Novo Testamento, Hebreus, enxergam um cenário mais amplo desse amor. Os rituais, sacrifícios, ofertas, e tudo o que ocorria no santuário terrestre e que, conforme Hebreus, é algo estruturado a partir do modelo celestial, fala de um ministério de intercessão mais abrangente de Cristo.

Fomos entender, como Agência Adventista Sul-Americana de Notícias (ASN), mais sobre o assunto e conversamos com o doutor Roy Gane. Natural da Austrália, é professor de Bíblia Hebraica e Línguas do Oriente Médio Antigo do Seminário Teológico Adventista na Universidade Andrews, nos Estados Unidos. A especialidade do doutor Gane é lei bíblica, incluindo instruções para o sistema ritual israelita no santuário. 

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O que o santuário nos ensina?

Sistema de ofertas

De forma objetiva, o que o sistema de ofertas realizado no âmbito do santuário terrestre nos ensina em nosso contexto atual como cristãos? Lembrando que, segundo o Pentateuco, havia ofertas de gratidão, sacrifícios de animais de várias modalidades, inclusive para diferentes tipos de pecados.

O sistema ritual no santuário israelita ilustrou dramática e poderosamente como nosso amoroso Deus pôde salvar a nós, seres humanos pecadores, por meio do sacrifício do Cristo divino. Esta ilustração incluía vários elementos.

Primeiro, os sacrifícios de animais demonstravam o caráter de amor de Deus, que une justiça e misericórdia. Cristo morreu em nosso lugar e, dessa forma, animais sacrificados morreram no lugar de seus ofertantes para ilustrar Sua morte. Isso mostra que Deus é amor, porque Ele nos dá misericórdia com plena justiça, que exige a morte de todo aquele que pecar, ou seja, que violar Sua lei de amor altruísta. Esta pena de morte não é arbitrária, porque o amor verdadeiro é o único princípio com base no qual seres inteligentes com livre arbítrio podem coexistir sem destruir uns aos outros. Somente Cristo pode representar todos os seres humanos e morrer em nosso lugar porque Ele é Deus, Aquele que criou todos nós (João 1:3; Hebreus 1:2).

Um segundo aspecto é o de que elementos únicos de diferentes tipos de ofertas de sacrifício revelavam vários aspectos do único sacrifício de Cristo. Por exemplo, toda a carne de um holocausto era queimada (Levítico 1), pois o sacrifício de Cristo o consumiria (Hebreus 7:27 – “a si mesmo ofereceu”, isto é, tudo de Si mesmo). Aqueles que ofereciam ofertas de bem-estar (sacrifícios pacíficos segundo Levítico 3) cozinhavam e comiam a maior parte da carne (Levítico 7:15, 16). E obtinham, assim, nutrição física de seus sacrifícios, enquanto o sacrifício de Cristo nos fornece nutrição espiritual para a vida eterna (João 6:51-58, 63). Um sacerdote colocava o sangue vital de uma oferta de purificação (chamada “oferta pelo pecado”) nos chifres do altar (por exemplo, Levítico 4:25, 30, 34), destacando, assim, o sangue que resgata a vida (Levítico 17:11), apontando para o resgate pelo sangue de Cristo (Apocalipse 5:9).

Rituais e relacionamento

Mas esses rituais falavam, também, do relacionamento das pessoas com Deus, certo?

Sim, os diferentes rituais do Antigo Testamento ilustravam várias maneiras pelas quais podemos nos relacionar com Deus. Por meio deles, as pessoas faziam alianças com Deus, agradeciam a Ele pelas bênçãos que Ele lhes dava, O louvavam, mantinham Sua presença com elas e recebiam a remoção da culpa por vários tipos de pecados. Isso incluía pecados relativamente “menores” (por ofertas de purificação como em Levítico 4:1-5:13), pecados envolvendo sacrilégio (por ofertas de reparação/“culpa” conforme Levítico 5:14-6:7) e outros pecados (por holocaustos de acordo com Levítico 1:4).

Mas agora, pela fé na morte sacrificial de Cristo e na Sua mediação por nós, podemos realizar essa conciliação com Deus por meio da oração. O fato de alguns sacrifícios israelitas serem para louvar a Deus (Levítico 7:12-16) nos lembra que nosso louvor a Ele é aceitável por causa da morte e mediação de Cristo. Veja, por exemplo, o caso dos sacrifícios para purificar impurezas rituais físicas de cadáveres, doenças de pele e fluxos genitais, indicados em Levítico 11-15 e Números 19, que representavam o estado humano de mortalidade resultante do pecado (compare com Romanos 6:23). Eles demonstravam que Cristo não morreu apenas para nos perdoar de nossas ações e pensamentos pecaminosos, mas, também, para nos libertar de nosso estado físico de mortalidade e nos dar a vida eterna (João 3:16).

Sangue

Outra questão é a do sangue nos serviços. Sabemos que os sacerdotes espargiam muito sangue em utensílios e peças, tanto na época do santuário móvel quanto no período em que os ofícios aconteciam no templo. Havia transferência de sangue para os sacerdotes e para o templo nos rituais diários? O que isso nos diz?

Somente as ofertas de purificação (ofertas pelo pecado) transferiam alguma contaminação de pecados e impurezas rituais físicas para o santuário e culpa para os sacerdotes. As ofertas de purificação removiam a culpa dos pecados “menores” e a impureza residual das principais impurezas físicas.

De acordo com Levítico 6:27 (no hebraico, verso 20), o sangue de uma oferta de purificação que respingava na roupa (do sacerdote ou ofertante) deveria ser lavado em um lugar santo (o pátio do santuário). Isso indicava que o sangue carregava alguma contaminação que foi removida do ofertante. Assim, quando o sacerdote colocava um pouco de sangue do mesmo animal nos chifres do altar, o local recebia alguma contaminação. Além disso, de acordo com Levítico 10:17, quando um sacerdote que oficiava uma oferta de purificação comia a carne do sacrifício, ele carregava a culpa (geralmente traduzida como iniquidade) que o ofertante/pecador havia carregado (Levítico 5:1) antes que o sacrifício o removesse dele. Assim, as ofertas de purificação ilustram de maneira única a forma como Deus leva nossos pecados e impurezas ao Seu santuário por meio do sacrifício e da mediação sacerdotal de Jesus Cristo.

Deus, como juiz, perdoa pecados. Mas um juiz deve justificar o inocente ou condenar o culpado (Deuteronômio 25:1; 1 Reis 8:32), e não perdoar o culpado. Então, quando Deus perdoa os pecadores, Ele assume a responsabilidade (compare com 2 Samuel 14:9). Essa responsabilidade é representada pela contaminação simbólica de Seu santuário, que é o local de Sua administração e, portanto, representa Seu caráter. Contudo, Deus é justo quando justifica/perdoa aqueles que têm fé em Jesus (Romanos 3:26).

Assim, no Dia da Expiação, a contaminação do santuário de Deus era removida dele por ofertas especiais de purificação. Ocorria quando os israelitas mostravam sua lealdade a Deus, representando sua fé no sacrifício vindouro de Cristo, humilhando-se por meio da abnegação (jejum etc.) e guardando o sábado, abstendo-se de todo trabalho (Levítico 16). Assim, o Dia da Expiação era o “dia do julgamento” de Israel, prefigurando e ensinando sobre o julgamento do tempo do fim (Daniel 7:9-14), quando o santuário de Deus no Céu será purificado (Daniel 8:14). Porque Sua justiça em salvar pessoas pecadoras, mas perdoadas e leais, e em condenar pessoas desleais, será justificada. As três mensagens angélicas, proclamadas quando o tempo do juízo final de Deus chega, são os chamados finais de Deus para que as pessoas aceitem a salvação transformadora que Ele oferece por meio de Cristo, e sejam leais a Ele, para que Ele possa salvá-las (Apocalipse 14:6-12).  

Intercessão e mediação

A intercessão e mediação de Cristo no santuário não seriam uma espécie de complemento ao sacrifício na cruz? Como devemos entender o tema da intercessão à luz da salvação?

A morte de uma vítima animal era apenas o início do sacrifício em Levítico. Aplicar seu sangue no altar e colocar todo ou parte de seu corpo sobre o altar eram partes essenciais do sacrifício realizado pelo sacerdote como mediador do ofertante. Somente quando isso era concluído, era possível dizer que o sacerdote efetivava a remoção (geralmente traduzida como “fez expiação”) pelo ofertante (por exemplo, Levítico 4:26, 31, 35).

Assim, a mediação sacerdotal não era uma fase separada ou um complemento após o sacrifício; mas parte do sacrifício. Isso ensina que Cristo, como nosso Sumo Sacerdote, deve mediar por nós aplicando Sua morte sacrificial de “uma vez por todas” (Hebreus 9:26) aos nossos casos individuais, como Hebreus 9:13, 14 indica. Essa mediação é uma parte contínua de Seu sacrifício e é essencial para nossa salvação. Toda expiação começou na cruz, mas nem toda expiação se encerra na cruz.

Vida espiritual

Que aspecto do serviço do santuário mais o toca em sua vida espiritual?

Fico muito impressionado e tocado pela maneira como o ensino bíblico do santuário revela o caráter de amor de Deus, que inclui justiça e misericórdia. Ele quer habitar entre o Seu povo, mesmo que sejam pecadores. Por meio do sacrifício e do julgamento, Deus dá livremente plena misericórdia plena justiça para que nós e todos os seres humanos possamos confiar Nele para sempre. Os diferentes tipos de sacrifícios de animais nos ensinam sobre as múltiplas realizações surpreendentes do único sacrifício de Cristo. O que mais me tocou emocionalmente foi João 20:17, onde Jesus disse a Maria Madalena, logo após Sua ressurreição: “Não me detenha, porque ainda não subi para o meu Pai”.

Jesus não havia completado totalmente Seu sacrifício ao ascender ao Céu para ser aceito por Seu Pai, assim como a fumaça subia de um holocausto (Levítico 1:9), cujo nome em hebraico (‘olah) significa “ascendente”. Assim, Jesus interrompeu Seu sacrifício pelo mundo inteiro para consolar Maria, que compreendia de maneira única Sua missão de salvar pecadores como ela. Jesus se preocupa não apenas em fornecer justificação legal por meio de Seu sacrifício; Ele também se preocupa com os sentimentos humanos!


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